O Peugeot 3008 é um SUV que conquista e prova não ser por acaso que coleciona prémios. Agora tem um novo motor a gasóleo, 1.5 e 130 cv. Muito agradável de guiar, é um excelente rolador sem ser uma máquina, curva como poucos, é cómodo e bom em matéria de espaço, tem consumos vulgares e um preço menos simpático. Que não impede, pelos vistos, interessantes resultados comerciais.

Ora aí está um belo SUV! Começa por fazer a diferença nas linhas, personalizadas, diferentes: tão sóbrias como modernas. Discutível, claro. Mas andam tantos a circular que não devo estar longe da verdade para muita gente.

Depois, “arrasa” no interior. O i-cockpit é, de facto, um achado, qualquer coisa de empático – tem prémios e ajudou a ganhar o Carro do Ano Internacional –, valoriza sobremaneira um ambiente interior todo ele muito conseguido, combinação exemplar de tecido e plásticos vários, almofadado, e piano black e metálico brilhante, estes nas incrustrações. Verdade que, pela primeira vez, notei um pequeno rebordo antipático no acabamento da consola. Ainda assim, qualidade percebida em alta, construção convincente. Sem surpresa.

Na prática, não se revela um exemplo de capacidade de explosão (…) mas é excelente rolador, agradável de guiar, muito ágil, um regalo pelo pisar e pela suavidade, beneficia das grandes caraterísticas do 3008, peso reduzido e afinação superior da suspensão

Também sei que, ainda no mesmo quadro, há quem não goste, critique a visibilidade da instrumentação, a  qual, neste caso, até levou a “quadralizar” o volante  – para mim um mimo, na pega e na dimensão. Será, para muitos, solução com certeza herética e radical. Eu encontro uma posição agradável de condução, deixando-o na mais baixa regulação. Faço isso em todos…

“Gadget” fácil de utilizar

O resto pode ser um “gadget”, aquele mundo digital de informação. É, no entanto, fácil operar a transformação dos ecrãs do painel de instrumentos principal (ao contrário do que se verifica com outras soluções do género) e depois escolher uma das três opções – basta rodar o cilindro da esquerda no volante multifunções. A filosofia do minimalismo dos comandos tem vindo a ser corrigida em desabono das soluções apenas táteis. Acho bem. Contei 21 botões e as funções do ecrã central passam pelo teclado no topo da consola. Mais fácil e ecrã menos marcado pelas dedadas. Corrigir é prova de que há críticas com sentido…

Para fecharmos este capítulo, registo para uma ergonomia a dispensar reparos e no 3008 que guiei, transmissão manual, ainda havia o seletor da caixa a ter em conta. Comanda-se bem e não há interferência do apoio de braço central, mais baixo do que é costume, mas apto para cumprir o seu papel.

Ora, a transmissão, toque simpático, precisa quanto baste, abre a porta para o outro lado deste SUV Peugeot , no caso outra novidade, o diesel 1.5 BlueHDI  que, aos poucos, vai arrumar a carreira brilhante do 1.6 HDI. Anuncia mais potência, 130 cv (contra 100 e 120 na “velha” oferta), melhores prestações e consumos e antecipa as normas Euro 6c.

Na prática, não se revela um exemplo de capacidade de explosão (a aceleração 0-100, por anunciar, passa por vulgar e as relações da caixa nem a favorecem). Naquelas ultrapassagens mais rápidas pede contas, mas a verdade é que, graças a um binário generoso e mesmo sem uma transmissão a privilegiar performances, dá o suficiente para parecer mais do que é… Excelente rolador, agradável de guiar, muito ágil, um regalo pelo pisar e pela suavidade, beneficia de duas grandes caraterísticas do 3008, peso reduzido e afinação superior da suspensão.

Um difícil perfeito casamento

Daqui ao conforto – que também é a insonorização eficaz para um diesel –  vai um pequeno passo. Afinal, costume francês. Notável é este casamento difícil – a suspensão revela firmeza! – ser perfeito ao ponto de experimentarmos comportamento exemplar em curva. É impossível não registar a assertividade naquelas situações de muita exigência, estradas estreitas, encadeado de curvas fechadas, nas quais se experimenta convincente nível de segurança. Extensivo às longas curvas a exigir muito apoio, nas quais o 3008 passa a ideia de que pode utilizar-se a relação superior… Eu sei que são apenas 130 cv, mas inspira confiança. O 3008 deixa-se “colocar” nas trajetórias com naturalidade e faz-nos esquecer que é um SUV, carroçaria alta, tão indiferente se mostra às transferências de massas: deixa-se balancear e não balança! Marca muitos pontos.

A versão ensaiada, uma GT Line, incluía o Grip Control que permite potenciar as capacidades do SUV 4X2, com razoável distância aos solo (21,9 cm) e ângulos generosos (20 graus na entrada e 29 na saída). Otimiza a tração com respostas adaptadas em cinco modos: Normal, Lama, Areia, Neve e ESP desligado. Uma experiência em estradão, deu para perceber que o 3008 se pode desembaraçar muito bem nas saídas que não exijam “esforço” mais radical.

No que se refere a consumos, nada de surpreendente. Com quatro pessoas a bordo, percurso de autoestrada e estrada secundária aberta, o 3008 fez 6,1 litros aos 100 de média, em andamento razoável. No chamado percurso suburbano, com horas “difíceis” em Lisboa e alguma “pressa”, o computador subiu para os 8 litros, ainda que tenha ficado a certeza de poder conseguir-se menos. A média geral foi de 6,7, em 472 quilómetros. Era um automóvel a sair da rodagem…

Habitabilidade razoável e grande mala

No que respeita a espaço, a oferta não compromete. Já se sabe que há um “degrau” para quem viaja atrás, mas o acesso é fácil o espaço para as pernas, mesmo sem ser referencial, não justificou críticas de adultos de diferentes estaturas. O túnel é baixo e pouco intrusiva a consola com as saídas do ar condicionado e uma ficha de 12V. Em termos de altura, nada a dizer. Com cinco, já se sabe o que esperar… À frente, a largueza suficiente.

A bagageira (520/1482 litros) está entre as maiores e contando com o pneu de recurso, ainda mais importante num SUV. Os bancos rebatem na proporção 60×40, o plano de carga está em altura normal e beneficia do alinhamento com a tampa do fundo, com duas posições. O portão tem algum peso e vale a pena pensar na opção elétrica.

O equipamento da versão Crossway acrescentava à oferta, além de pormenores identificativos, navegação, luzes full LED e jantes de 18 polegadas.

Resumindo, uma proposta muito interessante, motor moderno e honesto, bem insonorizado consumos vulgares, resposta impressiva em termos de eficácia, um SUV cómodo e generoso no espaço, a deixar perceber, facilmente, os motivos que colocam o 3008 entre os líderes do mercado, mesmo havendo propostas mais baratas.

FICHA TÉCNICA

Peugeot 3008 1.5 BlueHDI GT Line

Motor: 1499 cc, turbodiesel, injeção direta, intercooler, start/stop

Potência: 130 cv/3750 rpm

Binário máximo: 300 Nm/1750 rpm

Transmissão: caixa manual de seis velocidades

Aceleração 0-100: N.D.

Velocidade máxima: 192 km/h

Consumos: média – 4,2 litros/100; estrada – 3,8; urbano – 4,7

Emissões de CO2: 109 g/km

Bagageira: 5320/1482 litros

Preço: desde 33 332 euros; versão ensaiada (Crossway), 35 840 euros