Os adeptos mais ferverosos da tradição BMW parecem não perdoar a tração dianteira no Série 1. E até vêem o carro menos interessante e vulgar. Guiei um simples 116d e não creio que a aposta que muitos consideram na “poupança” da marca alemã tenha levado a um produto criticável. Eu gostei! E vamos aguardar pelos números das vendas. Este Diesel mais barato tem preços a partir de 30 500 euros.

Ser puxado ou ser empurrado, ainda que o movimento resulte no mesmo, são coisas diferentes, se reduzirmos a esta imagem simplista a diferença entre a tração traseira e a dianteira, solução que há mais de meio século iniciou um caminho que está a generalizar-se, tomou conta dos carros mais pequenos e tem ido por aí acima. A condução do novo Série 1, sem surpresa, passa por outras sensações, mesmo que a eletrónica seja hoje factor determinante para domar o comportamento dos automóveis. Mas, na actualidade, será assim tão diferente guiar uma ou outra receita? A maioria dos condutores, quando o pode fazer, desliga as ajudas eletrónicas tornadas comuns? Acho que não! Estarei errado? Ora, a BMW, ao contrário da maioria, até se dá a originalidade de continuar a permitir a opção “pura” para outras emoções na condução… E faz diferença.

Admito e respeito que possa preferir-se um BMW Série 1 de tração traseira, mas isso não significa, do meu ponto de vista, que deva pôr-se em causa a eficácia do novo modelo de entrada da marca alemã. E não deve, sequer!

É um Série 1 mais diferente do que parece, o modelo de estreia da tração dianteira. Mantém aquele “feitio” especial da BMW e na versão mais modesta, o 116d, deixa boa impressão. Aqui está um automóvel que dá conta do recado com eficácia e deixa clara a evolução!

Não beneficiei das melhores condições de piso e só tive um motor de 116 cv para avaliar a capacidade do tudo-à-frente mais pequeno da BMW, mas, depois do que senti, não estou a ver a esmagadora maioria daqueles que o vão conduzir com motivo para críticas. O Série 1 mantém aquele “feitio” BMW e até a natural tendência subviradora tarda a sentir-se quando se força o andamento. Quem possa fazer comparações com a geração anterior, dificilmente dirá que não houve evolução. Mesmo a direção, com tudo à frente, tem resposta a contento. Dá prazer ao volante este 116d!

Herança do i3 S ajuda comportamento

Para este comportamento importa falar de uma herança do i3 S que é o ARB, no fundo um sistema que triplica a rapidez da entrada em ação do controlo de estabilidade e limita a tendência para o escorregamento própria dos automóveis com tração dianteira. Além disso, em travagem contribui para um comportamento neutral da direção. A eletrónica, pois claro…

O carro que conduzi tinha a suspensão desportiva M, 10 mm mais baixa e jantes de 17 polegadas. Obviamente, faz a sua diferença, mas facto é que a habitual firmeza consegue potenciar a eficácia em curva sem prejudicar o conforto – um  pormenor marcante. Mesmo em mau piso, a suspensão seca de estilo alemão não significa aquelas “batidas” que parecem resultado de pequenos saltos.

Enfim, para fechar o capítulo da tração dianteira, registo a resposta esperada: estes alemães não brincam em serviço… Bem feito, o novo Série 1!

Motor até parece “respirar” melhor

Quanto ao motor, o conhecido 1.5 três cilindros turbodiesel, muito bem insonorizado e isento de vibrações sensíveis, continua a cumprir e até parece “respirar” melhor, talvez em resultado do emagrecimento de 30 quilos neste Série 1 que conta com estrutura mais rígida. As prestações falam por si – 10,1 s de o a 100 e 200 km/h em velocidade de ponta. São números que não surpreendem, mas a capacidade de recuperação é generosa e permite desembaraço suficiente, muito bem gerido, neste caso, pela caixa automática Steptronic de dupla embraiagem e sete velocidades, no carro que guiei sem patilhas no volante. É uma conjugação conseguida, muito apontada para os consumos, como é de esperar em escolha destas, e, daí, os valores razoáveis que registei no computador de bordo: abaixo dos cinco litros em autoestrada e menos de sete na cidade, sem exageros, naturalmente.

Este Série 1 assenta sobre a plataforma usada nos tração à frente da marca e com isso os técnicos conseguiram um carro com outras dimensões. E mesmo com menos distância entre eixos (-20 mm), ganharam na habitabilidade, ainda que este não seja aspeto brilhante, sobretudo atrás, onde o túnel central é muito alto. O espaço, com mais 33 mm para os joelhos e 13 mm para os cotovelos, é para dois, claro, o acesso não põe problemas nem a altura do tejadilho; poderá, contudo, lamentar-se a dureza dos bancos. À frente, destaca-se a posição de condução e quanto a espaço, vulgar como já era. Bancos com bom encaixe, apoio de braços bem colocado, apenas cobrindo uma caixa de capacidade diminuta.

O ambiente a bordo, familiar para os clientes BMW, continua a ser pautado pelo rigor alemão. Design cuidado e geometria interessante, materiais de boa escolha, qualidade percebida ao nível habitual e um toque de modernidade através do digital que agora chega ao painel de instrumentos. Apesar disso, há mais de 70 botões sem contar com os interruptores nas portas.

Imagem mais robusta e desportiva

Por fim, aquilo que costuma ser o princípio… Com a sua silhueta única, o novo Série 1 é bem mais diferente do que parece. E não só pelo sobredimensionado duplo rim dianteiro, solução que lhe empresta porte autoritário. Toda a carroçaria é muito mais elaborada e traz a imagem de força que o mais pequeno dos BMW não tinha. As formas ganham também contornos mais desportivos, reforçadas nas soluções adotadas na dianteira – óticas, grelhas de faróis suplementares –, na inclinação do tejadilho, e na traseira, através do defletor prolongado por duas palas que acompanham os bordos laterais do óculo, e pela “barra” a rematar a linha ascendente que vinca o perfil, encaixa as óticas e lhe dá, além de movimento, um peso que faltava.

É um Série 1 mais diferente do que parece, o modelo de estreia da tração dianteira. Mantém aquele “feitio” especial da BMW e na versão mais modesta, o 116d, deixa boa impressão. Aqui está um automóvel que dá conta do recado com eficácia e deixa clara a evolução!

O carro que guiei acrescentava 11 644 euros de extras aos 30 500 euros da versão base. Para marcar a diferença os três mil euros da Line Sport, que acrescenta, designadamente, bancos desportivos, jantes de 17 polegadas, cruise control com função de travagem e assistente de estacionamento. A suspensão desportiva custa 296 euros, a caixa automática 1 600 euros e live cockpit digital 1674 euros. Conectividade com aparelhos móveis, Bluetooth, carregamento wireless e hotspot WiFi são de série.

FICHA TÉCNICA

BMW 116d

Motor: 1496 cc, três cilindros, turbodiesel, injeção direta, intercooler

Potência: 116 cv/2 250 -4 000 rpm

Binário máximo: 270 Nm/1 750-4 000 rpm

Transmissão: tração dianteira, caixa automática Steptronic de dupla embraiagem e sete velocidades

Aceleração 0-100: 10,1 s

Velocidade máxima: 200 Km/h

Consumos: média – 5,4-4,6  l/100 km

Emissões CO2: 141-120 g/km

Bagageira: 380 litros

Preço: versão ensaiada, 42 144 euros; versão base, 30 500 euros