Os comandos táteis entraram no quotidiano da indústria automóvel a par com a tendência para ecrãs cada vez maiores e até os premium alemães, que pareciam fiéis aos práticos comandos de botão rotativo (adoptados também por construtores generalistas como a Renault, agora só no Espace… e a Mazda) parecem enveredar por novo rumo. Isto, a avaliar pelo que sucede no excelentíssimo Audi A8 que perdeu o MMI, sistema que, com grande facilidade, permitia gerir os menus do ecrã a partir da consola.

O i-cockpit da Peugeot é o exemplo máximo da simplificação, sofreu evoluções e agora conta com uma série de botões que tornam tudo mais fácil

Verdade que quase tudo se controla a partir do volante, hoje transformado num verdadeiro centro de comando, poupando-nos esse incómodo de termos de nos chegar à frente para operar os botões digitais do ecrã, movimento que, do meu ponto de vista – mas devo estar errado –, comporta um aumento da possibilidade de distração. Eu sei que isso é cada vez menos perigoso, porque os carros travam sozinhos, “dizem-nos” que está alguém a aproximar-se perigosamente pela traseira, o detetor de ângulo morto “pisca” e apita quando se encontra alguém ao lado em condições de não nos apercebermos e mais uma série de avisos sonoros despertam-nos para quase todos os riscos. E o sistema de manutenção na faixa de rodagem dá ajuda suplementar e também ela sempre mais apurada – nas gerações mais recentes, “aquilo” anda mesmo pelo meio dos traços. Importa ainda não esquecer que muito de tudo isto pode, pura e simplesmente, ser comandado por voz.
Imagino que este estado de coisas nos conduzirá, a breve trecho, nos automóveis, a algo de parecido com o enorme monitor do Tesla. Ainda por cima, é enorme a curiosidade das pessoas em torno desse “gadget” tipo faz tudo. Já o confirmei num dos grandes espaços comerciais de Lisboa onde as pessoas fazem fila para se sentarem nos Tesla – e sobretudo, esse parece-me o seu grande encanto, perceberem tudo o que aquele monitor disponibiliza!

Outra “linguagem”
Neste particular, há mais, como o Virtual Cockpit da Audi que transporta a navegação para ecrã dominante do painel de instrumentos e permite optar por várias formas de apresentação de velocímetro, conta rotações, dados do carro e da condução. E são várias as marcas que puseram de lado o analógico, muitas vezes limitado ao relógio de ponteiros “a sério”.
É uma linguagem destes tempos e de uma geração que tem o seu expoente na simplificação máxima que carateriza o inovador i-cockpit da Peugeot, tão bem conseguido que poucos se queixam e nem deve ser por acaso nem pela forçado marketing a sua generalização entre a oferta do construtor. Uma filosofia que outros, mais ou menos timidamente, vão replicando com menos ousadia.

A Volvo, no seu emblemático afã de segurança, chegou a ter num dos seus topos de gama uma centena, isso mesmo 100 botões e comandos tantas eram as funções disponibilizadas

Vem isto a propósito das sucessivas experiências de simplificação dos comandos ao dispor dos automobilistas que passaram a ter também muitos mais dispositivos, designadamente de segurança e conforto, mas também de personalização da condução e da sua própria eficácia. É preciso tempo para aprender a dominar tudo no caso de se querer realmente desfrutar de quanto é oferecido. Porque há muitos que se limitam a dizer “o meu carro também tem”…
Vai longe o tempo do “Satélite” da Citroën (um cilindro que centralizava quase todos os comandos e foi novidade no Visa), uns anos antes desse prodígio da Volvo que, no seu emblemático afã de segurança e busca do mais completo equipamento, chegou a ter num dos seus topos de gama uma centena, isso mesmo 100 botões e comandos, tantas eram as funções disponibilizadas! (Mas não se pense que ainda haja hoje quem não os dispense em grande número: no Lexus RC 300h F Sport são 58…)

Quando os carros falavam…
Pelo meio, entretanto, houve os carros que falavam e tiveram o Renault 11 como expoente. A marca francesa utilizou durante muitos anos o sintetizador de voz para avisar os condutores de uma série de funções ativadas e até o Renault 25, um dos seus topos de gama, não resistiu a “falar”.
Às vezes, estes automóveis, até falavam de mais. Como naquele dia em Lyon, com o meu amigo Fernando Petronilho ao volante do sumptuoso “25”, e quando, à procura do hotel ou de um posto de combustível, pois a luz da reserva há muita estava acesa, nos dirigimos a um gendarme à procura de ajuda (ainda não havia GPS…). Solícito, o agente da autoridade dirigiu-se-nos. Fez a continência, mas nem teve tempo para falar, só abriu os olhos de espanto quando o vidro elétrico baixou e, antes que o Fernando encetasse o diálogo, o “25”, autoritário, fez-se ouvir: “Attention, vous n’avez pas d’essence!”
O gendarme, admiração no rosto, não via o terceiro ocupante do carro e ainda ficou mais surpreendido quando o Fernando lhe disse, com um sorriso divertido:
– É o carro que fala…

Entretanto fiquem com as sugestivas imagens de algumas potencialidades do superecrã do Tesla S

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