Parece impossível, mas, em pleno Século XXI, ainda acontece aparecer esquecido, num qualquer barracão, um daqueles automóveis que põe os responsáveis de um museu em polvorosa. O mais recente exemplo vem da Porsche que assim conseguiu recuperar um raro 901.
Tudo começa com uma equipa de TV alemã, que, em 2014, trabalhava um programa dedicado a raridades e memórias. Um dos trabalhos levou-os a um barracão onde depararam com dois 911 dos anos 60, naturalmente em mau estado de conservação.
O “achado”, considerado interessante, justificou um contacto com o Museu da Porsche, em Estugarda, e aguçou a curiosidade dos seus responsáveis. E a surpresa estava para vir… Um dos carros tinha um número de chassis (300 057), que indicava ter sido construído em 1964 e o colocava no lote das raridades.

A recuperação do 911 que continuou a ser internamente a série 901 e no caso o nº 57 levou três anos a concretizar, uma vez que se respeitou o princípio de apenas utilizar peças originais

Porquê? É simples. Quando se decidiu a substituição do também célebre 356, apontou-se a designação 901 para o seu sucessor, número que acabou por nada ter de pacífico e originou uma daquelas querelas relacionadas com o registo das designações na indústria automóvel tantas vezes difíceis de resolver. A questão era simples: três algarismos com zero ao meio é exclusivo Peugeot! Resolveu-se sem problema.
E o que acontecia com o carro descoberto no barracão era tratar-se de um dos exemplares do modelo que começou por chamar-se 901 e acabou por ser o 911… O museu decidiu-se pela compra, pelos vistos pouco fácil já que teve de intervir um especialista para avaliar o carro. A operação concretizou-se, mas a Porsche não revela quanto deu pela relíquia que, a julgar pelas imagens, apresentava estado lastimável.

Os 901/911 são 82 para os colecionadores (lote em que se inclui o carro adquirido pela Porsche) e valem qualquer coisa como 800 mil euros. Mas são precisos dois milhões para ter um dos primeiros automóveis a sair da linha. Há um nos EUA

A recuperação deste 911, que continuou a ser internamente a série 901 e no caso o nº 57, levou três anos a concretizar, uma vez que se respeitou o princípio de apenas utilizar peças originais. E não se pense que isso foi tarefa fácil, perante um automóvel com cerca de 50 anos. Recuperou-se tudo quando era possível, mas houve que recorrer, designadamente, a partes da carroçaria resgatadas de outros modelos da época. Motor, transmissão e parte elétrica tiveram igual tratamento.
A obra final já está no museu e foi à estrada passear o seu motor 2.0 seis cilindros, refrigerado a ar, que debita 130 cv às 6100 rpm (174 Nm de binário máximo às 4200 rpm) e tem uma caixa manual de cinco velocidades. Pesa 1080 quilos e a velocidade máxima é de 211 km/h. A aceleração anunciada de 0 a 100 varia, conforma as fontes, entre os 8,9 e os 9,1 segundos.

Foram produzidos 12 protótipos com a designação 901, segundo apurámos através do “Jornal dos Clássicos”, alguns dos quais com o boxer de quatro cilindros do 356. Entre Setembro e Outubro do mesmo ano saíram da linha mais 82 unidades que, para os colecionadores, são também Porsche 901. Dos primeiros, que se saiba, existe um, nos Estados Unidos, o qual está avaliado em mais de dois milhões de euros. Os outros valem qualquer coisa como 800 mil euros. Um deles está em Portugal. Os carros construídos em Novembro e Dezembro de 1964 ainda atingem os 450 mil euros em leilão.

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