Quando li, dei-me conta de que o tempo passa mesmo muito depressa. O Opel 1900 GT fez 50 anos! Foi um desportivo muito especial e até um dos meus sonhos de menino. Nunca o comprei, mas tive o gozo de guiar o automóvel que a publicidade promoveu com um slogan curioso: “Só voar é melhor”.

O lançamento do Opel GT marcou uma decisão pouco comum para um construtor generalista. É verdade que, nos finais dos anos 60 e até antes, havia entre as marcas mais populares – especialmente as britânicas – propostas de descapotáveis, não muitas e algumas bem feias e, olhadas à luz da realidade, pelo menos a dar que pensar em termos de segurança. Era uma forma diferente, naqueles tempos, de também mostrar alguma propensão desportiva.

Não havia GT verdadeiros, desportivos de dois lugares com preços mais acessíveis – estes automóveis andavam à volta dos 90 contos, cerca de 450 euros, e não era pouco –, o que existia eram coupés como o Alfa GT Júnior (este um 2+2) que até tinha um motor 1300, razoavelmente performante. Exemplo do talento do design italiano e beneficiando da imagem desportiva da Alfa, era um automóvel muito desejado entre a juventude. E havia o radical Lotus Europa, modelo de outro campeonato, afinal como o mais caro Porsche 912 (o “VW” de Estugarda já que o 911 era outra coisa). Ainda havia outra opção, comprar um Porsche 356 em segunda mão…

Tração traseira, suspensão evoluída, o Opel GT era proposto com duas motorizações: 1.1 de 60 cv e 1.9 de 90 cv (…)  As prestações do mais potente eram interessantes para a época: 11,5 segundos para a aceleração 0-100 e 185 km/h em velocidade de ponta

As coisas eram diferentes com o Opel GT. Foi sempre um desportivo para gente mais velha, não despertava especial paixão entre a juventude portuguesa, muito marcada pelo lado desportivo. Eu gostava e até me lembro de os ver, no Rali de Portugal, na pista de Alvalade, por exemplo, aplaudidos por um estádio “à cunha”, guiados, entre outros, pela bonita e elegante Marie-Claude Beaumont e por Henry Greder.

Estilo original

Olhei-o sempre como um automóvel original, não esqueço os faróis escamoteáveis a dominar o longo capô com o bem conseguido rosto de nariz baixo e as luzes traseiras, os quatro círculos quase assentes em pequenos para-choques cromados no extremo daquela superfície tão simples como vistosa, plana e de corte oblíquo. Ainda era atrativo quando, pela primeira vez o guiei, nos idos de 80. O meu maior amigo foi mais persistente e acabou por comprar o 1900 GT preto com que tantas vezes sonhámos. Quase com 20 anos de andanças e alguma oficina, é claro que a experiência foi pouco mais do que uma saudade, os automóveis já tinham dado um grande salto, sobretudo àquele nível.

A Opel voltou à carga nestas originalidades, em 2000, com o Speedster, um descapotável produzido pela Lotus, sobre a plataforma do Elise, com motor central (2.2/147 cv) e tração traseira. E insistiu em 2006 com a recuperação do Opel GT, outro roadster desta vez desenvolvido pela GM, que aproveitou a embalagem para várias propostas com emblema das suas marcas norte americanas (Pontiac Solstice, por exemplo). Este tinha motor à frente (2.0/264 cv) e tração traseira. Foram propostas bem diferentes, mas também ficam para a história da marca que hoje engrossa as fileiras do grupo PSA.

Antes disso, em 1986, tinha sido desenvolvido outro vistoso concept-car igualmente com a designação Opel GT. Muito vanguardista (imagens na galeria ao alto), não passou de montra para os salões do automóvel.

Do GT, desenhado por Erhard Schell, há uma série de pormenores a registar. Desde logo, que só esteve cinco anos na linha e a produção atingiu as 103 463 unidades. Surgiu como concept-car, no Salão de Frankfurt de 1965, onde suscitou o interesse que levou à luz verde para a sua produção três anos depois.

Carroçaria feita em França

A construção é outro aspeto curioso. “Na sequência de outros projetos em conjunto, a Opel encarregou os produtores franceses de carroçarias Chausson e Brissoneau & Lotz das operações de prensagem, soldadura e pintura, bem como da instalação do habitáculo do GT. As unidades eram depois enviadas para a Alemanha onde se efetuava a montagem final, nomeadamente dos componentes de chassis e do conjunto motor/transmissão”, recorda a marca alemã.

Construído sobre a base do Kadett coupé, muito transformada, tração traseira, motor praticamente em posição central, suspensão evoluída, o Opel GT era proposto com duas motorizações: 1.1 de 60 cv, oriundo do Kadett, e 1.9 de 90 cv, utilizado no Rekord, ambos com caixa manual de quatro velocidades – havia uma transmissão automática de três relações, basicamente usada nos modelos vendidos nos Estado Unidos, para onde o modelo foi exportado. As prestações da versão mais potente eram interessantes para a época: 11,5 segundos para a aceleração 0-100 e 185 km/h em velocidade de ponta.

O interior oferecia um ambiente bem sugestivo, sobretudo naqueles tempos: bancos de competição, rudimentares na lógica atual, mais vistosos do que eficazes, volante em madeira com três raios e uns interessantes mostradores redondos, um toque indiscutivelmente desportivo.

Georg von Opel, neto do fundador da marca, o mesmo dos automóveis propulsionados por foguetes e que inspirou von Braun – exatamente, o homem da NASA! –, desenvolveu uma versão com motorização elétrica, capaz de atingir velocidades da ordem de 190 km/h, e com a qual estabeleceu vários recordes mundiais.

Em junho de 1972, foi construído um GT com motor Diesel que fixaria dois recordes mundiais e 18 recordes internacionais em provas realizadas no centro de testes da marca em Dudenhofen. Um desses resultados impressionava, na altura: 197 km/h ao cabo de apenas 1000 metros, era invulgar para um motor alimentado a gasóleo.