Serão modestos os objetivos europeus da Lexus: 100 mil automóveis em 2020. Mas o caminho tem sido exemplar. E crescer mais de 30 por cento em três anos sem motorizações Diesel, sem modelos elétricos, apostando apenas nos híbridos e na gasolina para vender estatuto e luxo tem que se lhe diga. Vamos ver, lembrando que por detrás há um colosso chamado Toyota.

Há momentos que não esquecemos. E para quem, por motivos profissionais, acompanha há muito tempo o mundo automóvel o lançamento de uma marca forma imagem que perdura. A Lexus é um dos emblemas que conheci na sua primeira hora na Europa. E aquilo que ficará para sempre na minha memória foi o que, na altura, na confusão do “assalto” à novidade, próprio destes acontecimentos há 30 anos, se quis logo ver no emblema associado à pretensão de marcar a capacidade da Toyota para rivalizar com os melhores do mundo: a tentativa de mostrar uma espécie Mercedes japonês, e isso por saltarem à vista aquilo que os jornalistas consideravam parecenças óbvias, sobretudo através da interpretação da grelha, muito europeia, e da “quadralização” das formas a que as dimensões davam expressão.

Eiji Toyoda, o hitórico presidente da Toyota, teve a ideia de criar uma segunda marca em 1983, engajou um exército de especialistas no projeto (só engenheiros foram 1400 e havia mais 2300 pessoas envolvidas), construíram-se cerca de 400 protótipos (!)

Havia algumas semelhanças, sobretudo porque o LS 400 parecia pouco americano e esse tinha sido o seu destino e objetivo primeiro, mas a imagem, à distância de quase três décadas e olhada a concorrência da altura, parece conter algum exagero. Havia a tentação de considerar que os japoneses corriam ainda atrás do estereótipo europeu do premium e da ostentação norte-americana, com expressão maior nos Cadillac e Lincoln (objetivamente referenciadas na altura)…  Afinal, queriam uma marca que fosse referência ao nível das melhores do mundo!

Ora, a verdade é que estavam essencialmente preocupados com o mercado estado-unidense, onde se instalavam em força, por obrigação da própria legislação. Eiji Toyoda, o hitórico presidente da Toyota, teve a ideia de criar uma segunda marca em 1983, engajou um exército de especialistas no projeto (só engenheiros foram 1400 e havia mais 2300 pessoas envolvidas), construíram-se cerca de 400 protótipos (!),mas, pelos vistos, era segredo mal guardado. A Honda antecipou-se, em 1986, com o lançamento da Acura, e três anos depois, quando foi lançada a Lexus, a Infinity surgia como resposta quase simultânea da Nissan a projeto semelhante… Nenhuma, porém, chegou ao patamar da Lexus.

Coincidências

Como é difícil acreditar em coincidências a este nível, e sobretudo numa altura em que a espionagem industrial ainda tinha aquela envolvente de mistério própria dos tempos, nem vale a pena alimentar a discussão sobre quem se antecipou a quem na nova face da corrida nipónica pela afirmação nos Estados Unidos. Corrida como se sabe ganha e hoje sustentada com a mesma resistência da escola de grandes maratonistas do país do sol nascente. Depois das três pickups dos grandes construtores das terras de Trump e quando se fala de automóveis, os dez mais vendidos são japoneses!

Neste quadro, a Lexus surge em 1989 nos salões de Los Angeles e Detroit e, para se perceber claramente a preocupação maior dos japoneses, no ano seguinte chegou à Europa – o que significa ter sido no Salão de Paris a estreia presenciada – e só em 1996 começou a ser comercializada em terras nipónicas.

Recordar tudo isto serve para valorizar o caminho de persistência percorrido. A Toyota chegou onde se sabe, fez apostas que muitos puseram em dúvida e hoje lidera a tecnologia dos híbridos, os quais vende como mais ninguém, e está na primeira linha dos automóveis a hidrogénio. E deu-se até o luxo, num momento de dúvidas quase generalizadas quanto ao futuro das motorizações para o automóvel, de prescindir desde já do Diesel, ao contrário, pelo menos, de europeus e sul-coreanos.

Influências

A Lexus criou em 30 anos uma imagem que não deixa dúvidas e hoje ninguém será capaz de dizer tratar-se de marca influenciável, ainda que possa admitir-se a germanização de alguns pormenores – no defletor traseiro, por exemplo. Curiosamente, no entanto, há também algumas soluções estéticas que vemos desenvolvidas na concorrência, sobretudo ao nível das proeminentes entradas de ar dianteiras. Há uma grande escola de design no Japão, convém recordar.

Tudo isto desfilou à minha vista na apresentação do Lexus ES em Bruxelas, primeiro num Lounge da Brussels Airlines e por arrasto da Star Alliance, o que envolve também passageiros da TAP. É uma curiosa operação de marketing, forma de associar o emblema ao lado prático da vida daqueles que, afinal, podem ter um Lexus e que não dispensam requinte e qualidade de vida. A ideia é de que aqueles que andam de avião fiquem a conhecer a Lexus “sem terem de estar ao volante”. E para isso, não faltam um SPA da Grooe, uma sala para audiófilos com um sistema premuim Mark e Levinson, claro, móveis e materiais de alta qualidade, menus meticulosamente preparados e recantos para trabalho, entretenimento, relaxamento ou revitalização. A imagem do luxo associada à Lexus.

Seguramente alguém fez contas ao custo da operação, afinal uma ação de “naming sponsor” que, provavelmente, fará mais sentido do que apostar nos míticos recintos de futebol ou numa arena para grandes espetáculos.

Mas quando passamos a um hangar do aeroporto para a apresentação formal do novo ES, a Lexus brindou-nos com o outro lado da capacidade de uma marca que sabe interpretar  a nova era da comunicação. O que parecia uma mera produção de vídeo, igual a tantas outras bem feitas, resultou num espetáculo que, levantada a cortina, escondia um jacto a sério da Brussels Airlines do qual saiu uma das protagonistas da história. Bem feito.

Se resulta ou não, o tempo se encarregará de responder. Para já, a Lexus acredita que o máximo, modesto, de cerca de 75 mil unidades vendidas na Europa em 2017 – sem automóveis a diesel num cenário com mercados onde eles ainda são e prometem continuar a ser protagonistas… – chegará aos seis dígitos em 2020!

A tradição do origami transposta para a indústria automóvel, uma curiosidade na interpretação do requinte e do luxo pela Lexus

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