Eu não posso dizer que me surpreendo com os consumos dos híbridos da Toyota. Tornei-me fã desta solução e os cinco litros redondos alcançados ao volante de uma carrinha Auris são apenas confirmação do domínio desta tecnologia pela marca japonesa, pioneira desta solução confirmadamente com rodas para andar nestes tempos de euforia elétrica.

Consegui este resultado guiando como acredito que faz a maioria dos portugueses em estrada e autoestrada, sem correrias e, neste caso, cruise-control “colado” aos 120 km/h. É verdade que até cheguei a consumo inferior, guiando ao ritmo do passeio domingueiro, ainda assim sem pisar ovos… Eco Mode e EV ligados, claro, e dei comigo a ver o indicador da carga da bateria sempre além do meio e a regenerar mais depressa do que esperava.

Estes automóveis convidam-nos a conduzir de outra maneira, verdade, e a ter outra noção do rendimento. Convém frisar que fiz parte do grupo dos céticos e estou rendido aos híbridos. Aprendemos, de facto, a guiar de outro modo e com resultados interessantes mesmo quando se pretende andamento um pouco mais vivo.

Uma proposta interessante, válida sobretudo pela solução híbrida e pelo que pode representar em economia, associada a uma imagem interessante, mas também a alguma vulgaridade no ambiente a bordo, sobretudo quando se atende ao preço

Quando se liga o PWR (Power mode) a resposta do motor 1.8 de 136 cv e 142 Nm de binário máximo, mesmo sem surpreender atendendo ao nível de potência, é um pouco melhor. Também o desconforto, o ruído e a sensação de arrasto da caixa automática de variação contínua, embirração que não venço, mas percebo e aceito – afinal vendem-se milhões de automóveis com estas transmissões. E neste caso um e outra estão bem presentes e até nem contribuem para a esperada rapidez na retomada de aceleração considerando o “reforço” da ajuda do motor elétrico e do seu significativo binário (207 Nm)…

Equilíbrio bem gerido

Seja como for, verdade que as coisas se passam mais depressa, mesmo que a carrinha Auris esteja longe de ser uma máquina – como provam as prestações banais. Mexe-se com honestidade e, como curva a preceito, a nota até merece suficiente mais. A suspensão é um pouco seca, direção e travões estão ao nível da oferta no segmento, e a Toyota, reconhecidamente, gere bem estes equilíbrios.

O consumo sobe para a casa dos 5,6 litros aos 100, ainda assim menos do que os 6,2 que o computador registava como resultado, quando peguei nesta carrinha depois de muitas andanças, experiências diversas e muitos estilos de condução. Parece-me que este valor não é para quem faz a opção por um híbrido, e decididamente, opta pela procura de melhores consumos, e eventualmente terá ainda preocupações ambientais. Não é para isso que serve um híbrido? Adiante.

A nova Auris é uma carrinha interessante do ponto de vista estético e como nem tem aquele grande “X” dianteiro que se tornou imagem Toyota, ganha sobriedade sem deixar de ter uma imagem jovem nesta nova versão Freestyle. Distingue-se pela grelha preta e a proteção plástica a toda a volta, reforços inferiores em alumínio à frente e atrás, elementos próprios dos carros fadados para uma utilização de lazer e mais aventureira – ao estilo dos SUV. Enfim, as jantes de 17 polegadas completam o toque de irreverência desta segunda geração Auris, sempre de perfil simpático, cintura alta e com um portão bem resolvido.

Interior vulgar

O interior é simples. Dois frisos em alumínio e uma barra em pele pespontada, algumas molduras em piano black amenizam o peso do plástico no tablier, plástico de qualidade, sem dúvida, mas a pedir mais ductibilidade, toque mais agradável. A construção rigorosa disfarça as coisas, mas falta detalhe. Consola austera, forros das portas em tecido vulgar, volante multifunções em pele, nada surpreende: simples e, parece, à procura de uma solução que não comprometa o preço nem penalize em demasia a qualidade. Vulgar!

Atrás, bom espaço para as pernas, favorecido pela quase ausência do túnel central tão baixo é, mas largura mediana quando se pensa em habitabilidade para três. E, neste caso, com a certeza de que quem for ao meio “leva” com o recosto rebatível dos braços como suporte mais duro do que os dois lugares desenhados no banco. Só há bolsa nas costas do banco do passageiro da frente. Acesso é razoável, como a distância ao tejadilho que evita aquela sensação desconfortável da necessidade de algum encolhimento quando ali nos sentamos. As portas não são muitos grandes e o ângulo de abertura é também ele banal.

A bagageira com 360 litros de capacidade é interessante, larga na boca e mais ampla na entrada, aproveitando a cava das rodas, ajuda para quem precisa de transportar sacos compridos, por exemplo. O plano de carga está mais baixo do que é costume, mas não alinha com o fundo. Sob o qual, não havendo roda sobressalente, há um espaço para ferramentas e pequenos arrumos. O banco rebate na proporção 60×40 e é acionável  nos ombros, como normalmente acontece, mas também através de práticos puxadores, nas paredes da mala.

A Auris Freestyle tem um nível de equipamento razoável, não dispensa as luzes diurnas em LED, tejadilho panorâmico, vidros traseiros escurecidos, ar condicionado automático, botão de arranque, câmara de marcha-atrás com guias, sensores de luz e chuva, máximos automáticos cruise control com limitador de velocidade, volante multifunções em pele, ecrã tátil a cores, com rádio e Bluetooth.

Uma proposta interessante, válida sobretudo pela solução híbrida e pelo que pode representar em economia, associada a uma imagem interessante, mas também a alguma vulgaridade no ambiente a bordo, sobretudo quando se atende ao preço. Paga-se a tecnologia, verdade, mas para aquilo que se paga talvez, a par de tecnologia, fosse de esperar um pouco mais na expressão da qualidade do ambiente, um pouco cinzentão.

FICHA TÉCNICA

Toyota Auris Touring Sports Hybrid Freetyle

Motor: 1798 cc, injeção eletrónica, start/stop

Potência: 136 cv/5200 rpm

Binário máximo: 142 Nm/4000 rpm

Transmissão: Automática, variação contínua

Motor elétrico:  650 V, síncrono de magneto permanente

Potência: 60 cv

Binário: 207 Nm

Aceleração 0-100: 10,9 s

Velocidade máxima: 180 km/h

Consumos: média – 3,6 litros/100: estrada – 3,5; urbano – 3,5

Emissões CO2: 82 g/km (média)

Mala: 360 litros

Preço: 29 796 euros (desde 26 396 euros)