Seis mil euros é muito dinheiro para quem compra um automóvel abaixo dos 40 mil euros. A quantia faz a diferença entre o Skoda Karok motorizado pelo 1.6 TDI ou pelo três cilindros 1.0 TSI, ambos com caixa automática de DSG de 7 velocidades e 116 cv de potência. Vale a diferença e o esforço? Ora acompanhe-me e pense muito bem…

Os receios em relação ao futuro do Diesel já estão, sem surpresa, a sentir-se nas vendas dos segmentos mais económicos. Sem certezas quanto ao que poderá acontecer no futuro próximo, principalmente em relação ao Diesel, e num ambiente a favor da aceleração no sentido da opção elétrica, os motores a gasolina têm vindo a recuperar no mix das vendas, sobretudo quando se atende ao mercado dos particulares.

As fórmulas dizem-nos que a rentabilidade de um Diesel fica assegurada para quem percorre qualquer coisa como 20 mil quilómetros por ano. Não é novidade, como também não é que os automóveis com estas motorizações ainda são mais valorizados no mercado dos usados.

Ora estas verdades, que muitos contornaram por variadíssimas razões, são hoje vistas à luz de outra realidade e quando guiei o Karok 1.0 TSI 116 cv Style DSG não pude deixar de pensar na experiência ao volante do 1.6 TDI, já aqui apresentado…

Decidia-me pelo pequeno três cilindros a gasolina se precisasse de um carro para o quotidiano e a viagem de férias e guardava os seis mil euros de diferença de preço para ir pagando a  gasolina, na certeza também de que estava a coberto de alguma surpresa vinda das decisões políticas

Adepto confesso dos pequenos três cilindros, tenho de reconhecer que este mesmo motor já me impressionou mais noutros modelos do grupo VW. Desta vez, senti uma leve tremura a baixa velocidade em resultado das vibrações associadas a estes blocos. Nada de incómodo, verdade, ainda assim mais sensível do que o ruído, muito bem trabalhado.

Automático, pois claro

A caixa DSG de dupla embraiagem e sete velocidades – neste caso apenas comandada no seletor –  foi muito bem “encaixada” no conjunto e gere de forma criteriosa os 200 Nm de binário, o suficiente para dar uma elasticidade do motor que garante condução agradável. Quando é preciso ultrapassar, evidentemente não pode esperar-se grande explosão, falta alguma prontidão na resposta da caixa, ainda assim alma bastante para que, a par com a generosidade do motor na recuperação, as coisas se componham com honestidade a ponto de me parecerem o exigível para um automobilista normal.

As prestações até parecem superiores à vulgaridade dos números – 10,7 segundos de 0 a 100 e 186 km/h em velocidade de ponta – porque o motor é “alegre” e permite um despacho convincente, tanto na cidade como na estrada. Há quatro modos de condução para melhor explorar as suas capacidades: Eco, Comfort, Normal, Sport.

Consumos não impressionam

Em matéria de consumos, os resultados, verdade, não impressionam – menos ainda se olharmos aos números do Diesel. Insisto na ideia de que há melhor no grupo VW. O computador de bordo indicava uma média geral de 8,8 litros aos 100 para o longo prazo – 3245 quilómetros e muitos estilos de condução. Eu contribui com 8,7, mas registei valores entre os 7 litros (autoestrada) e os 9,1 (cidade). Os críticos da caixa automática, vão dizer que o problema está aí, mas, atenção, a DSG já consegue melhor resultado face à manual no combinado e na condução urbana!

Aquilo que mais me impressionou, no entanto, foi que não senti uma diferença tão grande na agradabilidade de condução para o Diesel, com o seu binário superior (250 Nm e logo às 1500 rpm) e prestações idênticas (é 0,2 segundos mais lento de 0 a 100).

Fiquei com poucas dúvidas: decidia-me pelo pequeno três cilindros a gasolina se precisasse de um carro para o quotidiano e a viagem de férias e guardava os seis mil euros de diferença de preço para ir pagando a  gasolina, na certeza também de que estava a coberto de alguma surpresa vinda das decisões políticas tantas vezes precipitadas por interesses mais altos.

Mas, cada cabeça sua sentença e não há como experimentar…

Sobre o Karok está tudo dito e esmiuçado na Experiência ao volante do Diesel, que faz sentido ler em complemento.

De qualquer forma, um SUV com proporções interessantes (4,38 metros de comprimento, 1,84 de largura, 1,60 de altura e 2,63 entre eixos), formas que respeitam o estilo sempre sóbrio da marca checa, para um produto que está na linha do forte e bom. Habitabilidade a dispensar crítica, confortável, bagageira de respeito, como de costume (521 litros), versátil, bem construído e com pacotes de equipamento equilibrado. A distância ao solo é de 17,2 cm, para quem pensar nas aventuras fora de estrada.

Em termos dinâmicos, um automóvel com “boas maneiras”, que acusa a altura da carroçaria nas transferências de massas, mas não se descompõe, nem “obriga” a muitas entradas forçadas do ESP.  Direção bem mandada e travões à medida das capacidades.

Bom nível de equipamento

Guiei o topo de gama Style que conta com faróis Full LED também de nevoeiro e função “corner”, ar condicionado automático, sensores de luz, chuva e estacionamento, câmara traseira, cruise control, detetor de ângulo motor, assistência ao arranque em subida, comandos por voz, navegação Amundsen, retrovisores exteriores antiencadeamento, aquecidos e rebatíveis, jantes de 17”.

A versão ensaiada acrescentava 4920 euros de extras, com destaque para o Bluetooth com WLAN e carregamento por indução (470 euros), estofos em pele e alcantara (1250 euros), sistema de navegação Columbus (1045 euros), mesas retráteis nas costas dos bancos dianteiros (90 euros), pack LED interior (290 euros), jantes de 18 polegadas (335 euros), bancos Varioflex (405 euros), um ano de contrato Care Connect e infotainement online (385 euros), pintura metalizada (415 euros).

FICHA TÉCNICA

Skoda Karoq 1.0 TSI 116cv Style DSG*

Motor: Três cilindros, 999 cc, turbo, injeção direta de alta pressão

Potência: 116cv/5000-5500rpm

Binário máximo: 200 Nm/2000-3500 rpm

Transmissão: caixa automática de dupla embraiagem com sete velocidades

Consumos: média – 5,2 litros/100; estrada – 4,8; urbano – 5,8

Aceleração 0-100 km/h: 10,7 s

Velocidade máxima: 186 km/h

Emissões CO2: 118 g/km

Bagageira: 521/1630 litros

Preço: unidade ensaiada – 36 012 euros; versão Style desde 31 092 euros

*Candidato ao Essilor Carro do Ano/Troféu Volante de Cristal (Categoria SUV Compacto)