Máquina muito interessante o novo Alpine. É claro que a afirmação está longe de surpreender, outra coisa não era de esperar. Trabalho notável na recuperação da imagem de um desportivo que tem tudo para fazer jus à memória de uma saga gravada a letras de ouro no desporto automóvel. Não é barato, 66 mil euros! Mas também, como costuma dizer-se, é só para alguns. Felizardos  –  digo eu… Um brinquedo de luxo!

Guiar o Alpine é reviver toda a magia das extraordinárias berlinetas dos anos 70 num desportivo que não precisa de ser arrasador para se revelar surpreendente. Não se esquece a sua condução e a magia que recupera e nos faz reviver.

Importa, primeiro, falar da máquina que conquista com a “voz” de um baixo poderoso, daqueles que enche a grande sala de ópera. É uma música que faz-nos vibrar no habitáculo, prenúncio de grande gala. Esmagador? Não irei tão longe, afinal 252 cv hoje são quase bagatela. Mas aquele combinado do motor 1.8 turbo em posição central, grande equilíbrio de massas (44/56), tração traseira, peso reduzido, direção direta e volante perfeito, travões (Brembo) longe de ser meros desaceleradores, tudo isso mais o centro de gravidade baixo, as bacquets Sabelt que nos “colam” à ação fazem do Alpine um divertimento, primeiro; depois um desafio que acaba por impor respeito.

 desportivo conquistador este Alpine que recupera a magia das célebres berlinetas francesas. Ambiente bem conseguido, moderno, imagem de elegância, revela a dinâmica esperada, sem ser um carro esmagador. O preço paga a exclusividade de um divertido brinquedo de luxo. Se comprar amanhã, recebe em 2020…

Os puristas lamentarão talvez a caixa automática de dupla embraiagem e sete velocidades (Getrag), e, provavelmente, engolirão sapos para dizer que a receita, afinal, está muito bem condimentada – os técnicos sabiam o que faziam. E se usarem o botão mágico no volante que aciona o modo Sport (ainda falta o Track), até ficam com pouco tempo para pensar. Ela resolve por si a relação acertada a engrenar, ao ritmo do acelerador e do travão, mas aceita muito bem as patilhas (fixas atrás do volante), com um tempo de resposta bem interessante.

E o mais notável é que noutro registo, na condução de passeio, o comportamento impressiona por nem ser preciso recorrer às patilhas para encontrar a velocidade certa para uma condução serena – segunda, terceira, quarta… até parece que o Alpine percebe a intenção de se mostrar discreto, bem comportado e competente. Notável.

Aceleração vibrante

Impressionante, sempre, é a aceleração, mais explosiva no modo Sport, o suficiente no modo normal para se manterem ritmos elevados. Como não podia deixar de ser, carregando fundo no acelerador passa-se tudo mesmo bem depressa, mas é preciso olhar para o velocímetro para ter a noção exata de como sobem os três dígitos…

A naturalidade com que o Alpine galga rotações é tão impressiva como a capacidade em curva. Pode travar-se tarde, ele até gosta para soltar mais a traseira. A frente não perde a compostura e há aquela sensação de escorregar às quatro rodas controlável com o acelerador e um “acertozinho” de direção. Brilhante, tanto mais que as ajudas eletrónicas, que até podem desligar-se, passam despercebidas mesmo quando, depois de um “aperto” em estrada ziguezagueante, sabe bem aliviar a pressão no acelerador para respirar fundo. Uff…

Mas há mais, este comportamento é ainda abrilhantado por um compromisso de suspensão que impressiona pela suavidade, mesmo que esteja lá a firmeza do desportivo que até se queixa com alguns ruídos sobre o nosso empedrado. Não se pode ter tudo, e a verdade é que até apetece perdoar, tamanha a empatia e a envolvência que se criam com este Alpine.

Ambiente ajuda

O ambiente a bordo também ajuda, desportivo minimalista, o bom gosto francês, a modernidade que conquista e que passa, claro por uma digitalização completa, no caso contemplando um ecrã central de sete polegadas e dois cenários para o painel de instrumentos – um deles, mais dinâmico, para o modo Sport.

A consola suspensa é um modelo de arrumação: abertura para o cartão do sistema mãos livres, os botões da caixa automática – Drive, Neutral e Rear – que dispensa o Parque, elevadores dos vidros, o botão start/stop vermelho, travão de mão elétrico, e como habitualmente, nos Renault, os botões do cruise-control e do limitador de velocidade. Por baixo, a entradas USB e AUX e um espaço para guardar as miudezas. Não há porta-luvas, substituído por uma caixa entre as costas dos bancos e uma pequena rede ao lado, sob a carteira dos documentos…

Nada que surpreenda num carro assim que não é para passear a família nem fazer grandes viagens com bagagem: 100 litros à frente (dois pequenos trolleys) e 96 atrás, um saco e dois capacetes diz a Renault…

Estilo marcante

Em termos de estilo, este Alpine é um daqueles carros para o qual ninguém deixa de olhar – equilibrado, vistoso sem perder sobriedade, elegante. E os mais velhos identificam nele os genes da famosa berlineta que fez sonhar tantos apaixonados do desporto automóvel.

Vale a pena falar de consumos num carro assim? Pois bem, forçando, é claro que se avança pelos dois dígitos, mesmo sem que os números sejam de assustar; para andamentos normais, 8,5/8,6 litros aos 100. Aceitável!

Um desportivo conquistador este Alpine que recupera a magia das célebres berlinetas francesas. Ambiente bem conseguido, moderno, imagem de elegância, revela a dinâmica esperada, sem ser um carro esmagador. O preço paga a exclusividade de um verdadeiro brinquedo de luxo. Se comprar amanhã, recebe em 2020…

No famoso Col de Turini, troço fechado, com Nicolas Lapierre ao volante, “anda” assim o Alpine A110

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FICHA TÉCNICA

Alpine A110 Pure Légend

Motor: 1798 cc, turbo, injeção direta

Potência: 252 cv/6000 rpm

Binário máximo: 320 Nm/2000-5000 rpm

Transmissão: traseira, caixa automática Getrag de dupla embraiagem com sete velocidades

Aceleração 0-100: 4,5 segundos

Velocidade máxima: 250 km/h (limitada)

Consumos: média – 6,1 litros/100

Emissões CO2: 138 g/km

Bagageira: 100+96 litros

Preço: 66 000 euros