Dei comigo a pôr-me uma questão que, há uns anos, considerava impensável: compravas um Toyota Prius? E mais surpreendido fico quando tenho de responder-me com outra interrogativa: e por que não? Em 20 anos mudou muita coisa… E muito mais vai mudar – depressa!

Tornei-me adepto confesso da solução híbrida, nesta altura em que nos pintam um futuro radicalmente diferente para o automóvel. Continuo a gostar, a gostar muito de conduzir, continuo a considerar que é muito cómodo e económico guiar um diesel e fantástico poder ser dono de um V6 a gasolina. Mas a paixão do automóvel não impede que se atente ao lado racional das coisas e, desse ponto de vista, o Prius é um produto marcante. Sem dúvida!

Ora, para comprar um Prius teria de habituar-me à ideia de ser proprietário de um automóvel que ainda é datado nas formas – tem estampado que é japonês e híbrido –, mesmo que hoje muito mais pacífico, mais conseguido, mesmo não sendo, obviamente, consensual. Por exemplo, aquela asa a meio do óculo traseiro, que rouba visibilidade, era mesmo necessária?

Teria de vencer as minhas objeções em relação às caixas de variação contínua, sobretudo pela  sonoridade do seu funcionamento e aquela sensação de arrasto do automóvel que me faz confusão, sobretudo quando hoje há caixas automáticas tão evoluídas, sejam de dupla embraiagem ou convencionais. Pelo vistos, problema só meu, quando se atende ao que vende o Prius no mundo inteiro.

Teria de vergar-me àquele complexo do travão de mão no… pé, dispensável com a proliferação das soluções elétricas e que entendo concessão ao conservadorismo dos norte-americanos, que levou até outros construtores a seguir o exemplo.

Teria de engolir vários sapos vivos, mas teria, também, uma defesa fortíssima e que assentaria no mais simples e forte dos argumentos: não estou a fazer uma compra racional? Estaria, com certeza! E a experiência ao volante não deixa a mínima dúvida.

A verdade é que o Prius até nos desafia a poupar, a seguir atentamente toda a informação que nos permite rentabilizar a sua utilização em termos de eficiência

É fácil explicar. “Peguei” num Prius Plug-in, tecnologia em que a Toyota também é pioneira, e, sem grandes peocupações, fiz 45 quilómetros no modo elétrico, guiando em percurso suburbano ao ritmo do tráfego. Entrei em Lisboa e, quando estacionei, com cerca de 77 quilómetros percorridos, a média registada no computador de bordo era de 1,9 litros aos 100!

No dia seguinte, sem recarregar, percorri  124,5 quilómetros, entre Lisboa e Setúbal, na autoestrada, cruise-control adaptativo ligado nos tais números que não causam problemas, fiz  ligeira incursão pela  Arrábida, debaixo de chuva,  e o consumo foi de 4,5 litros aos 100.

Num percurso citadino em Lisboa, bem sei que ao domingo, sem trânsito, mas também sem quaisquer problemas de poupar, registei 6,2 L/100. E fiquei com a certeza de que conseguia melhor se prolongasse a viagem. E melhor ainda se tivesse podido recarregar a bateria.

Enfim, nos derradeiros 108 quilómetros, sempre no modo híbrido (autoestrada, estradas secundárias e um experiência de exageros daqueles para que o Prius não está fadado), o computador de bordo deu nota da média de 4,8 litros aos 100!

Na despedida, somava 425,1 quilómetros e tinha autonomia para mais 549 num ritmo que, estou convencido, até ía além daquele que a maioria dos condutores adota nas estradas portuguesas!

Não convence? Pelo menos não dá que pensar? E mais ainda se considerarmos que não fiz aquilo que valoriza o Plug-in: nunca o recarreguei? Esse poderá ser outro problema para quem não tenha uma garagem, viva num edifício de apartamentos e não disponha de um posto de carregamento perto de casa… Para esses, o Plug-in, que me convenceu, não será a solução. Mas os valores de consumo são esclarecedores para quem não queira dar o “último” passo e opte pelo Prius Hybrid.

Quanto a dinâmica, no mínimo um carro honesto em curva, compromisso interessante entre a eficácia e o conforto, mas sempre com uma significativa almofada de segurança, comprovada na situação de exagero a que não deixei de o submeter. Quando se lhe pede que seja “engraçado”, o Prius tem alguma preguiça, é lento a recuperar e nem faz jus à potência  anunciada e aos valores de binário. É vulgar! Aliás, as prestações são esclarecedoras -11,1 segundos de 0 a 100 e 162 km/h em velocidade de ponta. Mas alguém compra um Prius para fazer corridas? A verdade é que este Toyota até nos desafia a poupar, a seguir atentamente um manancial de informação que nos permite rentabilizar a sua utilização em termos de eficiência.

E para isso há três modos de condução (Normal, Eco e Power) e mais quatro de propulsão (HV,EV, EV City e carga da bateria).

Tudo dito? Claro que não!

A suspensão, apesar da suavidade, ressente-se nos maus pisos e nessa situação até ouvimos alguns “grilos” no tablier. Surpreende porque a construção, mesmo aligeirada, até convence (basta bater com uma porta!), não se nota qualquer problema de rigidez torcional, e os materiais, a qualidade percebida no interior e a convincente montagem são um facto. A comodidade dispensa comentários. A posição de condução é agradável, os bancos são confortáveis e com razoável apoio lateral, o espaço ajustado, e significativo atrás, aceitando que um carro do estilo é um quatro lugares – só há dois bancos, separados por um excelente apoio de braços. Por fim, a mala tem se considerar-se pequena (191 litros), as baterias roubam espaço, e o único fundo falso guarda os cabos para o carregamento. O rebatimento dos bancos é fácil, mas ganha-se menos do que habitualmente se espera.

Entre virtudes e defeitos, uma experiência ao volante do Prius não deixa dúvidas sobre as razões que justificam ser este o híbrido que já vendeu 3,9 milhões de unidades. E estas coisas, quando se trata de automóveis, não são fruto do acaso…

A  versão ensaiada foi a Powersky, que tem um nível de equipamento significativo, incluindo, designadamente, o teto solar (valerá mais 1000 km em modo elétrico por ano), sensores de chuva e luz, “smart entry” e botão de ignição, cruise control adaptativo, câmara de estacionamento, luzes diurnas e faróis automáticos em LED e grupos óticos traseiros na mesma tecnologia, faróis de nevoeiro, reconhecimento de sinais, navegação, jantes de 15 polegadas em liga leve. Custa 43 380 euros e mais 540 euros com pintura metalizada.

FICHA TÉCNICA

Toyota Prius Plug-In Hybrid

Motor: 1798 cc, injeção

Potência: 98 cv

Binário máximo: 142 Nm/3600 rpm

Bateria híbrida: iões de lítio, 25 Ah (95módulos)

Motor elétrico: síncrono, magneto permanente, 600 v

Binário máximo: 163 Nm

Transmissão: caixa de variação continua

Aceleração 0-100: 11,1 s

Velocidade máxima: 162 km/h

Consumo: média –  1/100 L/km

Emissões CO2: 43 g/km

Autonomia elétrica: 63 km

Tempo de carga: duas horas num posto normal;  190 minutos numa tomada de 220 v

Bagageira: 191 litros

Garantias: três anos ou 100 000 km; sistema híbrido – garantia renovada até ao 10º ano, desde que respeitada a manutenção (um ano ou 15 000 km)

Preço: desde 41 380 euros (empresas: 30 125 euros)