Arrasador não será. Divertido como poucos, não restam dúvidas. Rápido, ágil, entusiasmante o Abarth 124 Spider GT é uma competente homenagem a um dos modelos com que a Fiat brilhou no Mundial de ralis e ao qual os tais finlandeses voadores deram mesmo asas. Nem lhe falta o hardtop. Guiei a versão de caixa automática e acho que vou ficar com a música do motor 1.4 de 170 cv muito tempo nos ouvidos…

Como é sabido, este 124 Spider foi desenvolvido de forma muito pragmática. A Fiat foi à Mazda buscar a plataforma do MX-5, o roadster mais vendido no mundo, pediu aos seus estilistas que dessem um “toque” na carroçaria ao estilo da melhor moda italiana – mexeram na grelha, para-choques, óticas, capô (com duas bossas à imagem do modelo dos anos 60) – e, depois, “puxou” dos génes e aplicou a sua interpretação para operar as mudanças que pudessem estar de acordo com a tradição de uma designação histórica. E isso implicou ir à procura de aptidões mais desportivas. E a verdade é que conseguiu um produto singular, o qual, no caso deste  Abarth Spider 124 GT, não é para todos…

Desde logo porque o hardtop em fibra de carbono, peça que junta estilo e tecnologia em escassos 16 quilos, não é coisa de tirar-e-pôr facilmente – implica ligação com parafusos. Logo ou um carro para duas estações, porque a capota de lona está lá para servir os incondicionais dos descapotáveis, ou a assunção de que o 124 GT faz mais sentido como coupé… bem interessante, pelo menos para o meu gosto. Obviamente, com esta “receita” há outra rigidez torcional  e também outra visibilidade traseira. E mantém-se o equilíbrio na distribuição do peso – 50:50.

Bem apresentado, recuperação interessante da imagem de um carro histórico para a Fiat, com o hardtop em fibra de carbono, o Abarth 124 Spider GT destina-se a quem pretende mais do que o roadster para passear. Rápido e ágil, “música” inconfundível deixa marcas em quem o guia. E, claro, a exclusividade paga-se

Resolvido este problema, haverá outra escolha a fazer: sim ou não à caixa automática. Calculo que a maioria vá pela tradição. Neste caso, concedo o benefício da dúvida: a transmissão esseesse de seis velocidades não é um modelo de rapidez, com as patilhas no volante e em modo Sport, o comando sequencial muda as coisas, mas fica sempre a sensação de que podia ser melhor. Em condução rápida e em percurso exigente, de todo o modo, pouco a dizer: a subida de rotações é pronta no arranque e no crescendo, na resposta às travagens não há baralhações, já a recuperação é menos convincente. Para rodar em estrada rápida, nada mais cómodo do que engrenar o “D”!

Um “toque” italiano na base japonesa

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Sonoridade que nos embala

O motor 1.4 com 170 cv e um binário simpático (250 Nm/2500 rpm) tem a alegria que dele se espera e, para o vincar, uma sonoridade que nos embala. É pormenor muito bem trabalhado, através de sistema Record Monza, dual mode com quatro terminais – uma orquestra bem afinada com tendência para o fortissimo… que faz virar muitas cabeças.

Direção muito direta, travões Brembo, suspensão trabalhada e com amortecedores Bilstein, durinha (sonora e menos tolerante nos maus pisos), o tração traseira com autoblocante mecânico porta-se com galhardia quando se lhe exigem as credenciais. Bem mandado, mas sem dispensar que o conduzam, curva com à-vontade, “ajeita-se” ao seu caminho com balanço dócil e, quem quiser, pode “cortar” o ESP, o qual não se coíbe de intervir, sem repelões, naquelas zonas mais empenhativas quando se pisa o risco. De outro modo, haverá que jogar sempre com a deriva da traseira, controlável sem grandes problemas mas, claro, sempre com algum frisson… pois é tudo sempre depressinha.

O ambiente difere muito pouco daquele que se conhece do Mazda MX-5. A diferença maior são os bancos, que ostentam a gravação Abarth e pediam mais apoio lateral, outro “encaixe”. São forrados a pele e alcantara, igualmente também utilizada para forrar a base do tablier e torná-la menos plastificada. A instrumentação passa por um conjunto de três círculos com conta-rotações em posição central e, à direita, um velocímetro com grafismo a pecar pela reduzida dimensão dos números. Ecrã central, consola e a caixa que serve de porta luvas entre os bancos, replicam as soluções do ascendente nipónico.

Espaço reduzido no habitáculo, acanhado já se sabe, na mala também, limitada a 140 litros e com “boca” estreita. Quem viaja ao lado é ainda penalizado na movimentação das pernas, em virtude da bossa criada para cobrir o intercooler. Vem de longe a solução na Mazda e, pelos vistos, também não preocupou a Fiat, pois nunca impediu que o roadster original venda como pãezinhos quentes em todo o mundo. Afinal, a filosofia é a de que quem goza está ao volante…

Consumos “à escolha”

Em termos de consumos, tudo dependerá muito do ritmo escolhido, sobretudo quando se procura o divertimento naquelas estradas ziguezagentes onde o carro se sente como peixe na água… Os dois dígitos são vulgares se não houver preocupações, mas é possível andar na casa dos 8,5/9 litros aos 100. Fiquei com a ideia de que economia é para esquecer…

Este Abarth 124 Spider GT tem equipamento razoável e junta ao hardtop em fibra de carbono, jantes OZ em liga ultraleve de 17 polegadas, bancos pretos e vermelhos em pele aquecidos, volante multifunções, caixa automática de seis velocidades com patilhas no volante, cruise control, ecrã de sete polegadas (comando rotativo na consola) com rádio Bose, sistema de travagem Brembo com pinças em alumínio vermelho, suspensão desportiva Bilstein, selector de modo Sport, sistema de proteção ativa contra atropelamentos, faróis traseiros em LED, rádio Bose. Este acrescentava 6 650 euros de extras, a saber: faróis full-LED adaptativos com lavagem, sensores de chuva, luz e estacionamento (1800 euros); kit Abarth, designadamente com capô e mala em preto mate, inserções vermelhas nos retrovisores e grelha, escape Record Monza (3100 euros): sistema mãos livres, navegação e câmara de estacionamento traseira (1000 euros); pintura em cinzento Alpi Oriental (750 euros)

Bem apresentado, recuperação interessante da imagem de um carro histórico para a Fiat, com o hardtop em fibra de carbono, o Abarth 124 Spider  GT destina-se a quem pretende mais do que o roadster para passear. Rápido e ágil, “música” inconfundível deixa marcas em quem o guia. E, claro, a exclusividade paga-se.

Meio século de memórias

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FICHA TÉCNICA

Abarth 124 Spider GT

Motor: 1368 cc, gasolina, turbocompressor, intercooler

Potência: 170 cv/5500 rpm

Binário: 250 Nm/2500 rpm

Transmissão: traseira, autoblocante mecânico, caixa automática esseeesse de seis velocidades com patilhas no volante

Aceleração 0-100: 6,9 segundos

Velocidade máxima: 229 km/h

Consumos: misto – 6,6 litros/100; estrada – 5,2; urbano – 9,1

Emissões CO2: 153 g/km

Bagageira: 140 litros

Preço: 53 121 euros, versão ensaiada; desde 48 000 euros