Parece um mini Ferrari, a produção está a cargo da Maserati e tinha de ser italiano esse desportivo radical que é o Alfa Romeo 4C. Pode ser visto como um brinquedo, para guardar e gozar, e, ao que consta, terá os dias contados…

Não tem porta-luvas, apenas uma rede sob o tablier; uma bolsa entre os bancos, aplicada no painel que separa o habitáculo do motor (central traseiro), dá para guardar os documentos; o capô é decorativo – isso mesmo! – e a mala (atrás do motor) não tem mais de 110 litros de capacidade; rádio e ar condicionado são opcionais; a informação, digital é claro, está limitada ao essencial, centralizada num mostrador circular de grafismo simples; o acesso ao habitáculo afigura-se complicado – mete-se a perna e, em rigor, deixamo-nos cair… – ; o conforto limita-se ao mínimo, e não apenas por estarmos quase sentados no chão; as regulações da bacquet são poucas, idem para o volante rombo: a caixa automática, unicamente acionada por patilhas no volante tem quatro comandos por botão, incrustrados numa pequena consola, e que nem são muito práticos ou rápidos na resposta; o travão de mão é convencional; e tudo quanto de mais há resume-se ao regulador de posição dos retrovisores exteriores (a única e verdadeira possibilidade de visibilidade traseira) e ao emblemático DNA, o “afinador” de condução inteligente lançado há um par de anos com o Mito. Obviamente é um Alfa Romeo, o 4C, produzido na fábrica da Maserati e para qual se olha, meio deslumbrado, como para um pequeno Ferrari, tal a perfeição nas formas e no estilo conseguidos nos 3,99 metros deste desportivo que não custa considerar muito, mesmo muito especial… A bem dizer, um carro de pista em versão cliente, até as jantes são dimensões diferentes: 17/18 polegadas respetivamente à frente atrás, ou 18/19 (sempre “calçadas” com Pirelli P Zero) – e só assim se explica a singeleza do habitáculo, pobrezinho na apresentação quando se atenta à imagem e, sobretudo, ao preço. De qualquer modo, inequivocamente, um verdadeiro objeto de prazer, pensado e feito para (alguns) entusiastas, uma máquina quase sem concorrentes. Pode pensar-se no Lotus Elise, sem dúvida o mais parecido, no Porsche Cayman também, bem vistas as coisas o mais racional dos opositores. Mas de pouco serve pensar nisso… A diferença é ser um Alfa. Com as virtudes e defeitos inerentes a essa condição de “made in Italia”.
Leveza como preocupação
O motor, à vista sob o óculo traseiro como nas grandes máquinas transalpinas, é apenas um quatro cilindros com 1742 cc, claro que ajudado por um turbo e sobretudo pelos 940 kg de peso, fruto de uma construção dominada pelo preocupação da leveza, que faz apelo aos materiais ligeiros, designadamente à fibra de carbono, material que nos entra pelos olhos adentro no habitáculo. São 240 cv de potência, 350 Nm de binário e 3,9 kg/cv na relação peso-potência que permitem uma aceleração de 4,5s dos 0 aos 100 (o mesmo que um Porsche Boxster). E 258 Km/h em velocidade de ponta (aqui menos do que o carro de Estugarda – 260 km/h).
A capacidade de aceleração impressiona, é arrebatadora, mais ainda dada a proximidade ao solo. O troar do motor, mais envolvente do que esmagador, toma conta do habitáculo e explica o motivo de o rádio ser um extra. A capacidade de travagem (quatro discos ventilados) é convincente, até mais brutal porque tudo se sente através daquela direção não assistida que reage à mais pequena irregularidade do piso. É outro fator a contribuir para uma realidade de que facilmente nos apercebemos, logo que fazemos aquilo de que este Alfa gosta, que se carregue no acelerador e peça para mostrar aquilo de que ele é capaz – e nós também. Isto porque o 4C foi feito para ser “pilotado”, e não é exatamente uma máquina fácil de dominar. A direção não assistida revela-se menos brilhante do que seria de esperar, muito marcada pela combinação entre a tração traseira e a ligeireza da frente, o que lhe retira alguma assertividade e exige concentração total. Tudo quanto nos faculta surge em estado puro e esta sensação faz com que que até se apresenta bem mais natural o uso da caixa de velocidades na opção manual, não apenas quando se pretende andar depressa mas, sobretudo, ao rolar mais devagar, de forma a evitar o “arrasto” das relações, as passagens constantes e algum desconforto na condução, pouco vulgares numa caixa de dupla embraiagem. Tudo dependerá, claro, da opção escolhida entre os três modos de condução disponibilizado pelo “dna”, mas, quem guia o 4C só deve, em princípio, considerar aa regulações normal ou desportiva…
Andar devagar não é impossível, mas está longe de ser tarefa agradável… Um “cheirinho” de acelerador – e aí vai ele, uma bala. Por isso, se aceita que, com tanta limitação no equipamento, tenha sobrado o cruise control. É uma garantia para não esquecermos que, às vezes, há outros limites, regra geral a pagar caro…
O prazer das limitações
Enfim, este é um daqueles automóveis que quem tem considera, por certo, o seu brinquedo. É para guardar, usar “na nossa estrada”, quando apetece desanuviar o espírito, mas está longe de ser o automóvel de todos os dias, por mais egoísta e hedonista que seja o proprietário. Seria uma dor de cabeça, por inúmeras razões: o desconforto geral e sobretudo nos maus pisos, a falta de visibilidade lateral e traseira, que dificulta a condução em cidade e até o estacionamento… E o mais que falta e hoje se torna quase obrigatório no carro de todos os dias.
Obviamente, ninguém, pensou nisto quando, em 2013, se partiu para um carro como este. O objetivo foi outro. E, talvez por isso, o divertido Alfa 4C parece ter um futuro complicado, porque não foram assim tantos aqueles que lhe acharam graça e, sobretudo houve menos norte-americanos do que se esperava recetivos à ideia de comprar um carro assim, fechado ou aberto, pois não falta o Spider…. E sabe-se a importância do mercado dos EUA para ajudar os números das vendas, EUA onde este modelo marcou o regresso da Alfa, agora incluída na grande família Fiat/Chrysler. Daí, falar-se que a “aposta” 4C pode perder o sentido num futuro próximo. É mais uma das muitas mudanças a que temos de nos habituar no mundo automóvel.
Se estiver nas tintas para tudo isto, se o seu coração mandar mais do que a razão, e, além disso, não tiver problemas de dinheiro, despache-se… De qualquer modo, experimente primeiro!

Ficha técnica
Motor: central, quatro cilindros em linha, construção em alumínio; 1742 cc, turbo, injeção direta
Potência: 240 cv/6000 rpm
Binário máximo: 350 Nm/2100-3750 RPM
Transmissão: tração traseira; caixa automática de dupla embraiagem, seis velocidades
Aceleração 0-100 km/h: 4,5 s
Velocidade máxima: 258 km/h
Consumo: média anunciada – 6,8 L/100
Capacidade da mala: 110 L
Emissões CO2: n/d
Preço: 72 000€