É difícil pedir milagres a um pequeno SUV elétrico de 44 cv com uma bateria de 27,4 kW/h. Mas se é o mais barato do mercado (pode custar €16 800), promete autonomia na casa dos 305 quilómetros em cidade, vale perder algum tempo para saber como é possível este Dacia Spring. Tudo se resume a asserção simples: quem dá o que pode…
Pequenino (3,70 metros) e jeitosinho, nascido Renault Kwid e destinado aos países emergentes, plataforma para motores térmicos (de baixa cilindrada), desenvolvida conjuntamente com a Nissan, fabricado na China, este combinado é “servido” enfim na Europa como o primeiro elétrico da romena Dacia!
Baterias de 27,4 kW/h sob o banco traseiro, motor à frente e tração dianteira, filosofia simplista que, ainda assim, tem pormenores a contrariar o básico dos básicos, é claramente um automóvel pensado e feito para ser barato (até se percebe ao fechar a porta) e cumprir com honestidade o papel de citadino apto para utilização criteriosa enquanto suburbano.
Esta filosofia implica um rigoroso controlo da dotação de equipamento e aquilo que primeiro se estranha é a chave de ignição convencional. O painel de instrumentos adota a solução digital, obviamente, mas parece difícil imaginar mais simples; o ecrã central oferece o mínimo exigível; não falta o ar condicionado, mas manual; o plástico (rugoso para tornar o toque menos frio) é rei e senhor no tablier simples e nos forros das portas; a consola tem acabamentos em piano black e recebe o comando de marcha circular, limitado a três posições – D,N,R, o travão de mão recorre à convencional alavanca.
uma proposta honesta face ao preço que condiciona o equipamento e justifica uma motorização de 40 cv, prestações a condizer e uma autonomia para potenciar a utilização em cidade, onde o Dacia Spring pode percorrer 305 quilómetros com uma carga de bateria
No meio de tudo isto, a construção parece cuidada, nada de metal à vista e estofos em pele sintética na versão Confort Plus, o topo de gama que guiei e o qual por cerca de €1500 marca diferença significativa para o pacote de ataque ao preço num carro com opção comercial de dois lugares, capaz de dar jeito a muitas pequenas empresas… até por haver benefícios fiscais.
Contrapartidas à medida da imagem
Identificados com o tipo do produto, imagem jovial, personalidade Dacia vincada na grelha que mesmo fechada é inigualável, vamos descobrir a contrapartida à medida nos aspetos dinâmicos. O motor assegura 44 cv e um binário de 125 Nm e os 970 quilos de peso permitem um desempenho honesto ao Spring, que assim acelera de 0 a 100 em 19,1 segundos e atinge os 125 km/h para que a energia não se esfume num ápice. E com essa preocupação, optei por circular em modo Eco, limitado por isso a 30 cv e a 100 km/h.
Enquanto conduzi sozinho, num andamento normal, nada a dizer… quando o compromisso é poupar. Com quatro a bordo, o desempenho ressente-se e mal a estrada empina, sem surpresa as capacidades são penalizadas. Quanto a consumos, 12,5 kW/h foi a média registada nestas circunstâncias, em ritmo de passeio, o que significa uma autonomia de 219 quilómetros, logo próxima dos parâmetros WLTP anunciados pela Dacia.
Uma certeza: o Spring é basicamente um citadino e se conta com ele e pretende pensar nos passeios de fim de semana, faça bem as contas e não se abalance a grandes aventuras. Aliás, nem pode ser esse o objetivo de um automóvel elétrico assim, que, de qualquer modo, até lhe permite, dada a altura ao solo (15,1 cm) encarar com à vontade os lancis dos passeios citadinos e um piquenique que obrigue a um fora de estrada.
Mais firme do que seria de esperar
Em curva, o Spring pauta-se também pela honestidade e revela-se até mais firme do que seria de esperar, o que o faz resistir ao balanceamento exagerado da carroçaria, mesmo que as velocidades não sejam adequada a qualquer tentação desportiva. Este facto repercute-se no conforto, sobretudo atrás, e é potenciado pelas esponjas utilizadas nos bancos, menos absorventes do que é normal. Registe-se, no entanto, um bom apoio nos lugares dianteiros, onde o condutor se senta em posição elevada frente a um volante em plástico e não regulável em altura ou profundidade. Difícil de entender! E já que se fala de conforto, nota para o facto de o habitáculo ser estreito e para os quatro lugares, acanhados atrás, afinal como é próprio do segmento. A mala é razoável, com 290 litros de capacidade, que chegam aos 620 com o banco rebatido (1×1). O plano de carga é ligeiramente elevado e há desnível significativo entre a moldura do portão e o fundo.
A direção é adequada ao estilo e capacidade do Spring e mostra-se particularmente agradável em cidade. Quanto a travões, um bom compromisso, se atendermos a que nem sempre é fácil encontrar a afinação certa para as necessidades de regeneração.
Uma palavra para a insonorização que não impede a audição de um ligeiro zunido do motor e dos ruídos de rolamento e aerodinâmicos, sobretudo em autoestrada.
No que respeita à bateria, num carregador rápido de 30 kW/h, a carga completa faz-se em hora e meia; numa wallbox de 7,4 kW/h conte com cinco horas; se usar uma tomada comum precisará de 14 horas para “atestar”. O cabo de carregamento a bordo está apto para postos públicos e wallboxes.
A oferta de equipamento é contida: luzes diurnas em LED, ar condicionado manual, limitador de velocidade, computador de bordo, ecrã tátil de 7”, compatibilidade Apple CarPlay e Android Auto, rádio DAB, bluetooth, navegação, câmara de marcha atrás com guias, barras no tejadilho, pneu sobresselente, jantes em liga de 14 polegadas. O cabo flexicharger custa €300 e o carregador de carga rápida (DC 30 kW), outros €300.
Em síntese, uma proposta honesta face ao preço que condiciona o equipamento e justifica uma motorização de 40 cv, prestações a condizer e uma autonomia para potenciar a utilização em cidade, onde o Dacia Spring pode percorrer 305 quilómetros com uma carga de bateria.
FICHA TÉCNICA
Dacia Spring Comfort Plus
Motor: síncrono de ímanes permanentes
Potência: 44 cv – 3 000/8 200 rpm
Binário máximo: 125 Nm – 500/2 500 rpm
Bateria: 27,4 kW/h (carga útil), iões de lítio; 240 V
Transmissão: velocidade única, com redutor
Aceleração 0-100: 19,1 segundos
Velocidade máxima: 125 km/h, 100km/h em modo ECO
Autonomia WLTP: combinada – 230 km; cidade – 305 km
Carregamento: tomada doméstica – 13h32; wallbos (7,4 kW/h) – 4h51; posto público 125ª (80%) – 56 minutos
Dimensões: (c/l/a) – 3 734/1 770/1 516 mm
Peso: 970 kg
Bagageira: 290/620 litros
Preço: €18 300, Comfort Plus; €16 800, Comfort