Eu sei que os puristas vão falar em heresia ou sacrilégio. Reinventar o Mini sobre a carroçaria de sir Alec Issigonis e “vesti-lo” como um carro destes tempos com os luxos e a tecnologia inerentes ao produto exclusivo? Isso faz-se a um clássico? Está feito e, atenção, nesta modernice, nada de motores elétricos… antes o “velho” 1275 cc. Tal e qual! Pensem o que quiserem mas registem o trabalho interessantíssimo da David Brown Automotive. Custa um balúrdio e suscitou curiosidade em Genève. 

David Brown é um carroçador, daqueles da velha escola inglesa, que produz modelos de pequeno volume em Coventry, um belíssimo Speedback GT (grande turismo clássico) e o Mini Remastered, verdadeira remasterização, muito cuidada e atrevida do automóvel que está entre os ícones dos anos 60.

O trabalho é, no mínimo, notável. Este Mini, recuperação à escala – tem as medidas originais (3055/1470/1330 mm) – daqueles que usaram emblema Austin e Morris, é autenticamente feito à mão e a partir de painéis de carroçaria completamente novos, montados segundo processos que garantem melhor rigidez ao automóvel e cuidados extremos com vista a um nível de insonorização capaz de garantir todo o conforto no habitáculo. Quem teve um Mini  ou já guiou réplicas, sejam quais forem, percebe a preocupação…

Quanto a prestações, a “descida” à terra: 11,7 segundos para a aceleração de 0 a 100 e 145 km/h como velocidade máxima… A média de consumos anunciada é de 6,6 litros/100 e em termos de emissões de CO2 184,7 g/km

Para se ter uma ideia do trabalho, cada carro leva mil horas a produzir e só o processo de pintura arrasta-se por quatro semanas, o tempo necessário para garantir um nível de acabamento primoroso. E é mesmo: olha-se, passa-se a mão sobre aqueles pontos mais problemáticos – e parece seda… Eu ri-me, lembrando o primeiro (um 850!) do trio que marca a minha vida automobilística.

Diferenças assumidas

A remasterização implica o verdadeiro sentido da palavra. O Mini de David Brown é uma cópia construída sobre a preocupação de melhorar os conteúdos. Produto de caraterísticas exclusivistas, como é natural preparado para um elevado nível de personalização, carrega diferenças até na imagem. Desde logo a grelha, em alumínio, não é igual a qualquer das várias soluções utilizadas através dos tempos. Os piscas não têm aqueles “copos” originais que tantas vezes se partiam e as luzes traseiras só respeitam a configuração oblonga e vertical, numa interpretação modernista. A razão é simples, estão lá os LED e é assumida a diferença da tecnologia. Afinal, o princípio: como se fosse feito hoje!

O interior é a revolução, salvaguardando pormenores deliciosos, antes de tudo o grande velocímetro redondo da Smiths com um acabamento em branco imaculado e o mesmo grafismo (mais um quadrante com informação digital…), agora em frente ao condutor. Um volante Moto-Lita em madeira polida, em posição elevada ajuda na clássica imagem desportiva que poucos dispensavam – o “volante de pau”… Lá continua o seletor de velocidades vertical, mas tudo o mais é uma viagem ao nosso tempo, o ecrã multifunções encastrado no tablier, o botão de ignição, a consola no pavimento, a reinterpretação de alguns comandos que até seguem a filosofia do Mini atual. No lugar da chapa que agrupava o botão das luzes, a ignição e o célebre botão do ar, surgem os comandos da climatização e o desembaciador. E tudo isto envolvido num ambiente marcado pela melhor tradição britânica, peles de primeira escolha, acabamentos de grande nível, nada a ver com a simplicidade aquelas portas quase nuas com a bolsa em chapa que chegaram a abrir através de um cordão…

Pára-choques sem escudetes, jantes de 12 polegadas Minilite, claro, entre sete escolhas, abas nas rodas, e aqueles inconfundíveis retrovisores cónicos cromados compõem a imagem que tem toda a diferença estampada no emblema da David Brown Automotive, também ele exemplo do British Style.

Só para alguns…

Bom, e debaixo do capô? Pois bem, o quatro cilindros de 1275 cc recondicionado a preceito a debitar 71 cv (4600 rpm) e o binário de 118 Nm (3100 rpm). A  caixa, também ela trabalhada, é a manual de quatro velocidades. Em opção, estão disponíveis a original automática de quatro relações ou uma manual de cinco. A suspensão foi igualmente apurada para respeitar uma dinâmica de acordo com os tempos…

Quanto a prestações, a “descida” à terra: 11,7 segundos para a aceleração de 0 a 100 e 145 km/h como velocidade máxima… A média de consumos anunciada é de 6,6 litros/100 e em termos de emissões de CO2 184,7 g/km.

O Mini Remastered by David Brown junta à versão normal duas séries especiais de 25 unidades: Monte Carlo, recuperando é claro, pormenores dos carros que venceram o rali; e Café Racers, vistosa opção em creme e castanho, com faróis auxiliares integrados na grelha.

Os preços, sem taxas, começam nas 75 mil libras (cerca de 85 500 euros)…

Se quiser comprar: www.davidbrownautomotive.com

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