O BMW mais caro do mercado está avaliado em qualquer coisa como 25 milhões de euros e não se encontra à venda. É um M1 dos anos 70, correu em Le Mans, mas nem sequer é importante pelos resultados desportivos. Aquilo que distingue advém do facto de ter sido pintado por uma lenda da Pop Art, o norte-americano Andy Wharol.

Foi a quarta “peça” numa colecção que nasceu há 36 anos e junta 17 automóveis tão especiais que têm corrido museus por todo o mundo, incluindo o Louvre e os Guggenhein de Nova Iorque e de Bilbao. Há um par de anos, estiveram todos em “casa” – à excepção de uma instalação de gelo da autoria do nórdico Olafur Eliasson –, no museu da BMW em Munique, junto à célebre torre dos quatro cilindros erguida no complexo olímpico, zona que recebe as instalações centrais da marca e “esconde” uma fábrica ainda em actividade no centro da cidade bávara.

O M1 de Andy Wharol é a “peça maior” da colecção e tem uma história curiosa: a BMW rejeitou as duas primeiras propostas apresentadas pelo artista, produzidas na célebre Factory, o estúdio do mestre da Pop Art, em Manhattan. Primeiro, a maqueta de um “velho” 320 a que o artista não poupou sequer a tinta nos vidros, opção pouco adequada a um modelo destinado à competição. Depois, já um M1 que recebeu uma pintura a sugerir camuflado militar, solução igualmente posta de lado, ao que consta, pela associação belicista que a marca terá considerado desadequada.
Perante as recusas, Andy Wharol optou por desafio diferente: pediu um bilhete de avião e prontificou-se a pintar o carro em Munique. O repto foi aceite por Hervé Poulain, o francês apaixonado pelos automóveis – ele próprio correu – e pela arte, o qual pode considerar-se o pai desta colecção tão especial.

Wharol (…) usou o pincel com movimentos exagerados, parecendo um bailarino que olhava a maqueta e transpunha as cores para o automóvel real

O M1 que correu as 24 Horas de Le Mans de 1979 – foi 6.º na geral e 2.º na classe – acabou por ser pintado em cerca de meia hora (28 minutos, reza a história), tão pouco tempo que a televisão avisada da curiosidade nem chegou a tempo de registar imagens do artista em acção. Elas existem, no entanto, e podem ser vistas aqui e no Youtube, onde encontra uma série de curiosas produções.

Andy Wharol pintou o M1 em 28 minutos, tão depressa que nem a televisão chegou a tempo

Poulain recordou a cena e contou – como se evoca na história da colecção editada pela BMW – que Wharol tinha o modelo numa mão e o carro na outra… usou o pincel com movimentos exagerados, parecendo um bailarino que olhava a maqueta e transpunha as cores para o automóvel real. Uma e outra nem são exactamente iguais, deixando perceber que o artista continuou a criar sobre o modelo final.
O resultado é bem mais espectacular do que as imagens podem sugerir. Ao vivo, o M1 é um portento de cor, que foi elogiado por outros artistas, como é o caso de Frank Stella, autor de outro dos art cars, segundo o qual é difícil injectar num automóvel tamanho “senso de confusão”. Sandro Chia, mais um dos artistas envolvido na colecção, considera até o BMW de Wharol melhor do que a generalidade da obra do mestre da Por Art…
O M1! voltou às pistas 30 anos depois, numa acção promocional associada ao Grande Prémio da Alemanha, em Hockenheim.
A colecção nasceu em 1975, o norte-americano Jeff Koons, que já trabalhou com recurso ao computador e utilizou uma solução autocolante, permitindo a hoje natural substituição de partes da carroçaria sem problemas, foi o mais recente convidado. O curador do museu disse-nos em Munique que é natural o enriquecimento do espólio, com obra a cargo de um artista chinês. Quem será, ficou por saber…
O norte-americano Alexander Calder, um dos mais proeminentes escultores do seu tempo, pintou, em 1975, o belísssimo BMW 3.0 CSL que deu início à colecção. Seguiram-se os seus compatriotas Frank Stella e Roy Lichtenstein, os quais se limitaram a pintar maquetas que o “Dior da Pintura”, o alemão Walter Maurer, aplicou nas dimensões reais de mais quatro art cars.
Foi preciso esperar por 1982 para encontrar um europeu na colecção, o austríaco Ernst Fuchs. Japoneses (Matazo Kayama), australianos (Michael Jagamara Nelson e Ken Done), espanhóis (César Manrique), alemães (A.R. Penck), sul-africanos (Esther Mahlangu), italianos (Sandro Chia), ingleses (David Hockney), dinamarqueses (Olafur Eliasson) e mais norte-americanos (Jenny Holzer e Jeff Koons) estão representados na colecção cujos automóveis têm dado a volta ao mundo e são uma bandeira da BMW.

Entretanto já se juntaram à lista de “autores” dos BMW Art Cars John Baldessari e Kao Fei. E a saga promete continuar.

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