Boa surpresa o novo Dacia Duster que pretende refinar a imagem propagada do low-cost. E registe: será sempre, assumidamente, um automóvel a marcar o preço de entrada, com as limitações próprias dessa escolha, claro, mas, a partir de agora, também um SUV que quer acrescentar outro lado do valor, a ideia de inovação e mais qualidade. Objetivo da marca que nos pareceu conseguido e importante face à preocupação entendível quando se sabe que hoje até são mais os países onde o emblema do carro é Renault – e isso está longe de ser pormenor.

A segunda geração do Dacia Duster pretende ser como um ponto de viragem no conceito do SUV low-cost

 

Pode não parecer, porque estilo e conceito não mudam – olha-se e fica a certeza de que só podia ser de um Duster! –, mas a verdade é que tudo quanto se vê, a “pele” deste Dacia é toda nova. E confere ao carro imagem robustecida para as mesmas dimensões. A frente, dominada pela grelha mais larga, os grupos óticos que se integram num conjunto que preenche toda a largura, a cintura subida, o perfil mais esculpido, o portão traseiro mais elaborado e novas luzes. Tudo isto, agora sobre jantes de 17 polegadas, traz um reforço importante para a ideia de carro pronto para a aventura. Como deve ser um SUV! E resistente primeiro, o resto depois…

 o Duster mostra-se um bom compromisso para aqueles que querem mesmo um SUV (…) mexe-se bem na estrada, desenvencilha-se com grande naturalidade na terra

Está criada uma identidade. Que o interior completa. Uma simplicidade que primeiro parece rudeza e austeridade e depois se aceita como natural. É assim como que o rigor de um produto para batalhar, que não tem vergonha de ser o que é – barato, honesto também. Ao estilo de quem dá o que tem…

 

Do plástico ao design

Por isso, não se estranha o mar de plástico no habitáculo e algum cinzentismo no design de pendor minimalista. Mas regista-se que a qualidade é outra, sem espantar. O painel do tablier, apesar do negro mate, é menos frio, mais suave ao tato, mesmo sem ser dúctil. Só no apoio de braços das portas se encontra a macieza se alguma espuma. Claro que é pena. Mas não há milagres…

A simplicidade vê-se também no painel de instrumentos, na conceção e no grafismo. No ecrã tátil, montado numa pequena moldura que está agora no topo da consola (foi elevado 7,4 cm o que facilita a leitura da informação e o acesso).

Os bancos são outros, têm assentos maiores, o condutor até passa a ter apoio de braço articulado, e nas versões que dispensam os revestimentos em pele incluem a inscrição Duster, toque simpático de afirmação e jovialidade, também através da bem sucedida combinação de cores nos forros. Interessante!

E a prática? Pois bem, experimentado na versão 4×2, com a motorização mais potente a gasolina, o 1200 TCe de 125 cv (injeção direta e turbo), o Duster mostra-se um bom compromisso para aqueles que querem mesmo um SUV. Tem limitações, como é óbvio: mexe-se bem na estrada, desenvencilha-se com grande naturalidade na terra (aqui aproveitando os 21 cm de distância ao solo), seja com a caixa manual de seis velocidades ou a transmissão automática de dupla embraiagem também com seis relações. Conta com suspensão agradável, mas, o conforto que daí advém, deixa sentir a sua altura, nos encadeados de curvas. O balanceamento é sensível, sobretudo atrás, quando se pisa mais forte a acelerador. Nota-se então que os bancos dianteiros podiam oferecer mais apoio e que o banco traseiro prima pela simplicidade.

 

Espaço razoável

Surpreendente? Bom, é um SUV, na verdadeira aceção do termo, não exatamente um estradista e, no fundo, a verdade de um carro do segmento B que se aventura a concorrer acima – o desafio é assumido: “estamos no meio”, dizem os responsáveis da marca. Para isso, oferece espaço razoável no habitáculo, à frente e atrás, boas soluções de arrumação no interior (27,2 litros e nem falta uma gaveta sob o banco do pendura), ainda uma boa mala, que vai dos 455 aos 1748 litros com os bancos rebatidos.

A versão 4×4, que conduzimos numa pista de obstáculos, até impressiona, ainda que tenha de ser outro o preço. Faz, com grande facilidade, tudo quanto é costume num TT. E tudo significa, também, aquilo que nunca fará a maioria dos seus proprietários. Numa palavra: convence!

Aprendendo a viver com ele, o Duster deve ser olhado como um produto honesto e até capaz de surpreender alguns. Não se espera tanto nem tão bom do carro que, afinal, prova ser mais do que a opção baratinha. Também porque o equipamento prometido é um desafio à concorrência.

Impõe-se, porém, esperar para ver. O novo Duster, é mais uma vítima da aberração da nossa política de portagens, teria, neste momento, de ser homologado como um veículo da Classe 2. O que não faria qualquer sentido. Daí, afinal como aconteceu com o Kadjar, a necessidade de um carro “à medida” de Portugal. A Dacia está a trabalhar nisso, quer uma solução que não comprometa o comportamento, mas está por saber quando chega ao nosso mercado o modelo com comercialização na Europa no início de 2018, por preços afinados com a geração anterior. E para quem não sabe, o “velho” Duster tem preços a partir de 14 490 euros.

A segunda geração do Duster é curiosa evolução de um estilo. Ora veja o vídeo.

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