Ao cabo de quatro anos, a Citroën renovou o C3. A operação foi simples mas, parece-me, bem conseguida. A mudança maior está na dianteira, mas uma série de retoques modernizam este utilitário muito bem aceite em Portugal. Mas marcante é o conforto e a insonorização que experimentei num 1.2 Puretech de 110 cv e caixa automática, o topo da oferta. Gostei, percebe-se a razão de ser o quinto carro mais vendido entre nós. Este custa quase 20 mil euros, mas a gama tem preços desde 16 370 euros.

Um trabalho interessante no original sistema de iluminação por “andares” do C3 é a marca da diferença. O utilitário francês ganha um rosto high-tech e a originalidade do design confere-lhe personalidade forte. Bem feito, a exemplo do retoque nos Airbumps que defendem as portas – sempre com um elemento em destaque pela cor – e da própria “afinação” da traseira, uma forma simples de emprestar o peso que não se espera num automóvel destas dimensões.

Bem composto e bem proporcionado, “namorando” as formas do SUV que até nem falta na família, o renovado C3 continua a ser agradável à vista e, nas soluções bitom, resulta muito vistoso, alegre e jovem. E como são 97 as possibilidades de personalização, quem se der ao trabalho de procurar exclusividade terá um automóvel quase por medida, a partir de muitas escolhas que até contemplam decalques e uma nova pintura do tejadilho.

No interior, a política foi a mesma, com novos ambientes e, sobretudo, a chegada ao segmento dos bancos Advanced Confort, que proporcionam outra comodidade e garantem o apoio suficiente. Indiscutível mais valia.

Despachadinho e ágil, honesto em termos de espaço, com consumos frugais, o renovado Citroën C3 continua a pautar-se pela originalidade e a versão de 110 cv e caixa automática continua a ser confortável como poucos no segmento e muito agradável de guiar

O que não mudou foram os materiais. Eu sei que falo de um automóvel do segmento B, mas a verdade é que o habitáculo passa por ser uma “caixa de plástico”, ainda por cima sem uma única superfície almofadada e tecido apenas nos forros dos apoios de braços das portas. Não é caso único, verdade, a decoração ameniza o ambiente e a montagem afigura-se cuidada ao ponto de inspirar confiança. Mas é pena que tenha de ser assim, tão plástico e tão frio.

A instrumentação é dominada pelo ecrã central de sete polegadas, o conhecido tablet assente no tablier, com a informação essencial e também os comandos do ar condicionado automático, solução que me parece sempre desnecessária por menos prática, para este efeito, do que os botões físicos.

Espaço mediano

Quanto a espaço, algo acanhadinho atrás e sobretudo na altura. Quatro adultos viajam com comodidade razoável, dado o espaço para as pernas de quem se senta atrás (ajuda o espaço sob o banco dianteiro), onde é demasiado proeminente o túnel central, o que complica o transporte de um quinto passageiro.

A bagageira, com os seus 300 litros, está dentro da média, pena é que o plano de carga esteja muito abaixo da moldura do portão traseiro, o que complica, essencialmente, a retirada de bagagem mais pesada.

E a máquina? O Puretech 1200, um turbo com os seus 110 cv, assenta muito bem na proposta. Ninguém está à espera de um carro de explosões a este nível, mas a verdade é que estamos face a um utilitário despachadinho: faz 10 segundos de 0 a 100 e atinge 191 km/h.

A caixa automática de seis velocidades, além da comodidade que confere à condução, gere  tudo isto muito bem e utiliza os 205 Nm de binário de forma criteriosa. O modo Sport traz um acréscimo de nervo, mas deve ter pouca utilidade para a maioria dos utilizadores deste C3. Primeiro, porque significa algum ruído que até se estranha, tão silencioso é o carro. Depois, porque os consumos ressentem-se da subida de rotações. Já lá iremos.

Equilíbrio entre conforto e eficácia

Em termos dinâmicos, este Citroën C3 é um compromisso bem equilibrado entre o conforto, acima da média, e a eficácia em curva. Não lhe falta agilidade, tem uma direção com o peso suficiente, é do estilo de acamar nas zonas mais sinuosas, onde a altura se faz sentir, o ESP pode intervir quando se vai mais depressinha, mas é, fora de dúvidas, um carro seguro, que inspira confiança. A sua marca, porém, é distinguir-se pelo conforto, tanto em comodidade como na agradabilidade de condução, e para isso as correrias são pouco indicadas. Nem é essa a filosofia de utilitário assim.

No que respeita a consumos, no percurso suburbano na área de Lisboa, consegui entre 5,7 e 6 litros aos 100, em andamento normal. Na autoestrada, com o cruise control nos 120, o computador de bordo marcou 6,5. Quando liguei o modo Sport, rapidamente os valores entraram pela casa dos oito litros…

A versão que guiei foi o Shine. Esperava mais equipamento e, sobretudo, que não fosse preciso pagar 150 euros pelos vidros traseiros elétricos. Aliás, quem comprar esta versão vai gastar mais uns cobres porque há equipamento que custa dispensar.

Despachadinho e ágil, honesto em termos de espaço, com consumos frugais, o renovado Citroën C3 continua a pautar-se pela originalidade e a versão de 110 cv e caixa automática continua a ser confortável como poucos no segmento muito agradável de guiar.

FICHA TÉCNICA

Citroën C3 Puretech 1.2 110 CV EAT6

Motor: 1199 cc, gasolina, turbo, injeção direta, S&S

Potência: 110 cv/5500 rpm

Binário máximo: 205 Nm/1500 rpm

Transmissão: caixa automática de seis velocidades

Aceleração 0-100: 10 s

Velocidade máxima: 191 km/h

Consumos: média 6,0/6,1 litros/100 km (WLTP)

Emissões CO: 137/138 g/km (WLTP)

Peso: 1610 kg

Dimensões: (C/L/A) – 3996; 1749; 1490 mm

Bagageira: 300/922 litros

Preço: 19 871 euros