Até me lembrei do Presidente Trump e de algumas das suas tiradas risíveis sobre o automóvel e a indústria dos EUA quando me apercebi da surpresa que é o Jeep Compass. Por uma razão simples: se a empresa não fosse ítalo-americana e se chamasse Fiat Chrysler Automobiles, este SUV seria igual? Estou em crer que não…

Eu sei que este Compass para Portugal, diesel 1.6 e 120 cv, está trabalhado para o gosto europeu – motor e suspensão só por cá fazem sentido. Um modelo norte-americano tem, forçosamente, outras particularidades. As sete barras na grelha emprestam-lhe, onde quer que seja, uma identidade e carisma que ainda têm peso, mas a imagem globalizada do SUV Compacto marca tudo o mais. Americano, para mim, só pela grelha – e nem me surpreende sabendo-se como se chama a empresa-mãe que abriga a Jeep… E para fechar o assunto, ao contrário de Trump, eu digo ainda bem. Até para ver se a marca dos States vive, enfim, alguma paz.

É uma surpresa, este Compass. Houve regra e esquadro na realização e muito acerto, pelo menos nesta versão europeia, carregadinha de influências e de material identificável com a  Fiat. Nem tudo será perfeito, mas em termos globais fica uma impressão muito positiva.

Para um SUV compacto de 4,39 metros, diesel 1.6 com 120 cv, 320 Nm de binário e tonelada e meia de peso, uma oferta que satisfará o chefe de família pouco dado a corridas. Espaço e conforto em bom nível, qualidade razoável, bagageira vulgar, consumos banais e, no Limited, preço pelo nível superior da oferta

O comportamento em curva, a agilidade do Compass é aquilo que primeiro nos impressiona. Mesmo que a altura da carroçaria possa tornar-se sensível na condução sentimo-nos num daqueles SUV que se “acomoda” para curvar e, depois, sem enrolar, segue as ordens do volante, uma direção que nem precisa de ser muito direta para se revelar a medida certa para um automóvel deste género. O que se percebe quando o Compass é sujeito a rápidas transferências de massas e curva evidenciando quase uma afirmação de superioridade. É como se nos dissesse: “Estou cá para as curvas!” E está mesmo, deixando balancear-se tão bem que até ajuda. Chega a ser divertido.

Bom trabalho. Até porque – eu sei que são apenas 120 cv – as coisas podem fazer-se relativamente depressa e sem que se sinta qualquer intervenção repentina do ESP ou experimentem-se calafrios, mesmo quando, naturalmente, pode ser notória a tendência para o alargamento do trajetória. Um toque na direção e tudo nos eixos…

Motor honesto, imagem conseguida

O Diesel 1.6, que podia ser melhor insonorizado, está longe de ser explosivo, as prestações deixam perceber isso mesmo, e a prática encontra-lhe generosidade mas não brilhantismo. E se as rotações caem muito a retomada faz-se calmamente, e vem ao de cima a falta de alguma alma. De todo o modo, quando se atingem ritmos mais velozes e se esgota a caixa de seis velocidades, bem escalonada para jogar com rendimento e economia, é fácil “ficar por lá”, porque o tal equilíbrio da suspensão dispensa muitas travagens e reduções.

A imagem do Compass é conseguida. Formas simples, proporções equilibradas, um estilo com muito pouco de datado para aquela ideia de veículo sólido que se deseja de um SUV. Americano? Facto que a frente, com aquela grelha, só podia ser de um Jeep, no mais, a interpretação quase simplista do estilo que mais gente hoje conquista, dispensando grandes artifícios os soluções muito elaboradas.

O ambiente interior é agradável, nível de qualidade em alta para o que se guarda dos americanos que por cá andaram e da “velha” Fiat. Ajuda o grande tablier monopeça, a inspirar a tendência para pouco ruídos. Sobra um painel de instrumentos vistoso, o grande ecrã digital incrustrado sobre a consola, solução conservadora que continua a ter muitos adeptos e que até casa bem com o resto. Tudo isto com muito plástico, ainda por cima pouco dúctil – é pena –, mas um acabamento que sugere robustez e construção cuidada.

Espaço, conforto, bancos duros

O espaço é, de um modo geral, generoso. Atrás, ao à-vontade que deixa para movimentar as pernas, junta um acesso fácil e altura para não causar dificuldades a gente grande. O túnel é baixo, ainda assim, já se sabe, conforto é para quatro que até beneficiam de um apoio de braços por rebatimento das costas do lugar central. Surpresa é que num carro que até garante bons níveis de conforto, os bancos em pele sejam tão duros. A rever.

A bagageira não surpreende com os seus 438 litros que podem chegar aos 1251 com os bancos (40/20/40) rebatidos. O plano de carga é alto e a chapeleira funciona em articulação com o portão. No caso, havia um pneu sobresselente, para mim indispensável num SUV, sobretudo, como é o caso, se tem mesmo habilitações para o fora-se estrada, desde que não se lhe peçam milagres.

No que respeita a consumos, não fiquei surpreendido. Os 4,4 litros aos 100 prometidos, parecem-me muito otimistas. Com quatro pessoas a bordo, em ritmo de passeio, li no computador 6,7 litros aos 100 e na autoestrada, “cravado” nos 120 km/h com cruise-control consegui 6,3. Em 200 quilómetros, com os exageros que permitem avaliar até onde pode ir o Compass, estavam apontados 7,7 – valor que só serve de referência para o que pode pagar pelo excesso…

Equipamento interessante, preço nem tanto

A versão ensaiada foi um Limited com jantes de 19 polegadas, travão de mão elétrico, aviso de colisão frontal, aviso de transposição de faixa, cruise-control, sistema dinâmico de aviso de velocidade, bancos em pele, ar condicionado bizona, ajuste lombar elétrico, sensores de luz e chuva, LED diurnos, máximos automáticos,  painel de instrumentos TFT, ecrã multimédia de 8,4 polegadas, vidros traseiros escurecidos, fecho sem mãos e botão de arranque, roda sobresselente reduzida. Estacionamento automático (800 euros) e pintura bitom (1400 euros) eram os opcionais.

Para um SUV compacto de 4,39 metros, diesel 1.6 com 120 cv , 320 Nm de binário e tonelada e meia de peso, uma oferta que satisfará o chefe de família pouco dado a corridas. Espaço e conforto em bom nível, qualidade razoável, bagageira vulgar, consumos banais e, no Limited, preço pelo nível superior da oferta.

FICHA TÉCNICA

Jeep Compass Limited 1.6 Multijet II 120 cv 4×2

Motor: 1598 cc, turbodiesel, injeção direta, intercooler, start/stop

Potência: 120 cv/3750 rpm

Binário máximo: 320 Nm/1750 rpm

Transmissão: 4×2, caixa manual de seis velocidades

Aceleração 0-100: 11 s

Velocidade máxima: 185 km/h

Consumos: média – 4,4 litros/100 km; estrada – 4; urbano – 5,2

Emissões CO2: 117 g/km

Bagageira: 438/1251 litros

Preço: 39 637 euros, unidade ensaiada; Limited desde 35 511 euros, versão de entrada 33 511 euros