Pioneiro e mais vendido dos elétricos, o novo Leaf é a prova de que a Nissan está muito à vontade neste domínio da mobilidade. Desde logo menos futurista na imagem, mais potente (150 cv), mais rápido, com outra capacidade (bateria de 40 kw) e autonomia, agora a promessa – exagerada – de 378 quilómetros (!), está, pura e simplesmente, mais automóvel. Gostei, sem deixar de reconhecer as limitações de uma solução que tem de amadurecer.

Maior (tem mais 5 cm e mede 4,49 m de comprimento), mais largo (+2cm), a nova imagem, confere-lhe outro peso e a robustez típica dos traços de família. Faz com o Leaf 2.0 perca aquele ar muito especial de peça de filme de ficção para ser quase um automóvel igual aos outros. E do estilo nascem também vantagens, designadamente as alterações no enquadramento do óculo traseiro que garantem mais 2,5 quilómetros de autonomia e um abaixamento do centro de gravidade (5 mm), sempre contributo para as melhorias dinâmicas. Aquelas minudências que têm ainda mais importância num veículo deste tipo…

No interior, o caminho é também um “regresso à realidade”, sobretudo ao nível da instrumentação, que se distancia daquela ideia do automóvel-computador, com um manancial de gráficos e informações de utilidade discutível, mesmo que, no caso, talvez até se pudesse exigir um pouco mais. Aliás, surpreende que, na hora de mudar, a Nissan, mesmo quando a preocupação é diminuir o número de botões, tenha optado por manter tantos (volante, consola, tablier), apesar do ecrã tátil…

Fica a ideia de que este novo Nissan Leaf é uma mais valia para o crescente número de adeptos dos automóveis elétricos. Por um preço razoável, chegam a um automóvel que já criou imagem e surge enriquecido, mais potente e com mais autonomia

Manteve-se o sistema de comando da velocidade única e foi abandonado, finalmente, o travão de mão de… pé, aquela ideia muito americana que deu lugar a um prático e lógico travão de parque elétrico.

Espaçoso, confortável e mais bagageira

Bem construído, mesmo que alguns materiais (entenda-se plásticos) pudessem ser melhores, conceção interessante e design vistoso, o Leaf é um carro de ambiente normal para o segmento, bem simpático em termos de espaço para quatro pessoas, que viajam confortavelmente. E que conta com uma bagageira muito mais generosa, 435 litros contra os 375 anteriores. O banco rebate na proporção 60×40 e permite levar a capacidade até aos 1176 litros; só é pena que não permita o fundo plano.

Isto é o que os olhos vêem, e afinal vêem pouco, pois o Leaf esconde aquelas que afinal são as novidades mais importantes para o utilizador, sobretudo ao nível do motor, agora com 150 cv de potência em vez de 109 e 320 Nm de binário (eram 254…), e da bateria de iões de lítio que passa de 30 para 40 Khw, mantendo as dimensões e a colocação.

A condução torna-se diferente porque a resposta tem outra prontidão pronta e o carro ganha muito em aceleração, faz agora 7,9 segundos de 0 a 100, mas também porque a direcção é mais direta e menos assistida, o que lhe confere outro “feeling” e torna mais convincente o comportamento em curva, matéria em que o Leaf já mostrava capacidade assinalável, casando muito bem conforto eficácia, sem nada de molejamento excessivo.

Mas há mais de novo, com destaque para o e-Pedal, aplicação de um sistema que já conhecemos do BMW i3 e que permite arrancar, acelerar, abrandar e parar simplesmente aumentando ou diminuindo a pressão aplicada no acelerador. O sistema, quando o acelerador é libertado, aplica automaticamente os travões de fricção e hidráulicos regenerando energia para carregamento da bateria. Em subidas ou descidas, o Leaf mantém a posição até que o acelerador volte a ser pressionado.

Na prática, é um sistema que convida a um tipo de condução para privilegiar a economia: aprende-se a dosear a desaceleração para regenerar energia e a manter a pressão certa sobre o acelerador, sob pena de o carro abrandar menos progressivamente.

Semi-autónomo… para nos irmos habituando

Novidade também é o ProPilot, mais um sistema de condução semi-autónoma acionável num botão no volante. Atua, como de costume, em tempo limitado, na direção, travões e acelerador para ajudar em situações de condução a velocidade moderada em faixa única de autoestrada; com tráfego congestionado, permite abrandar automaticamente, parar se o trânsito a isso obrigar e, claro, arrancar quando possível. Tocar é o bastante para reativar o sistema que funciona associado ao cruise-control inteligente.

E a autonomia? A experiência deu-me, desta vez, um carro com 240 quilómetros de autonomia que geri, confessadamente, com menos stress. Mas o que não muda é a certeza de ser necessário “feitio” e hábito para usar um automóvel elétrico no quotidiano. As limitações são as costumeiras. Quem pode carregar em casa ou no emprego pode fazer uma gestão racional da bateria e da sua vida no quotidiano. Além disso, é preciso uma capacidade de programação para que eu – e julgo a maioria, aqueles para quem o automóvel ainda represente um instrumento de liberdade – não estou formatado.

Não tenho dúvidas de que o novo Leaf abre mais possibilidades, tem outra autonomia. Mas como também beneficia de muito mais capacidade é tudo uma questão de “ritmo”. Quem explorar o divertido binário dos elétricos, está “condenado” a limitar a autonomia… Óbvio!

A bateria de 40 kwh carrega em 15 horas numa tomada caseira de 16A e em metade do tempo se a potência for o dobro. Com a wallbox de 7kw (16A), que pode montar-se na garagem de casa, faz-se em 5 horas e meia. Depois, como se sabe, há os carregadores rápidos que começaram agora a ser pagos: 80% da carga conseguem-se entre 40 a 60 minutos.

Fica a ideia de que este novo Nissan Leaf é uma mais valia para o crescente número de adeptos dos automóveis elétricos. Por um preço razoável, chegam a um automóvel que já criou imagem e surge enriquecido, mais potente e com mais autonomia.

A versão topo de gama, como de costume designada Tekna, foi a ensaiada e tem um nível de equipamento bem recheado. A acrescentar ao escudo de proteção inteligente, chassis control, Nissan Connect  EV, navegação, ProPilot e e-pedal, que já vêm da versão intermédia (N-Connecta), acrescenta, designadamente faróis LED automáticos, volante multifunções e bancos dianteiros aquecidos,ar condicionado automático, vidros traseiros escurecidos jantes de 17 polegadas e um sistema de som Bose com sete altifalantes. São 3600 mais do que a versão base (Acenta) e 1150 para a versão intermédia.

FICHA TÉCNICA

Nissan Leaf 40 Kwh Tekna *

Motor: eléctrico, síncrono

Potência: 150 cv

Binário máximo: 320 Nm /0 – 3283 rpm

Transmissão: velocidade única, tração dianteira

Aceleração 0-100 km/h:  7,9 s

Velocidade máxima:144 km/h

Bateria: iões de lítio

Capacidade: 40 kwh

Tempo de carga: 15 horas – 16A; 7,5 horas –Wallbox (7 kw- 32A) – carregamento rápido –40/60 minutos para 80% da carga

Consumo médio: 14,8 kWh/100 km

Autonomia: NEDC – 378 km; WLTP – misto, 270 km; urbano, 415 km

Bagageira: 435/1176 litros

Preço: 39 850 euros (versão ensaiada); desde 34 900 euros

*Candidato ao Essilor Carro do Ano/Volante de Cristal (Categoria Ecológico do Ano)

Aversão Tekna do Leaf dispõe do ProPilot que a marca promove assim

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