Será possível um carro a gasolina desafiar os consumos de uma motorização diesel? A Volkswagen alinha nessa “guerra” e já consegue surpreender com o Golf 1.5 TSI de 130 cv e caixa DSG de sete velocidades. É mais um que, além de desativar dois cilindros, corta completamente o motor até aos 130 km/h. E, podem crer, impressiona andar “à vela”…

O sistema que equipa o Golf 1.5 TSI de 130 cv, que apresenta uma relação de compressão mais elevada, não é inédito. A tecnologia de desativação de cilindros não constitui exclusivo VW, existe noutras marcas do grupo, e também BMW, Mercedes e Ford, por exemplo, propõem motorizações do género. Parece evidente que, nestes tempos de “cruzada” antidiesel, nos vamos familiarizar com esta solução, bem assim como com o ciclo Miller, em termos simples o chamado motor com ciclo de cinco tempos, no qual a fase de compressão é prolongada permitindo otimizar a combustão.

 Impressiona, numa autoestrada, ver o ponteiro do conta-rotações descer ao 0, enquanto a velocidade, gerida  pelo cruise-control ativo, se mantém nos 120 km/h

A VW tem conseguido resultado interessantes – e digo interessantes porque se espera sempre mais… – e este Golf 1.5 TSI, no caso com a caixa automática DSG de sete velocidades, prova isso mesmo. Consegui gastar 5,6 litros aos 100 em autoestrada, com o cruise-control nos 120 km/h, e, no final, uma média de 7,2, a mesma registada no longo prazo do computador de bordo para 656 quilómetros. Resultado obtido por vários condutores e diferentes estilos de abordar a condução de um automóvel que até se desembaraça muito bem com os seus 130 cv, bem “suportados” pelos 200 Nm de binário máximo, disponíveis logo às 1400 rpm – e razoavelmente generosos.

Eficiência de 84 por cento…

Acredito que seja possível ainda melhor – o carro “diz” que sim…. Afinal, segundo o computador de bordo, este percurso em autoestrada correspondeu a um nível de eficiência registado como de 84%! Logo, é possível poupar mais umas gotas de combustível. A marca anuncia 4,8 litros/100, marca para situações ideais e sempre difíceis de alcançar, mas acredito que, com alguma preocupação, possam conseguir-se consumos na casa dos 6 litros.

Aquilo que mais impressiona quando guiamos este Golf a pensar nos consumos é mesmo a função “Coasting”, expressão máxima da eficiência do sistema ACT (Active Cylinder Management), o qual, sem que o sintamos, desativa, pura e simplesmente, o motor quando a força da inércia o permite. E impressiona, numa autoestrada, ver o ponteiro do conta-rotações descer ao 0, enquanto a velocidade, gerida pelo cruise-control ativo, se mantém nos 120 km/h. Pode ser assim, “à vela” até aos 130 km/h e nem é preciso usar o cruise-control, basta levantar o pé do acelerador. No painel de instrumentos surge a informação: Inércia (Coasting).

Importa referir que uma bomba elétrica assegura a energia necessária para que a assistência da direção e o servofreio continuem e funcionar sem problemas. O mesmo que faz a bateria dos híbridos…

E a segurança? Pois bem, problema algum: um toque no travão ou no acelerador e tudo volta ao normal, com a caixa DSG de sete velocidades a gerir o motor, o qual, sempre que dele se exige pouco, funciona apenas em dois cilindros, informação que também nos é dada no painel de instrumentos. É outro contributo para a redução dos consumos e das emissões, potenciados também pelo já vulgar start/stop, que corta o motor nas paragens em cidade.

O sistema de gestão dos cilindros não funciona com o motor frio nem no modo Sport. Aqui, a escolha é outra e importa dizer que, neste aspeto, o Golf 1.5 TSI continua a fazer jus a uma tradição de capacidade muito simpática, como deixam claro os valores de aceleração (9,1 segundos de 0 a 100) e velocidade máxima (210 km/h). O binário é o suficiente para uma condução descansada, para a qual também contribui a transmissão DSG de sete velocidades.

Um padrão referencial

O resto é o que se sabe do Golf, um automóvel que, há muito, mantém o estatuto de referência, à custa de uma imagem de fiabilidade que tem resistido à concorrência e aos momentos menos bons da marca de Wolfsburgo. Para isso conta uma qualidade de construção ao nível do melhor, mesmo que os materiais já tenham conhecido outra expressão de opulência. Há muito plástico, verdade, mas tudo é bom e bem feito, convincente. A imagem interior não muda muito face à geração anterior, mas destaca-se o grande ecrã (9,2 polegadas) do sistema de infoentretenimento, táctil e capaz de “mudar de página” por ordem gestual.

Com os seus 4,25 de comprimento (1,79 de largura e 1,49 de altura), este Golf continua a ser um automóvel de imagem inconfundível e proporções conseguidas. Posição de condução agradável, habitabilidade razoável e, entre os pontos fortes, destaque para a largura das portas traseiras e para distância ao tejadilho, superior à oferta da maioria da concorrência.

A bagageira, com 380 litros de capacidade, não é brilhante, alinha com a média do segmento. O banco traseiro rebate na proporção 60×40.

Em termos dinâmicos, um automóvel “bem comportado”, dinâmica a dispensar reparos, agradável de guiar, eficaz em curva, para o que contribui aquela suspensão de filosofia muito alemã dos VW, firme e às vezes seca, mas capaz de garantir também bons níveis de conforto.

A versão que guiei foi uma Confortline, na qual se faziam pagar o Active Info Display (604 euros) – o painel de instrumentos digital quer assume diferentes configurações – e a navegação Discover Pro (942 euros), câmara traseira (217 euros), volante multifunções com as patilhas para a caixa DGS (302 euros), retrovisores rebatíveis eletricamente (160 euros), sensor de ângulo morto com assistente de saída de estacionamento (464 euros), bluetooth premium (464 euros) e pintura metalizada (493 euros).

Significa isto um preço final de 32 631 euros para um automóvel interessante, que acrescenta à imagem forte uma motorização a permitir jogar com a aposta num carro a gasolina razoavelmente económico e, optando pelo modo Sport, um Golf bem despachado para os 130 cv do motor 1.5 TSI com gestão ativa dos cilindros. O equipamento ajuda a viver as coisas de outro modo, mas a oferta está disponível desde a casa dos 27 745 euros – uma grande diferença!

FICHA TÉCNICA

VW GOLF 1.5 TSI 130 CV ACT

Motor: 1498 cc, gasolina, ciclo Miller, turbo, injeção direta, intercooler, gestão ativa dos cilindros,  start/stop

Potência: 130 cv/5000-6000 rpm

Binário máximo: 200 Nm-1400-4000 rpm

Transmissão: caixa automática de dupla embraiagem (DSG) com sete velocidades

Aceleração 0-100: 9,1 segundos

Velocidade máxima: 210 km/h

Consumos: média – 4,8 litros/100; estrada – 4,1; urbano – 6,1

Emissões CO2: 113 g/km

Mala: 380/1270 litros

Preço: 32 631 euros (versão ensaiada); desde 27 745 euros