Foi com tristeza que devolvi o Alfa Romeo Giulia Veloce. Estamos avisados sobre o  destino do diesel. O futuro parece traçado, mesmo que as coisas possam não ser exatamente tão lineares e tão rápidas. Mas faz pena pensar que esta minha “viagem” foi uma espécie de adeus dedicado a uma espécie em vias de extinção… Que belo diesel!

O Giulia Veloce tem tudo aquilo que faz o ideário do “alfista” que há numa geração de apaixonados do automóvel – a minha. Tenho de fulanizar, mas acredito que não vou ferir muitas suscetibilidades. Começa por ser um daqueles carros que “enchem a vista”, ao qual é difícil ficar indiferente. Elegante e agressivo, equilibrado nas proporções ainda por cima difíceis do clássico três volumes de quatro portas. Um exemplar do melhor design italiano, a forma única de vestir um desportivo com rigor e classe. A imagem que perdura.

Passamos ao interior e continua o regalo para a vista. Tão simples e tão natural e ao mesmo tempo tão elaborado numa colagem primorosa de formas suaves, bons materiais e bom gosto. Combinar o frio do alumínio (listrado como se fosse a cinzel!) com o negro da pele é comum, fazê-lo tão bem, sem agressividade e algidez é que não.

Este Giulia Veloce representa o verdadeiro Alfa e é uma pena que outras gerações não possam experimentar um automóvel assim a diesel. São os tempos… Os velhos e os novos. Se for um adeus, será marcante!

Os pormenores são deliciosos e discretos, mas fazem diferença. O botão de ignição integrado no belo volante multifunções é um espécie de emblema desportivo, alerta para a feição do automóvel, mas o itálico usado no grafismo, velocímetro e conta-rotações, mesmo no digital leva o detalhe para um plano que já raia a sensibilidade. A integração diferente do ecrã no tablier, espelho natural na projeção do conjunto é outro aspeto de uma forma artística de ver as coisas.

Depois há pormenores de agressividade, como as grandes patilhas da caixa de velocidades (ao estilo Ferrari), atrás do volante que, por acaso até dificultam a utilização dos braços dos piscas, de um lado, e do menos prático comando do limpa-para-brisas, do outro. Mas, e disso não restam dúvidas, são adequadas ao exercício do que pode experimentar-se a seguir…

A consola é revestida a alumínio listrado, integra o travão de mão elétrico, os comandos do ecrã com seis menus e é dominada pelo elegante punho do seletor da caixa automática de oito velocidades.

Diferente, para melhor

Então, e a qualidade? Bom, sou daqueles que se lembram do que era um Alfa há um par e anos e há muito escreve que é notável a evolução (aliás em todo grupo Fiat que agora também é Chrysler) da marca neste aspeto. A qualidade percebida continua a subir e atingiu patamares que durante muito tempo julguei impossíveis naquele facilitismo latino com sabor a dolce far niente…. Verdade que três dias não falam pela “vida” de um carro. Mas que é diferente e para muito melhor, não tenho dúvidas.

Passamos ao volante. A bacquet é mais bonita do que cómoda, apesar dos variadíssimos controlos elétricos de regulação. O apoio lateral é tamanho que rouba profundidade ao banco para um encaixe mais perfeito do corpo. Talvez não tenha acertado com a regulação. Insisto: podia ser melhor.

Isto não foi o suficiente para roubar um segundo de prazer que fosse ao que veio depois de ligar o motor. O Giulia Veloce não tem aquela musicalidade das máquinas italianas mesmo que o diesel tenha interessante sonoridade e nada a ver com aquele matraquear resistente à melhor insonorização. É diferente…  Bom trabalho fizeram aqui os italianos.

Decisivo para o mais é o resto. Eu reconheço que não será o mais fantástico dos diesel, num grupo que começou a diferença com o motor do Thema e lançou a injeção commom-rail no 156… em Lisboa. Mas, com os seus 210 cv e os 470 Nm de binário logo às 1750 rpm, a “festa” começa bem cedo. A direção direta, a caixa automática ZF de oito velocidades, rápida e rigorosa, a envolvência daquele espírito tão especial que valeu a designação de cuore sportivo conquistam-nos e conduzem-nos para o plano do puro prazer, cada vez mais problemático…

Que belo carro!

Que bem rola, que bem curva, que bem gere aquela transmissão, que bem nos faz perceber a diferença da tração integral. E como trava em vez de desacelerar.  Que belo carro.

Eu sei, todos sabemos, o esforço que a Alfa continua a fazer para combater uma imagem menos positiva. Com sucesso relativo, porque as vendas são o que são mesmo reconhecendo que a qualidade da construção atingiu outro patamar… E que as coisas mudaram muito… Tanto que chego a pensar que até já se tornaram injustiça os números de um emblema carregado de história e capaz de um carro assim. E este é só o diesel… Mas o mercado é soberano e quem compra e depois vende é que sabe.

O que eu sei e não esqueço é que guiar um carro assim, com alma e coração, não se esquece. “Alfista” ou não, é difícil não nos deixarmos embalar pela capacidade e pelo equilíbrio combinados com mestria no Giulia Veloce. Esmagador? Nem tanto! Arrebatador quanto baste, com certeza, o suficiente até porque hoje as coisas são diferentes e a cada esquina espreita um valente desgosto. E quando se vai ao DNA e se opta pelo modo Dynamic e tudo muda, a direção, a rapidez da caixa, a suspensão o melhor é pensar apenas em guiar, fruir um prazer que se transforma em mais confiança a cada curva, sobre carris e sem balanços, mesmo que fique aquela sensação de que a traseira alarga e ajuda na trajetória. E sempre com a convicção de que até podia ser mais depressa e já nem era devagar…

O ritmo da prosa encomiástica podia continuar, mas está entendido que fiquei rendido. É claro que nem tudo é perfeito. Os consumos, a andar assim, são um desastre para um diesel. Mesmo devagar fiquei sempre longe das promessas, mas alguém compra um alfa para fazer contas ao consumo? Eu digo: 7,9 litros aos 100, com cuidado; 12,9 a pensar só em mim….

Defeitos? Também há, claro: o espaço atrás, medíocre para as pernas, o próprio acesso e a mala estão longe de ser brilhantes para um familiar. Mas este Giulia Veloce representa o Alfa e é uma pena que outras gerações não possam experimentar um automóvel a diesel assim. São os tempos… Os velhos e os novos! Se for um adeus, será marcante! O grupo Fiat/Chrysler admitiu que poderá deixar de produzir motores diesel até 2022.

Em termos de equipamento, um pacote razoável. Mas, dado o preço, desafio difícil aos premium, até se poderia admitir mais. Um Alfa é sempre um Alfa – nunca foi para todos, por variadíssimas razões… A mais simples, o facto de ser um automóvel de paixão.

FICHA TÉCNICA

Alfa Romeo Giulia Veloce

Motor: 2143 cc, turbodiesel, injeção commom-rail, start-stop

Potência: 210 cv/3750 rpm

Binário máximo: 470 Nm/1750 rpm

Transmissão: integral, caixa automática ZF de oito velocidades

Aceleração 0-100: 6,9 s

Velocidade máxima: 235 Km/h

Consumos: misto – 4,7 litros/100; estrada – 4; urbano – 5,8

Emissões CO2: 122 g/km

Preço: desde 55 480 euros