Quando se recorda o sucesso do Laguna e se regista a forma discreta como o seu sucessor está a passar pelo mercado nacional, pode ficar a ideia de que o Talisman não resultou no modelo certo. É parecido com o Mégane, só tem mais um palmo do que este, o preço representa esforço maior, enfim, não vale a pena… Será assim?
O Talisman concorre num segmento dominado pelos premium, entra numa guerra muito diferente, mas pondo de lado este pormenor, nada de mais errado do que compará-lo com o Mégane. Não se trata apenas de uma questão de posicionamento, as diferenças são muitas e há um salto considerável no produto. E tão percetível depois de uma centenas de quilómetros ao volante que cheguei à conclusão de que estamos perante um automóvel mal amado.
Guiei uma carrinha motorizada pelo 1.6 dCi de 130 cv, caixa manual de seis velocidades e nível de equipamento Executive e fiquei com a certeza de que este é um automóvel com presença e capaz de servir bem a maioria dos adeptos deste estilo. Bate-se naturalmente com os seus iguais e, salvaguardadas outras distâncias, nem destoa face aos premium – privilegiados por outros argumentos.
Excelente estradista, agradável de conduzir, confortável no respeito daquele compromisso com a eficácia da suspensão em que os franceses são mestres, consegue ainda consumos que acho interessantes: 5,7 litros em autoestrada (chegou a marcar 5,5 durante muito tempo), com o cruise-control adaptativo regulado para aqueles números suscetíveis de não causarem dissabores. E tudo isto num ambiente que nos faz sentir bem a bordo.
Esta opinião resulta de viagens com duas pessoas a bordo e acredito que, com a mala carregada e quatro passageiros, este Talisman possa brilhar menos. A medida certa deverá ser o mesmo bloco com o Twin Turbo de 160 cv.

Toda a diferença com 4Control
Mas estamos noutra realidade e os portugueses até dão a primazia nas escolhas à motorização de 130 cv! E este Exclusive reúne um pacote de equipamento muito rico e por mais 1100 euros acrescenta ao Multi Sense, com cinco modos de condução à escolha (Confort, Eco, Neutro, Sport e Perso – programável por “medida”), o sistema que faz toda a diferença: as quatro rodas direcionais, o 4Control.

Bom recheio numa oferta equilibrada, para quem precisa  de uma carrinha que até tem boa presença, é muito confortável, espaçosa, inspira confiança mas ficava ainda melhor com “mais motor”

E vale a pena a diferença que faz toda a diferença. Combinar as duas tecnologias é ter acesso a um automóvel muito superior. A possibilidade de parametrizar a condução, já vulgar, mesmo que possa ser pouco utilizada, é sempre interessante para aqueles que fazem do automóvel mais do que o meio de transporte. Juntar-lhe o 4Control é assim como a cereja no topo do bolo. Isto porque o Talisman, que já curva muito bem no modo Confort, mesmo que possa sentir-se algum “molejamento” e a direção leve, quando passa ao Neutro e especialmente ao Sport, ganha uma capacidade que inspira ainda mais confiança: suspensão firme, direção direta sentimos a frente sempre na mão e a estabilidade, indiscutivelmente, marca pontos. No caso, até parecia que o carro nem tinha as limitações de potência que estão espelhadas nas prestações (10,8 segundos de 0 a 100 e 200 km/h em velocidade de ponta), tal a facilidade com que se desembaraça nos encadeados de curvas mais exigentes e em estradas estreitas. E são quase cinco metros de carrinha… Convincente! Só se dispensava a diferente sonoridade do motor, pelo menos a este nível da oferta: não há a elasticidade, a capacidade de recuperação que o justifique.
O 4Control permite que a velocidade reduzida, abaixo dos 50 km em modo Confort (60 km/h em Neutro e 80 km/h em Sport) as rodas traseiras virem em sentido oposto às dianteiras, um máximo de 3,5 graus, o que aumenta a manobrabilidade, no trânsito e principalmente no estacionamento; em andamento normal, as quatro rodas viram no mesmo sentido e o efeito é semelhante ao aumento da distância entre eixos, com benefícios no prazer de condução e na estabilidade. E é mesmo percetível!

Qualidade assinalável no interior
O Multi Sense é acompanhado pela alteração das cores e do próprio grafismo da instrumentação, com ou sem conta-rotações por exemplo. A iluminação, que se reflete, nos diversos frisos de luz interior, pode ser vermelha (Sport), azul (Confort), verde (Eco), sépia (Neutro) e violeta (Perso). É uma graça a complementar um ambiente interior bem conseguido e em que a Renault estampa imagem de qualidade assinalável.
Boa posição de condução, volante bem dimensionado e de pega agradável, bancos confortáveis e envolventes, o condutor beneficia ainda de um ecrã verticalizado em posição central e na projeção da consola, com as dimensões generosas de 8,7 polegadas e cujos menus são comandados através de um botão rotativo na consola. O R-Link 2, para mim, continua a não ser tão intuitivo como seria desejável, mas, como tudo, é uma questão de hábito. Tudo isto está enquadrado por uma excelente combinação entre plásticos, dúctil e de boa qualidade na cobertura do tablier, e frisos ao estilo da fibra de carbono encastrados num revestimento em pele sintética cozida a pesponto que se estende às portas. Um toque de classe. Só a cobertura da consola é mais fria, ainda assim num plástico aveludado ao toque.
Em termos de espaço, todo o conforto à frente, desafogo atrás, para as pernas e para a cabeça, pois não falta altura. Um quinto passageiro será penalizado pelo prolongamento da consola para encaixar as saídas do ar condicionado e duas entradas para carregar dispositivos móveis e outra de 12 v.
A bagageira, que pode ter abertura e fecho elétrico (700 euros), chapeleira de cortina, inclui um pequeno fundo falso, quando existe pneu suplente (170 euros), e tem capacidade suficiente para as necessidades de uma família. Os bancos rebatem na proporção 60X40 e o movimento é acionado através de um prático mecanismo nas paredes da mala.
Quanto a equipamento, muito: abertura mãos livres, botão de ignição, travão de parque elétrico, iluminação Full Led com sensor e máximos automáticos, faróis de nevoeiro com assistência em curva, vidros escurecidos, cortinas atrás, bancos com massagem, cruise control, travagem ativa de emergência, alerta de transposição de faixa, reconhecimento de sinais, head-up display laminar, aviso de ângulo morto, câmara de marcha atrás e ajuda ao estacionamento. O R-Link 2 inclui a navegação.
Bom recheio numa oferta equilibrada para quem precisa  de uma carrinha que até tem boa presença, é muito confortável, espaçosa, inspira confiança mas ficava ainda melhor com “mais motor”. Acredito, porém, que serve à maioria e não deixará ninguém descontente com os consumos.
FICHA TÉCNICA
Renault Laguna Sport Tourer 1.6 dC1 130 cv Executive
Motor: 1598 cc, turbodiesel, injeção commom-rail, start/stop
Potência: 130 cv/4000 rpm
Binário máximo: 320 Nm/1750 rpm
Transmissão: caixa manual de seis velocidades
Aceleração 0-100: 10,8 s
Velocidade máxima: 200 km/h
Consumos: média – 4 litros/100; estrada – 3,7; urbano – 4,6
Emissões CO2: 106 km/h
Bagageira: 572/1681 litros
Preço: 42 080 euros