Um VW T-Roc com 1.5 TSI de 150 cv capaz de desligar os quatro cilindros merece ser olhado com atenção. Estilo à parte, impressiona sobretudo pelo comportamento e pela sua relação com o conforto. Mexe-se bem e promete consumos razoáveis. O digital já tomou conta da instrumentação. Uma proposta interessante.

Inesperada capacidade dinâmica é a primeira imagem que guardo do “palmelense” Volkswagem T-Roc. Grande eficácia em curva, com resistência evidente ao balanceamento da carroçaria, potenciada no modo Sport, mas convincente nos mais usados Eco ou Confort: não estava à espera de tanta agilidade, mesmo sabendo da qualidade da plataforma (MQB) em que assenta o mais pequeno SUV (por agora…) da VW. O bloqueio eletrónico do diferencial (XDS) é uma importante ajuda e traz uma capacidade digna de registo a um carro que também beneficia de um centro de gravidade baixo face à mais badalada concorrência. Gostei!

Este é o mais evoluído motor a gasolina na linha da VW, valorizado pela tecnologia de gestão ativa dos cilindros (ACT), capaz, consoante a carga do motor, de cortar dois cilindros, primeiro, mas também os quatro cilindros sem pôr em causa a segurança e garantindo uma lógica poupança de combustível

Daqui é natural o salto para o conforto, também ele em bom plano, a ponto de a suspensão nem parecer tão seca como é habitual no “tratamento” alemão. E como o T-Roc até assentava em jantes de 18 polegadas – que dão outro peso ao SUV –, bem sei que com perfil alto, fiquei ainda mais convencido do acerto da escolha que nos oferece um bom compromisso entre comodidade e eficácia.

Para esta experiência ao volante de um carro que considero não surpreender pela estética, muito na linha convencional de outras propostas que encontramos na oferta do grupo a este nível  (Audi Q2 e o mais pequeno Seat Arona), escolhi o 1.5 TSI de 150 cv porque queria confirmar as capacidades de economia para que tinha sido “alertado”. Este é o mais evoluído motor a gasolina na linha da VW, valorizado pela tecnologia de gestão ativa dos cilindros (ACT), capaz, consoante a carga do motor, de cortar dois cilindros, primeiro, mas também os quatro cilindros sem pôr em causa a segurança e garantindo uma lógica poupança de combustível. É a chamada função “coasting” que “cala” o motor quando tiramos o pé do acelerador até aos 130 km/h, mas tem a capacidade de reagir prontamente a uma travagem e não apenas ao acelerador. Quando o sistema está ativo – e nem de se dá por isso – surge a informação no painel de instrumentos. Só não funciona quando acionamos o modo Sport. Impressivo!

O modelo que guiei tinha uma caixa manual de seis velocidades – com a DSG de 7 velocidades será, seguramente, outra coisa – que gere com competência os 150 cv e os 250 Nm de binário máximo logo às 1500 rpm. O resultado é um motor generoso, que “cresce” com naturalidade, mesmo sem espantar – para encontrar mais vida, e sem surpresa, importa ir ao seletor de velocidades. Numa condução descansada, é mais do que suficiente para se afimar como estradista agradável e despachado q.b.

Não registei consumos tão baixos quanto me tinham prometido ser fácil, mesmo ao ritmo do passeio dominical, mas verdade também não tive ocasião de fazer longos percursos continuados em autoestrada com o cruise control ligado. Consegui baixar dos 7 litros, numa condução virada para a poupança, e 7,2 num combinado com cidade e estradas secundárias.  A média geral do computador marcava 8,1 litros aos 100 para 4300 quilómetros. Façam as contas.

Plásticos a mais

A construção, como é hábito, dispensa críticas, mas o mesmo não pode dizer-se dos materiais do habitáculo. Cada vez há mais plástico nos VW – resta um forro em tecido no apoio de braços da porta. Tudo aquilo pode ser bom, até inspira confiança porque a montagem é irrepreensível, mas na concorrência há plásticos mais agradáveis ao toque e até singulares no apelo, por exemplo com acabamentos a sugerir o pespontado da pele. A rever!

O estilo do interior respeita uma filosofia cada vez mais transversal na marca e a nota de diferença, neste caso, vai para o Active Info Display, complementado por um ecrã tátil central de 8 polegadas – um mundo exclusivamente digital e, claro, aparatoso. Não faltam funções nem informação ou conetividade, mas a lógica do sistema é pouco intuitiva e necessitamos de algum tempo até darmos conta de tudo e gozar com naturalidade, por exemplo, as diversas apresentações do painel da instrumentação.

A consola integra a climatização, duas entradas USB e tem espaço para o telemóvel e a carteira. No prolongamento, o travão de mão elétrico com “auto hold” e um apoio de braços que cobre um pequeno cofre.

Enfim, um ambiente sóbrio, muito rigoroso, bem alemão.

Em matéria de habitabilidade, o T-Roc cumpre, com o que pode esperar-se de um carro com 4,23 metros de comprimento e 2,59 de distância entre eixos. Atrás, o espaço é razoável, mas o túnel e o extremo da consola com as saídas da climatização penalizam a comodidade de um terceiro passageiro.

A bagageira anda ao nível as melhores, com os seus 445 litros de capacidade. O plano de carga está elevado, mas é difícil melhor num SUV. O banco traseiro é bipartido (60×40) e rebate da forma convencional, puxadores nos extremos do recosto, proporcionando um fundo quase plano. O apoio de braços central pode abrir permitindo o transporte de objectos compridos.

Um carro agradável de guiar, sem dúvida, naquela posição mais elevada própria dos SUV, no caso bem sentados e com as regulações necessárias para a melhor adaptação. E que conta com um razoável nível de equipamento em que importa destacar ajudas à condução como a travagem de emergência em cidade com deteção de peões. Acrescem: volante multifunções em pele, ar condicionado automático, faróis em LED com luzes de curva e de nevoeiro, cruise control adaptativo, Active Info Display, ecrã de 8 polegadas, câmara traseira, barras no tejadilho. A versão ensaiada contava ainda com jantes de 18 polegadas (592 euros), teto panorâmico (1141 euros), Pacote Sport Plus (621 euros), retrovisores rebatíveis eletricamente (158 euros) proteção proativa dos passageiros (146 euros), App connect (184 euros) e pintura especial (150 euros). Somado: 2 992 euros em opcionais a atirar o preço para a casa dos 34 300 euros.

 

FICHA TÉCNICA

VW T-ROC 1.5 TSI SPORT

Motor: 1498 cc, turbo, injeção direta, intercooler, ACT, start/stop

Potência: 150 cv/5000-6000 rpm

Binário máximo: 250 Nm/1500-3500 rpm

Transmissão: caixa manual de 6 velocidades

Aceleração 0-100: 9,2 segundos

Velocidade máxima: 205 km/h

Consumos: média – 5,4 litros/100

Emissões CO2: 122 g/km

Bagageira: 445/1290 litros

Preço: desde 29 067 euros; versão ensaiada – 34 300 euros