Tem presença, é espaçoso e muito confortável, mexe-se bem e… vê-se pouco em Portugal. Eu sei que é difícil impor um SUV do segmento D face à armada alemã e à fortíssima ofensiva coreana mas apresenta-se complicada a aposta da Renault com o Koleos. Em Portugal só com motor 2.0 litros caixa automática e, claro, tração 4×2. E, provavelmente, será por isso… e por não se conseguir um 1600 que possa ser Classe 1.

Este é um daqueles automóveis de que não conseguimos deixar de gostar, mas do qual guardamos sempre um amargo de boca. Não é o estilo, marcado pelo novo traço com que Laurens van der Acker tem vestido a Renault e maquilhado bem o rosto do emblema do losango. O Koleos é elegante, bem proporcionado, e passa imagem de estatuto. Muito francês, toque de alta costura.

Tão pouco o interior, dominado pelo grande tablet (8,7 polegadas) em posição vertical, toque de modernidade a que se junta o painel de instrumentos simples e configurável, “retrato” Renault, em mescla de sobriedade e classe sem necessidade de qualquer espavento. Para isso, marcam pontos os revestimentos, muita pele, é claro, e a qualidade percebida, a fazer jus ao posicionamento do SUV francês. Tinha de ser. Ainda assim, vai boa distância para os premium.

Para quem gosta de SUV, mais uma opção 4X2, um familiar equilibrado na habitabilidade e na capacidade de carga, estradista confortável e despachado

No que respeita a conforto, estamos conversados. É natural aquele amortecimento muito gaulês, garante de um nível de comodidade que poucos conseguem oferecer num automóvel. Também é verdade que demasiado sensível às irregularidades do piso. As jantes de 19 polegadas da Versão Initiale Paris, topo de gama, as quais dão imponência ao Koleos, podem ser explicação para esta resposta que não costuma ser comum. Há escolhas que se pagam e nem todos têm pisos assim, especialmente em cidade e nas estradas secundárias.

Habitabilidade em bom plano

Plataforma partilhada com o Nissan X-Trail (como acontece com Kadjar e Qashqai) o Koleos tem dimensões consideráveis (4,67 metros de comprimento, por 1,84 de largura e 1,67 de altura) e uma distância entre eixos (2,70 m) que nos fazem pensar num sete lugares. Não é (ao contrário do seu primo japonês)! Por isso, a habitabilidade está em bom plano, superior mesmo ao da capacidade da bagageira que nem é pequena (530 litros). De todo o modo, mesmo com um túnel baixo, o quinto passageiro tem de suportar a dureza do recosto que serve de apoio de braços aos dois lugares bem marcados no banco traseiro. Um bom salão para quatro! O acesso, claro, impõe subir o “degrau”, sempre são 21 centímetros de distância ao solo, mas nada que surpreenda num SUV. Como o plano de carga relativamente alto e os índíces de modularidade que permitem ampliar a capacidade de carga mais de três vezes, 1670 litros rebatendo o banco (60×40), o que pode fazer-se, normalmente, nos ombros do banco ou através de dois puxadores nas paredes da mala. Neste caso, melhor fora, também com fecho elétrico e abertura por sensor de pé. Topo de gama é isto…

Sentados ao volante, dimensões e pega agradável, ficamos mesmo “lá em cima” se não quisermos perder a frente de vista. É uma questão de hábito e facto normal para quem gosta destes automóveis. Sentimo-nos bem, de qualquer modo, até porque não há grandes reparos a fazer em termos de ergonomia, uma vez adaptados à realidade da conjugação entre o volante multifunções e o ecrã tátil, que deixam poucos comandos de sobra. Habituem-se…

Essencialmente, um estradista familiar

Com o dCi biturbo de 175 cv, o Koleos gere bem a massa que tem de movimentar e os 1737 quilos não impedem prestações interessantes: 9,3 segundos de 0 a 100 e 202 km/h. Surpresa, boa surpresa para mim, foi a caixa de variação contínua desdobrada em sete velocidades, evidenciar uma resposta ao ponto de não tornar evidente a sensação de arrasto própria desta solução, muito querida dos japoneses. Eu percebi que a insonorização do Koleos foi bem conseguida, mas, por vezes, esquecer, até pela ausência daquela sonoridade irritante, que dependia de uma transmissão CVT, é das melhores imagens que guardo da experiência ao volante do Koleos.

Menos convincente são as respostas da direção, pouco informativa, e da suspensão às transferências de massas, nos encadeados de curvas abordados mais depressa. Verdade que o Koleos não perde a compostura, mas convida a levantar o pé: este SUV da Renault foi feito para ser um estradista e um grande familiar e, nesta perspetiva, cumpre. “Habilidades desportivas” estão longe de ser a sua praia, a praia onde ele chegará fora de estrada com alguma facilidade, beneficiando da respeitável altura ao solo e da brandura da suspensão.

Quanto a consumos, não fiquei surpreendido: o melhor que consegui num combinado com bastante cidade, autoestrada e filas domingueiras, foi 8,5 litros aos 100. E isto sem exageros.

Enfim, para quem gosta de SUV, mais uma opção 4X2, um familiar equilibrado na habitabilidade e na capacidade de carga, estradista confortável e despachado e tão bem equipado que até pode poupar quase 9 000 euros se dispensar o Iniatiale Paris e comprar um Koleos Zen. Claro, nunca é a mesma coisa… faltam, entre outras mordomias, o tablier em pele pespontada, os bancos em couro, as decorações específicas, os banco dianteiros elétricos, aquecidos e ventilados, sistema de ajuda ao estacionamento, portão traseiro elétrico, as inscrições Initiale Paris, tapetes especiais, cartão mãos livres específico e o sistema de som Bose com 12 altifalantes… Como extras: pintura metalizada (700 euros) e roda sobressalente de dimensões reduzidas /170 euros).

O Koleos é Classe 1 com Via Verde.

FICHA TÉCNICA

Renault Koleos dCi 175 cv 4×2 Initiale Paris

Motor: 1995 cc, diesel, biturbo, injeção direta, start/stop

Potência: 175 cv/3750 Nm

Binário máximo: 380 Nm/2000 rpm

Transmissão: 4×2, caixa automática de variação contínua, “desdobrada” em sete velocidades

Aceleração 0-100 km/h: 89,3 segundos

Velocidade máxima: 202 km/h

Consumos: média – 5,5 litros/100; estrada – 5,4; urbano – 5,8

Emissões CO2: 146 g/km

Bagageira: 530/1677

Preço: versão ensaiada, 50 080 euros; desde 41 830 euros