O Nissan Micra justifica algumas palavras com recurso à memória: é um modelo com longa e importante história. Foi o primeiro automóvel japonês a conseguir o título de Carro do Ano Internacional (1993) – distinção que a marca só voltou a conquistar com o Leaf (2011) – e assinala, de forma inequívoca, o reconhecimento da capacidade da indústria automóvel japonesa na Europa, em termos técnicos, tecnológicos e criativos
Nasceu em 1983, ainda com emblema Datsun na Europa, e em condições curiosas. Quando as formas dos carros japoneses eram vistas, deste lado do mundo, como muito datadas, a Nissan, empenhada em dar mais vigor à sua ofensiva no Velho Continente, recorreu a um dos grandes estilistas europeus, o italiano Giorgietto Giugiaro e foi este quem assinou o design do carro. Pela mesma altura, era ele também o responsável pelo Fiat Uno e especulava-se que o Micra, até dadas algumas parecenças, devia ter saído dos vários projetos do mesmo pacote… Já havia destas coisas!
Fosse como fosse, nascia uma estrela – o modelo da primeiro geração era um excelente produto; a segunda valeu o título –  e esta evocação de tempos que já parecem pré-história de um modelo que entrava então na família do que se chamavam superminis, serve apenas para relevar a importância do Micra e admirar com apreço a sua quinta geração, até por tudo quanto entretanto se passou com o modelo nos últimos 20 anos.

Interpretação conseguida das novas formas da família Nissan

Qualidade invulgar
A um milímetro dos quatros metros, o maior, mais largo e mais baixo Micra de sempre, tem estampada a nova identidade familiar em formas que, apesar disso, lhe conferem personalidade marcante. Mais, a carroçaria vistosa, chamativa, sugere uma robustez invejável e confere-lhe uma postura em estrada que inspira segurança. Olhando para trás, constitui evolução imensa e nem é preciso abrir a porta para pensarmos com os nossos botões: “como tu cresceste, Micra!”

A carroçaria vistosa, chamativa, sugere uma robustez invejável e confere-lhe uma postura em estrada que inspira segurança

No interior, a surpresa é imediata. ”O que é isto?” – penso em nova conversa com os meus botões. Um tablier forrado, materiais de dois tons, toque agradável mesmo nos plásticos, remates pespontados, uma qualidade percebida que nos remete para oferta pouco comum a este nível. E tudo se projeta na consola, nos forros das portas, na combinação de cores dos bancos. Invulgar, no mínimo. Foi opção assumida superiormente e que se paga com aquilo que parece incongruente na imagem: os vidros traseiros não são elétricos! A tese é que esses vidros pouco se utilizam. Bem vistas as coisas, mesmo que custe admitir, os responsáveis da Nissan Europe estão certos. E o condutor agradece aquela opulência que distingue o Micra da maioria.
E o espaço? Ora crescendo na distância entre eixos, +75 mm (2,525m), a habitabilidade é melhor na traseira, ao nível do espaço para as pernas, não tanto no que respeita à altura: o formato descendente do tejadilho penaliza os passageiros mais altos que também poderão queixar-se do acesso. Em termos de largura, é claro que só pode falar-se em comodidade com dois adultos no banco traseiro. À frente, não há choques de cotovelos entre o condutor e o “pendura”. A posição de condução é agradável e as regulações são as suficientes para nos sentirmos bem. Quanto à mala, os 300 litros de capacidade não vão além da mediania, quando na concorrência há ofertas já na casa dos 350 litros.
Sabor a pouco
Em termos dinâmicos, insistimos no três cilindros a gasolina, a opção que, do nosso ponto de vista mais sentido faz num automóvel deste género. E no caso a versão com turbocompressor a valer 90 cv e o binário de 140 Nm. Com uma caixa manual de cinco velocidades e relações longas, não pode esperar-se um carro de grande genica. Aliás, as prestações falam por si, quando se olha ao que disponibilizam motores semelhantes: 175 km/h e 12,1 segundos de 0 a 100. De todo o modo, o binário contribui para eu se reconheça alguma generosidade e um comportamento interessante nos baixos regimes. Mas fica algum sabor a pouco num “pacote” tão bem embrulhado.
O comportamento em curva e a relação entre a eficácia da suspensão e o conforto está uns furos acima e contribuem para que se guarde uma imagem equilibrada de um Micra que, fica provado, tem capacidade para muito mais.
No que respeita a consumos, já se sabe que os três cilindros, no caso bem insonorizado e com boa nota no capítulo das vibrações, não se mostram particularmente brilhantes, mas o Micra está, sem dúvida, entre os melhores.
Oferta rica
A versão que guiámos foi o Tekna, topo de gama, obviamente muito bem recheado, um pacote tecnológico invejável, o que sempre ajuda na imagem global. Navegação, sistema anticolisão, faróis inteligentes, sistema de manutenção de faixa, faróis de nevoeiro, sensores de chuva, detetor de ângulo morto, câmara traseira, vidros escurecidos – é um pacote atrativo a justificar um preço elevado para a maioria das bolsas que apontam para um carro deste segmento. E ainda existe um interessante, variado e tentador pacote de personalização. Coisas que se pagam e se dispensam, pelo menos, poupando 2800 euros… Mas lá que faz a diferença, não há dúvida.
Ficha técnica
Motor: 3 cilindros, 898 cc, turbo, injeção multiponto, start/stop
Potência: 90 cv/5500 rpm
Binário máximo: 140 Nm/2250 rpm
Transmissão: caixa manual de 5 velocidades
Aceleração 0-100: 12,1 s
Velocidade máxima: 175 km/h
Consumos: média -3,7 l/100; estrada – 4,4; urbano – 5,6*
Emissões CO2: 99 g/km*
Mala: 300 l (c/roda de emergência)
Preço: 18 200 euros (versão base desde 15 400 euros)
*Valores com jantes de 16 polegadas