Personalidade e aspeto sólido, ambiente conseguido a bordo, espaço, comportamento à altura da imagem desportiva o Cupra Born é um elétrico com um toque de diferença e bem nascido. Guiei a versão de 204 cv com bateria de 58 kWh e gostei. Promete 423 quilómetros de autonomia e tem um preço na casa dos 40 200€, sem extras… e há muitos.
Na base do primeiro Cupra elétrico está o VW ID3. Compartilham quase tudo, o modelo da marca espanhola tem, claramente, um tratamento e um comportamento mais desportivo. A suspensão foi trabalhada, conta com molas mais curtas e está mais próximo do solo (1,5 cm, à frente; 1 cm, atrás), a direção, recalibrada, ganha outro tato e resposta mais direta. E tudo isto faz diferença na condução
A questão é, ainda, a abordagem desportiva num elétrico. Dúvidas nenhumas de que o Cupra Born, ligado o modo Sport, demonstra grande vivacidade e o binário ajuda naquela cavalgada que termina nos 160 km/h e passa por uma aceleração 0-100 em 7,3 segundos. A curvar, é um tração traseira cumpridor, embala-nos nas suas derivas facilmente controláveis mesmo com o ESP desligado – de outro modo, ele intervém com naturalidade e “discretamente”. Fica claro que é divertido de guiar, mas também eficaz, suspensão firme (com afinação desportiva atrás), grande resistência às transferências de massas. E bem mandado, para o que conta a recalibragem da direção e uns travões (discos e tambores, uma surpresa) que não privilegiam apenas a regeneração. Quando se trata de ultrapassar, basta acelerar… Em suma, é difícil não gostar quando se pede ao Born que mostre as suas capacidades.
Imagem desportiva muito personalizada, comportamento a condizer, espaço e conforto, consumos razoáveis em andamentos normais, o Cupra Born marca uma entrada afirmativa da marca espanhola nos cem por cento elétricos
A contrapartida menos positiva é a “tareia” na economia e na autonomia que numa dezena de quilómetros reduziram esta quase a metade e levaram o consumo para a casa dos 27,7 kWh… Eu sei que não é surpresa, mas a ideia de um desportivo limitado aos 160 km/h e que obrigue a fazer contas até um posto de reabastecimento rápido continua, para mim, a ser um óbice ao elétrico desportivo. É outra filosofia. Mesmo que não tenha dúvidas de que a atitude ao volante vai ter de mudar – e já começou a mudar.
Regeneração de energia efetiva
Esta verdade é tanto mais significativa quando o Born até me impressionou na capacidade de regeneração, a qual me permitiu, por exemplo, em ambiente suburbano e sem dificuldade ou exageros de lentidão ganhar sete quilómetros num percurso de 32! Muito bem, se não mesmo notável.
Os consumos em andamento normal, com três pessoas a bordo, permitiram-me registar 16,9 kWh; em autoestrada, a 120 km/h a indicação foi de 22,5 KWh. E para se ter ideia de uma utilização continuada, para 963 quilómetros estavam registados 18,4 kWh, o que aponta para uma autonomia de 315 quilómetros, menos 108 do que o prometido. Mas pareceu-me que não deve ser difícil aproximarmo-nos dos números anunciados com uma condução descontraída e aproveitando a excelente regeneração que nos permite até ir ganhando energia apenas doseando o acelerador em modo Eco, claro, e acionado o B (maior capacidade de desaceleração) no seletor de marcha.
Importa referir que estamos face a um excelente rolador, muito confortável e sobretudo quando se utilizam os modos Eco e Range, os quais asseguram um compromisso de suspensão com grande capacidade para absorver as irregularidades do piso sem perder a eficácia ou causando molejamento.
Um estilo com identidade
O Cupra Born é um daqueles automóveis com o qual a empatia me parece fácil. A marca desportiva da SEAT já conseguiu um estilo e mesmo que haja diferenças claras e óbvias com o Formentor, este Born tem genes que não enganam, identidade. O chamado nariz de tubarão, que resulta numa frente poderosa muito colada à estrada, marca a personalidade do automóvel sem a tradicional grelha e uma grande entrada de ar inferior em que desponta o aro no emblemático cobreado. Para-brisas muito inclinado, cintura alta sem penalizar a superfície vidrada, perfil longilíneo em elegante cunha, pilar C com curiosa decoração, espécie de almofadado que encontramos também no tablier. Enfim, a traseira com a asa que prolonga o tejadilho (e reduz o óculo) e o defletor aerodinâmico “cravado” no fundo do para-choques resultam num automóvel muito compacto, vistoso e jovem. Os grupos óticos dão uma ajuda, tanto à frente, muito rasgados, como atrás, não dispensando a barra luminosa a toda a largura.
O interior herda a filosofia do ID3, com o painel de instrumentos, incluindo o seletor de marcha sobre a coluna de direção e o grande ecrã tátil digital, um tablet assente no tablier com uma combinação de materiais que valoriza a qualidade percebida – voltam a não faltar os pormenores cobreados. Pena que o software não seja mais amigável; é preciso habituação.
Espaço, conforto e muitos opcionais
O típico volante Cupra, duas belas bacquets (extra), boa posição de condução, espaço e gestão criteriosa dos outros espaços para arrumos, marcam a comodidade à frente. Atrás, os benefícios da plataforma MBE (2,76 m entre eixos, bateria central), sem o túnel da transmissão, fazem-se sentir no desafogo com que podem viajar três pessoas, melhor duas, óbvio, até porque o apoio de braços em que se transforma o lugar central implica um encosto menos cómodo. Pena, nesta versão pelo menos, a ausência de condutas de ar condicionado para o banco traseiro.
A bagageira, baixa, alinha pela mediania, 385 litros de capacidade, tem um fundo falso em que se arrumam os cabos, e o plano de carga é alto.
Imagem desportiva muito personalizada, comportamento a condizer, espaço e conforto, consumos razoáveis em andamentos normais, o Cupra Born marca uma entrada afirmativa da marca espanhola nos cem por cento elétricos.
O Born que conduzi tinha um nível de equipamento interessante, valorizado por um conjunto de extras significativo: por exemplo, excelentes baquets (1 770€), jantes de 20” (1 190€), head up display (1 024€), tejadilho panorâmico (1024€), vidros traseiros escurecidos (158€), Pilot L (600€), alarme (414€). Eram de série, a suspensão desportiva atrás, seleção de perfis de condução, luzes Full LED, ecrã tátil de 12” com navegação, Bluetooth, rádio digital, comandos por voz, cruise control adaptativo, câmara traseira com guias e sensores de estacionamento, luz ambiente, ar condicionado automático, entradas USB-C à frente e atrás, para-choques desportivos, luz de receção com projeção do logótipo no solo.
FICHA TÉCNICA
Cupra Born 204 cv 58 kwh
Motor: síncrono de ímanes permanentes, em posição central à frente do eixo traseiro
Potência: 204 cv
Binário máximo: 310 Nm
Bateria: 58 kwh (carga útil), iões de lítio
Recarga máxima: CC –100 kwh; CA – 11 kWh
Tempos de carga: wallbox 7,4 kWh – 9h30; 11 kWh – 6h15; 0 a 80% a 100 kWh – 35 minutos
Transmissão: tração traseira, velocidade única
Aceleração 0-100 km/h: 7,3 s
Velocidade máxima: 160 km/h
Consumo: 15,6 kW/100 km
Autonomia: 416 km
Dimensões: (c/l/a) – 4 322/1 809/1 540 mm
Peso: 1 736 kg
Bagageira: 385 litros
Preço: versão ensaiada, 47 945€; base, 40 230€