Aprovado! Não podia ser por acaso que o BMW 116d, o segundo mais baratinho da família, alimenta o êxito de vendas do Série 1, para alguns surpreendente no quadro nacional. Pode haver uma moda, ideia de estatuto associada a ter um “BM”, mas a verdade é que este 1.5 de três cilindros e 116 cv deixa imagem convincente. É poupadinho, mexe-se bem – e o resto já sabemos.

Habituados a identificar a BMW com performance, também a ver o série 1 marcado pelos blocos de 2.0 litros de quatro cilindros do 118 d (150 cv) e 120d (190 cv), quando olhamos um 116d somos levados a crer que só pode tratar-se de um automóvel submotorizado. Obviamente, não podem pedir-se-lhe milagres prestacionais, sobretudo no arranque (10,3 s de 0 a 100). Mas, ainda que não seja brilhante na explosão revela-se, incontestavelmente, um carro equilibrado numa utilização normal. É suficientemente elástico e chega a surpreender nos baixos regimes, quando, por exemplo em quarta velocidade, na cidade, se deixa “cair” o motor até às 1500 rpm e basta o acelerador para recuperar uma marcha normal. É um argumento que contribui para um nível de agradabilidade de condução que coloco em patamar superior à média.

Crescendo aceitável

Na estrada, o crescendo do motor é aceitável – na casa das 2500 rpm somos convidados pelo computador a “passar” a caixa –, generoso a ponto de o acharmos mais vivo do que concorrentes com a mesma potência e motores equivalentes, até com quatro cilindros. Aliás, convém referir que fica à margem de quem está a bordo o facto de este bloco (o mesmo do Mini Cooper D) ser um tricilíndrico: não é ruidoso, a insonorização foi bem conseguida, e quaisquer vibrações passam despercebidas.

Uma proposta à medida de quem “entra” no mundo BMW e procura, essencialmente, um valor de qualidade e economia, num automóvel equilibrado, bem construído e que inspira confiança

Acrescem a estes factos as qualidades de um chassis que também ajuda a fruir o simpático 116d e promovem a empatia com um automóvel daqueles com os quais nos entrosamos com facilidade. Assertividade em curva, direção muito precisa, caixa agradável de passar, relações à medida de um diesel que não foi desenvolvido para ser uma máquina, travagem progressiva, apenas menos mordaz do que se espera de um BMW, para sermos rigorosos que se espera de ”outro” BMW… Um conjunto bem conseguido!

Tudo isto é resultado da utilização no modo Eco Pro, um dos quatro pelos quais podemos optar (funciona a marcha por inércia, para um poupança máxima). Será, julgo, a escolha da maioria dos proprietários de um carro como este, apostados, regra geral, em rentabilizar os aspetos relacionados com a economia. E esses podem registar que o 116d garantiu-me um consumo médio de 6,8 litros/100 em percurso suburbano, num andamento normal, sem preocupações de baixar os valores expressos no computador de bordo.

Na estrada, os utilizadores podem contar com valores entre os 4,7 e os 4,9 litros aos 100, rolando àquelas velocidades suscetíveis de não trazerem problemas nem custos inesperados.  É bom! Com quatro pessoas a bordo conte com mais 0,2 l/100. E também, é claro, com a necessidade de outra “ginástica” do motor, sobretudo quando a estrada empina e precisa de fazer em quinta aquilo que, provavelmente, faria em sexta com menos gente a bordo. Normal.

Escolha muda tudo

Há outro 116d quando, além do Comfort, por defeito a regulação normal, se opta pelo modo Sport e principalmente pelo Sport+ ( “corte” do ESP, intervalos de rotação minimizados entre as velocidades, melhor aceleração, entrada em funcionamento do controlo dinâmico de tração). A traseira solta-se mais e, mesmo com as limitações da potência, consegue-se outro nível de divertimento, sempre, registe-se, com elevada sensação de segurança. O Série 1 é um mimo em curva, “cola-se” ao chão, fixa o “eixo” e quando sujeito a transferências de massas mais bruscas responde com naturalidade.

A imagem do Série 1 é suficientemente conhecida. A versão que guiei era um Line Sport Shadow que ganha agressividade com a grelha preta e as jantes desportivas na mesma cor. O pacote acarreta também frisos específicos, a iluminação LED, incluindo os faróis de nevoeiro, e não há qualquer referência externa ao nível da motorização…

No interior, enriquecido pelos bancos desportivos (em tecido, replicado nas almofadas das portas), com melhor apoio lateral e lombar, volante multifunções em pele, pega excelente, encontramos aquele conhecido exercício de sobriedade da BMW. Plástico de qualidade, acabamento em material agradável ao toque e até com simulação de pespontado no forro do painel, material mais frio mas, nem por isso, sem uma sensação de acabamento aveludado na consola, marginada por friso em cinzento metálico que é também utilizado em conseguido contraste no tablier. Instrumentação simples até no grafismo limpo e desportivo. A meio, o ecrã (pequeno) de 6,5 polegadas no estilo habitual, comandado pelo conhecido sistema de botão rotativo na consola. Falta a navegação e faltam outras coisas que se pagam!

O ambiente do Sport é marcado pelo forro do tejadilho revestido a tecido antracite. A posição de condução dispensa críticas e as regulações (banco e volante) são as suficientes. O espaço é q.b. na frente, menos generoso, como se sabe, para as pernas dos passageiros da retaguarda. A mala anda pela parte de baixo da mediania (360 litros), pode ser compensada pelo rebatimento fácil (60X40) dos bancos traseiros (capacidade sobe para 1200 litros).

Em termos de equipamento uma oferta vulgar, que não dispensa o botão de ignição, rádio profissional BMW, com CD e Bluetooth, ar condicionado automático, retrovisor antiencandeamento, retrovisores exteriores com piscas em LED, sensores de estacionamento traseiros e cruise control com função de travagem.

As opções incluem a caixa automática (2 067 euros), suspensão adaptativa (1 137 euros) e a suspensão desportiva (351 euros).

Em síntese, uma proposta à medida de quem “entra” no mundo BMW e procura, essencialmente, um valor de qualidade e economia, num automóvel equilibrado, bem construído e que inspira confiança. Mas, atenção, se as prestações forem importantes para si, o pacote Sport não chega… Os 150 cv do 118d custam mais cerca de 7 000 euros.

FICHA TÉCNICA

BMW 116d  Sport 116 cv

Motor:  1496 cc, três cilindros, injeção direta common-rail,  turbo de geometria variável, start/stop

Potência: 116 cv/4000 rpm

Binário máximo: 270 Nm/1750-2250 rpm

Transmissão: tração traseira, caixa manual de seis velocidades

Aceleração 0-100: 10,3 s

Velocidade máxima: 200 km/h

Consumos: média – 4 litros/100; estrada – 3,6; urbano – 4,7

Emissões CO2: 104 g/km

Mala: 360/1200 litros

Preço: versão ensaiada – 35 804 euros; desde 30 780 euros