Ao falar-se dos 130 anos da história dos mais antigos construtores automóveis que nos é revelada no museu da Mercedes, não se trata, de facto, da idade da marca da estrela de três pontas. Gottileb Daimler e Carl Benz trabalharam separados muitos anos, foram mesmo concorrentes, e o nascimento da marca que hoje é uma referência passa ainda por outro nome fundamental, Wilhelm Maybach. Um estava apostado em desenvolver o motor de combustão, o outro apontava já claramente ao automóvel. O último esteve sempre próximo de Daimler.

Na primeira sala do Museu Mercedes somos recebidos pelo princípio de tudo, a “carruagem” de Daimler e o triciclo de Benz

Daimler registou, em 1885, em Estugarda, o primeiro motor de combustão interna, um propulsor vertical que ficou conhecido como o Grandfather Clock, devido às formas parecidas com um relógio de pêndulo, e com Maybach desenvolveu a primeira moto (de facto, com quatro rodas), designada Riding Car e motorizou, no ano seguinte, um veículo que mais não era do que uma carruagem sem cavalos, aliás designada mesmo por Daimler Motorized Carriage. Os dois motores eram monocilíndricos – 264 cc e 0,5 cv para a moto, que atingia 12 km/h; 462 cc e 1,1 cv na carruagem, que chegava aos 18 km/h.
A quilómetros de distância, em Mannheim, Carl Benz trabalhava no mesmo sonho e, em 29 de Janeiro de 1986, registou a patente do triciclo (entendia assim ganhar uma melhor direção) que a história considera o primeiro automóvel. Tal como Daimler, usava um propulsor monocilíndrico (954 cc e 0,75 cv que permitiam a velocidade máxima de 16 km/h) e a diferença fundamental era que, no seu carro, motor, transmissão e chassis formavam um todo.

Bertha Benz, a mulher de Carl, afirmou, em 1988, a importância do automóvel concretizando a primeira viagem de “longa” distância (…) entre Manhein e Pforzhein, um percurso de 106 quilómetros

E foi num destes triciclos que Bertha Benz, a mulher de Carl, afirmou, em 1888, a importância do automóvel concretizando a primeira viagem de “longa” distância. Fervorosa adepta do automóvel e cansada das críticas ao marido, decidiu, sem o avisar nem participar às autoridades, conduzir, na companhia dos dois filhos, entre Manhein e Pforzhein, um percurso de 106 quilómetros. As peripécias foram várias mas a mais famosa tem a ver com o abastecimento. Como o carro não tinha depósito de combustível e era o carburador que comportava cerca de 5 litros, Bertha teve de parar em Wiesloch para comprar ligroína (derivado do petróleo) na farmácia! Quando chegou, avisou Carl Benz por telegrama…

Bertha e o Carl Benz, em 1894, num Victoria Model, automóvel já com quatro rodas (Arquivos Mercedes Benz)

Os dois construtores continuaram a trabalhar com rumos definidos. Daimler, numa perspetiva alargada, apostava nos motores que aplicou em barcos, engenhos aeronáuticos, locomotivas, até bombas de água contra incêndios – era o caminho que está na origem da estrela de três pontas: terra, mar e ar! Benz focava-se nos automóveis. Ambos construíram entretanto motores de dois cilindros e lançaram-se nos veículos comerciais, principalmente destinados a carga mas também ao transporte público de passageiros (Benz produziu uma autêntica diligência motorizada, em 1895). Tinham nascido, entretanto a Daimler-Motoren-Gesellchaft (DMG) e a Benz & Cie.
Outra mulher vai surgir na história, por iniciativa de um grande empresário, apaixonado pelos automóveis e pela tecnologia, amante da competição e ele próprio importante vendedor de veículos Daimler, aproveitando as boas relações com a aristocracia e o mundo financeiro. Chamava-se Emil Jillinek, vivia entre Viena e Nice, pediu à DMG carros mais potentes e acordou o desenvolvimento de um motor que arrastava o nome da sua filha e era designado Daimler-Mercedes. E em 1900, concebido por Maybach, surgia aquele que é considerado o primeiro automóvel moderno, sem ar de carruagem motorizada, o Mercedes de 35 cv, que abriu uma série de sucessos desportivos continuados pelo Mercedes-Simplex, disponível com motores de quatro cilindros, primeiro de 40 cv e depois de 60 cv. Teve mesmo uma versão limusina.

Mercedes Jillinek, em 1906, ao volante de um desportivo que já ostentava o seu nome (Arquivos Mercedes-Benz)

Carl Benz estava em maus lençóis, tinha produtos antiquados e procurou inverter a situação com o Parsifal, com base num dois cilindros que oferecia também várias carroçarias. Seguiram-se outros modelos, veio a guerra e ambos, por razões óbvias, apostaram ainda mais nos motores de avião. Mas um dia, em 1926, acabou a outra “guerra” e nasceu a Daimler Benz-AG.
Foi o princípio de nova revolução com a criação de uma marca que iria ganhar nome e prestígio em todo o mundo: Mercedes-Benz.

Vinham aí alguns automóveis impressionantes, grandes máquinas que estão no museu de Estugarda e ainda se olham com admiração. É tema para mais um capítulo…