Cotai, o aterro que juntou as ilhas de Coloane e da Taipa é a imagem da nova Macau, grandes hotéis e casinos, a cidade que fatura mais não só do que Las Vegas mas todo o Estado do Nevada!

O automóvel continua a ser um fascínio para as gentes dos cinco cantos do mundo. E continua a dizer muito sobre as sociedades e a sua qualidade de vida. Por isso, aceitamos como boa a ideia de que o parque automóvel é um bom retrato da capacidade financeira de um país, de uma cidade.
Montra de vaidades, também através daquelas máquinas que, entre nós, vemos mais nos filmes do que nas ruas, o automóvel de luxo é uma realidade em crescendo, sobretudo nos mercados emergentes e naqueles países onde foram abertas as portas a novas realidades.
É normal que possa ver-se um Bugatty Veyron na emblemática Sunset Boulevard, entre a vulgaridade dos Porsche ou da surpresa de um Fiat 500, regra geral Abarth. Afinal, Hollywood está ali tão perto, Rolls e Bentley, de preferência descapotáveis, andam longe da fantasia, Mercedes e BMW são “ao pontapé” – e Los Angeles é que é: o perfume do dinheiro.
Ainda nos States, a atraente Ocean Drive de Miami, com os seus hotéis de ar retro, é outro palco de ostentação para delícia dos olhos. A paisagem motorizada muda pouco. Ver um Lamborghini Huracán não surpreende, Ferrari há muitos, abundam os Teslas, e, claro, são aos magotes aquelas americanices com quatro rodas que parecem saídas de uma qualquer série televisiva.
Na Rússia, guardo a imagem da parada dominical, de fim de tarde, pela gigantesca Nevsky Prospekt. As coisas assumem outra solenidade, há um culto diferente, frio como o país e as gentes, o desfile é ao ritmo dos grandes compositores russos. Mas ver um Maserati Stradale na cidade do Hermitage é coisa de que não se está à espera. Até porque o estilo é outro e ninguém esquece a imagem de um Maybach sujo como um chaço, estacionado à porta de um prédio decadente.

Em 2014 havia em Macau 1062 daqueles automóveis que consideramos de exceção. A saber: 523 Bentley, 250 Rolls Royce, 158 Maserati, 131 Ferrari.

A pequena Macau, à qual sempre nos sentiremos ligados, é dos retratos mais marcantes que podem guardar-se sobre o fascínio do automóvel e da força da sua imagem. Cidade inacreditável, cresce todos os dias, e cresce tanto que os 16 km2 do território que esteve 500 anos sob administração portuguesa são hoje 30. Nem admira que os chineses consigam ganhar ainda mais território ao mar.
A cidadezinha que tinha um Grande Prémio famoso por se disputar em circuito urbano e onde correram nomes da história do automobilismo e do motociclismo, que o jogo e um par de casinos ajudaram a crescer, rivaliza com Las Vegas e já supera em sete vezes as receitas dos casinos da capital do Nevada. Vê-se que é uma questão de tempo, tal é a capacidade que se respira. Hotéis fantásticos, e mais a crescer dignos de cinema, e mais que se adivinham, todas as grandes cadeias, prédios fantásticos, condomínios luxuosos, opulência – é o luxo asiático na expressão de grandiosidade que tem por palco o Cotai, aterro que ligou Coloane e a Taipa.
Tudo isto se transpôs para o parque automóvel, outro verdadeiro luxo. Ora atente-se nisto: em 2014 havia em Macau 1062 daqueles automóveis que consideramos de exceção. A saber: 523 Bentley, 250 Rolls Royce, 158 Maserati, 131 Ferrari. Obviamente, não falta a representação de toda a gama Porsche, BMW, Mercedes e Audi em profusão, os bons desportivos japoneses.
Tudo isto num território com 425 quilómetros de estradas e mais de 115 mil automóveis e 124 mil veículos de duas rodas (pequenas aceleras na maioria), 1500 autocarros e quase 1100 táxis, onde o trânsito é caótico, não se pode circular a mais de 80 km/h, e o melhor é aproveitar os transportes públicos a 30 cêntimos ou, pura e simplesmente, andar a pé, o que também não se afigura fácil porque, lirteralmente, “tropeçamos” nos turistas, “despejados” aos milhares diariamente na cidade. A rotação nos hotéis impressiona, as caras são outras todos os dias ao pequeno almoço. E os hotéis são cada vez mais e as taxas de ocupação esmagadoras.
Até vai haver um metro de superfície suspenso, mas quem não acredita que continuará a crescer o parque automóvel e a serem em número crescenteaqueles carros de arregalar os olhos?
O automóvel é, de facto, um “objecto” muito especial, a jóia que todos gostam de usar, mas apenas alguns lhes juntam grandes diamantes…

Há sempre uma primeira vez
Em Macau, claro, há um stand da Rolls Royce. Fica no centro da cidade, tem um balcão com duas meninas, elegantes e impecavelmente vestidas de negro, que “arranham” o inglês e estão sentadas atrás de um imponente Phanton II, chassis longo é claro, que aqui o tamanho importa – o espaço fica quase integralmente preenchido com o imponente automóvel e o balcão das duas meninas.
Jeans, sapatos de vela, polo (cabelo branco…) entro e digo ao que vou. Quero saber quanto custa um Rolls?, quantos se vendem?, o costume. Elas não percebem… E com o ar mais cândido do mundo, enchem-me o ego com a mais inesperada das perguntas: “Quer comprar o carro?”
Tenho de me rir, claro, insisto na pergunta e mostro a minha carteira profissional para ajudar no diálogo.
“Ah, Press, you are journalist!”, dizem naquele inglês muito musical das asiáticas. E riem as duas, riem muito.
O “boss” está em Hong Kong mas têm todo o gosto em dizer-me que se vendem aqui qualquer coisa como 20 Rolls Royce por ano, muitos para os hotéis que têm frotas para ir buscar os VIP ao aeroporto ou aos helicópteros, pois não devem ser gente para viajar no jetfoil, mesmo em 1.ª classe, penso eu.
Então, e quanto custa? Bom, qualquer coisa como cinco milhões de patacas menos uns trocos, o mesmo que dizer 563 mil euros!
E já nem falam da fantástica encomenda dos 30 Rolls Royce Phanton comprados pelo empresário Stephen Hung para a frota do superluxuoso Hotel 13, um negócio que tem lugar nas grandes estórias da história da renomada marca britânica. O excêntrico multimilionário mandou pintar todos os carros de vermelho (Stephen Red, diz a RR), a cor da sorte no território, e para se conseguir o tom desejado foram precisas dez camadas de tinta e partículas de ouro de 23 quilates… A mesma cor foi aplicada nas madeiras do interior, onde nem falta uma faixa axadrezada nos bancos traseiros para lembrar o cenário da entrada do hotel. Para fazer a diferença há ainda um relógio do joalheiro britânico Graff (ver vídeo).
A Rolls não está sozinha, nas traseiras fica a Porsche e aí está representada a gama quase toda.
Fui só ver os preços: 1,7 milhões de patacas, ou seja quase 198 mil euros por um Carrera 4. Deve ser por isso que são menos do que os Ferrari…