O Citroën C3 Aircross é um carro para gente de espírito jovem. Desde logo pelo estilo e pela imagem irreverente. Até a paleta de cores e a possibilidade da sua combinação ajuda. Interessante é descobrir que a ideia transmitida não engana. Os caminhos florestais são mesmo o seu terreno de eleição! Guiei um Pure-Tech 1.2, três cilindros gasolina com caixa automática e 110 cv de potência. Menos simpático, só o consumo… E também há mais barato.

Um todo-o-terreno? Claro que não. Um SUV atrevido a partir de outra interpretação estética? É o que reclama a Citroën que  também lhe chama crossover e até viu este modelo – finalista do Carro do Ano Internacional – premiado como SUV urbano… Classificações (ou confusões) à-parte, acima de tudo, para mim, uma originalidade que resulta num carro versátil – na utilização e na gestão do espaço, através de prática modularidade.

Do ponto de vista dinâmico, é uma proposta interessante no que respeita ao binómio comportamento-conforto, este assente na tradicional suavidade própria da Citroën. É um bom rolador no alcatrão, cómodo porque também razoavelmente espaçoso e desafogado, com ajuda da altura da carroçaria. E tendo este pormenor em conta, impõe-se registar a forma como o Aircross curva e, sobretudo, como, quando mais depressinha, resiste às transferências de massas, mesmo as mais bruscas, sem que a bordo nos sintamos aos baldões. E, atenção, os bancos nem oferecem grande apoio lateral. A frente moleja quando se força, é verdade, mas nunca temi o alargamento da trajetória para lá do pedido ao volante nem que da exigência posta ao chassis pudesse resultar qualquer “descompostura” difícil de sanar, aliás situação combatida, prontamente, pelo controlo de estabilidade.

Na cidade, beneficia também do conforto da suspensão, desafia com à-vontade os piores pisos, a manobrabilidade dispensa comentários, e para quem entende que os lancis dos passeios não devem constituir obstáculo, o Aircross represente mais valia: sobe e desce sem temores e, quase de certeza, os para-choques nunca vão tocar o chão.

A distância ao solo, 20 cm, representa contributo importante e o desembaraço do Aircross nas estradas florestais é, no mínimo, divertido. (…) Notável, o à-vontade demonstrado!

Fora de estrada, o conhecido Grip Control, com as cinco regulações que facilitam a vida em diferentes pisos (areia, e lama, por exemplo) mesmo com as limitações de não ser um 4×4, e o Hill Assist Descent ajudam a inspirar confiança – pelo menos, convidam os mais afoitos a outras experiências. A distância ao solo, 20 cm, representa contributo importante e o desembaraço do Aircross nas estradas florestais é, no mínimo, divertido. A caixa automática de seis velocidades que gere os 110 cv deste PureTech brilha sempre mais nestas condições, fazendo a gestão parcimoniosa do esforço e da aceleração. Notável, o à-vontade demonstrado!

Consumos menos convincentes

Continuo a gostar do motor de três cilindros 1.2 a gasolina do Grupo PSA e da caixa japonesa da Aisin, neste caso seis velocidades e comando apenas no seletor, a que recorrem. É despachadinho, mesmo que não deslumbre em termos prestacionais (10,6 s de 0 a 100; 183 km/h em velocidade de ponta).Desta vez, no entanto, o resultado prático pode deixar alguns menos convencidos, no que respeita aos consumos. Em cidade, ver 10,9 litros/100 registados no computador de bordo (para 40 km) parece demais num produto deste nível. Na estrada, entre as secundárias e a autoestrada com cruise-control nos números regulamentares consegui 7,3 litros aos 100 (150 km). Média, incluindo a cidade: 8,1! Pouco ou muito? Já fiz melhor com este motor e sou capaz de aceitar que, neste caso, a caixa manual pode garantir outra economia. Já agora registo para o facto de os consumos verdadeiramente dispararem quando se pisa muito forte o acelerador e se sujeita o Aircross ao desrespeito e aos maus tratos. Ele não se porta mal, mas quem queira brincar “às corridas” terá um dissabor estampado nos números do consumo… O carro também não é para isso!

Espécie de sobreposição harmónica de dois blocos Lego sem arestas, cintura bem alta e tejadilho quase plano, contrariando a “queda” para o coupé, o Aircross é o que pode dizer-se um carro engraçado e com proporções equilibradas (4,15 de comprimento, com 2,60 entre eixos; 1,76 de largura; 1,64 de altura). O tratamento elaborado da frente, luzes em dois patamares e elementos identificativos com o espírito de evasão e a vida ao ar livre, dá-lhe um rosto simpático, muito vincado por maquilhagem modernaça. Só me parece dispensável a “grelha” de barras coloridas que cobre o vidro para aligeirar a custódia. Deve haver quem goste. A traseira está bem resolvida, tudo o mais é muito simples, fluido, a sugerir o que se constata, uma valorização do lado prático e útil do automóvel.

O interior transmuta este espírito, é outro espelho de juventude e irreverência, em base muito simples. Uma barra em tecido “corta” o tablier e ameniza os plásticos habituais a este nível. Nada de brilhante, mas também longe de ser rude. Vistoso!

Espaçoso e prático

A posição de condução é elevada, os bancos têm pouco apoio lateral, mas senti-me bem e entrosei-me facilmente. A instrumentação é o quanto baste, está tudo à mão e o grande ecrã, tátil, que hoje marca os produtos da marca exibe tudo aquilo quanto, a este nível, se exige em termos de informação. Abaixo: botão da ignição, comando rotativo do Grip Control e interruptor do Hill Descent Control. Eficaz!

Na consola, dois frisos metálicos a rematar a ligação ao tablier e um interessante entorno para o seletor de velocidades e o original travão de mão, espécie de punho, menos prático com o encosto de braço para o condutor em baixo, compõem o ambiente. Não faltam a tomada de 12 volts e a porta USB.

Atrás, banco muito simples, duro, com assento curto e costas reclináveis (incómodo na posição quase vertical) para potenciar a bagageira, vale a nota mais baixa. A possibilidade de avanço (e repartido) do banco é mais um pormenor a valorizar a modularidade. O espaço para as pernas é bom e como os bancos dianteiros estão elevados resulta fácil estender os pés. A altura do habitáculo não levanta problemas e contribui para um acesso fácil.

A bagageira (410 ou 520 litros consoante a posição do banco) é razoável, penalizada, todavia, pela altura e o desnível do plano de carga. O fundo tem duas posições, o que permite uma plataforma quase plana quando se rebate o banco traseiro (1/3-2/3 – apoio de braço pode funcionar para facilitar o transporte de objetos compridos) ou aproveitar o espaço inferior para separar diferentes tipos de bagagem. O banco do passageiro rebate também para a frente o que permite uma plataforma com 2,40 metros.

A versão Shine, topo da oferta, contempla acesso e arranque mãos livres, alerta de transposição de faixa, ajuda ao estacionamento traseiro, ar condicionado automático; ecrã de 7 polegadas, mirror screen, bluetooth, navegação, jantes em liga de 16 polegadas. A lista de acessórios, alargada e convidativa, passa pelo tejadilho panorâmico de abrir, câmara de marcha atrás e head-up display com reconhecimento de sinais de velocidade. E as combinações de cores proporcionam algumas escolhas bem irreverentes. O preço sobe, a qualidade de vida a bordo melhora!

Em termos de balanço direi que este contacto deu para perceber a razão de o C3 Aircross figurar entre os sete finalistas do Carro do Ano Internacional. Para mim, com todo o merecimento!

 

FICHA TÉCNICA

Citroën C3 Aircross Shine 110 cv EAT6

Motor: 1199 cc, três cilindros turbo, gasolina, injeção direta, start/stop

Potência: 110 cv/5500 rpm

Binário máximo: 205 Nm/1500 rpm

Transmissão: caixa automática, seis velocidades

Aceleração 0-100: 10,6 s

Velocidade máxima: 183 km/h

Consumos: média – 5,6 litros/100; estrada – 4,8; urbano – 6,7

Emissões CO2: 126 g/km

Bagageira: 410-520/ 1289 litros com bancos rebatidos

Preço: 22 400 euros: versão Feel – 20 300 euros (entrada de gama –15 900 euros)

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