Grande SUV de ar majestático, o Audi E-tron Advanced 55 quattro traz outra dimensão aos automóveis elétricos. A tudo, ou quase, que os outros já têm e são – potentes, rápidos, eficazes – junta novos argumentos ao catálogo tecnológico dos automóveis que representam hoje o que dizem marcará o nosso amanhã. Dois motores,  um por eixo, tração integral, 360/408 cv, suspensão pneumática adaptativa, sete modos de condução e até capacidades para o fora de estrada… Um mundo de maravilhas a partir de 88 mil euros…

São 4,90 metros e mais de duas toneladas e meia para um elétrico – o primeiro da Audi – e se as dimensões impressionam para aquilo a que (ainda) estamos habituados no mundo dos elétricos, o peso é penalizador por mais do que os 700 quilos da bateria. Este E-tron Advanced 55 quattro ainda não assenta numa plataforma pensada exclusivamente para esta utilização e isso faz-se sentir na autonomia que a Audi promete capaz de chegar aos 417 quilómetros. Ora, uma aceleradela mais forte num automóvel desta potência e é ver a ansiedade aumentar, já que assim diminuem muito mais depressa as reservas da bateria. Normal…

… Normal sobretudo por estarmos num carro capaz de debitar 408 cv (184cv/309 Nm no eixo dianteiro; 224cv/255 Nm atrás). Provavelmente, serão poucas as vezes em que vamos tirar partido de tamanha potência, acompanhada por um binário de 561 Nm, normalmente, ou 660 Nm com o pedal a fundo, ajuda para a excelente capacidade de aceleração 5,7 segundos de 0 a 100. A velocidade máxima, limitada eletronicamente, é mais vulgar: 200 km/h. Mas esta lógica de potência prevalece na oferta dos elétricos para quem tem menos problemas financeiros e quer ser ambientalmente correto!

Compromisso diferente entre os elétricos, grande SUV luxuoso e espaçoso, este E-tron é uma montra da capacidade e da tecnologia Audi. Potente mas também pesado, pede “cuidados especiais” para se aproximar da prometida autonomia de 417 quilómetros.

Esta potência, no entanto, não é constante. Podemos usufruir dela seis segundos de cada vez e só na posição S da caixa de velocidades. Por mais tempo, um minuto, e na posição D podemos dispor de 360 cv. Um curioso jogo de equilíbrios que pode fazer poupar alguma energia.

“Festival” de escolhas de condução

Com sete modos de condução, Auto/Confort/Efficiency/Individual/Allroad /Offroad o E-tron parece fadado para a escolha dos modos automático – que até decide sobre a regeneração mais eficaz, a qual também pode ser controlada nas patilhas do volante –, ou Efficiency, aquele que valoriza a economia e garante a autonomia para facilitar a vida a quem opta por um automóvel elétrico. Parece-me que os outros servem para experiências, sobretudo o Offroad, já que estou convencido de que serão poucos aqueles que, com frequência pelo menos, se abalançarão a levar este Audi para maus caminhos. Não é que ele tenha problemas como isso, a suspensão pneumática tem um curso que pode ser alterado 76 mm, o que é garantia de desenvoltura significativa perante muitos obstáculos. Mas…

Em termos dinâmicos, naquele habitual mundo de silêncio, impressiona a capacidade de aceleração, convence o comportamento em curva, a tração integral e a suspensão pneumática adaptativa, mais suave do que se esperaria, dão ajuda importante, mas é sempre preciso ter em conta que um automóvel com este “corpo” não pode ser um modelo de agilidade. E, quando a estrada é mais exigente, há uma natural tendência para aliviar a pressão sobre o acelerador, pois a frente tende a alargar a trajetória – pede habituação, sobretudo se a intenção forem andamentos rápidos. A direção, ainda que progressiva, pedia mais “peso”. A natural inclinação da carroçaria face às transferências de massas é atenuada pelo peso e colocação da bateria, a qual, obviamente, baixa o centro de gravidade.

Fazer parar este colosso de 2565 quilos tem que se lhe diga. A travagem pede decisão quando se anda mais depressa. É outro dos aspetos da condução deste Audi que tem de se apreender, até em cidade, meio onde o E-tron se mostra até mais dócil do que seria de esperar.

Requinte, classe e muita tecnologia

E o resto? Ora, um exercício que não foge muito do habitual: classe, requinte e ambiente high-tech no habitáculo, por via do digital e dos comandos táteis praticamente generalizados. Combinação dos melhores materiais, qualidade percebida em nível elevado e algumas soluções menos conseguidas ao nível da ergonomia. Nem sempre o espetacular é mais do que isso. Os dois ecrãs centrais, inclinados para o condutor, estão em posição mais baixa do que o desejável, os retrovisores virtuais (ver vídeo) são uma opção e uma originalidade, mas também menos diretos do que os tradicionais – os ecrãs OLED de sete polegadas no habitáculo obrigam a baixar a cabeça…

A originalidade dos retrovisores virtuais

A grande distância entre eixos (2,928 metros) permite uma excelente habitabilidade. A bagageira tem 600 litros de capacidade – sob uma chapeleira plástica, solução pouco consentânea com a oferta – e sobram mais 60 litros à frente, numa caixa onde se arrumam os cabos para o carregamento.

Carregamento pede mais extras

Neste capítulo, a Audi propõe soluções para melhorar a capacidade doméstica. O mais lógico é optar por uma instalação trifásica, o que permite instalar um carregador com 22 kW de potência, e assegurar uma carga quase total em cinco horas. Será preciso dotar o carro com um segundo carregador interno. Doutra forma, conte com 85% de carga em sete horas. O melhor continua a ser um posto de carregamento rápido, o qual em hora e meia lhe garante os mesmos 85% da carga para seguir viagem.

O Audi E-tron Advanced 55 quattro que conduzi tinha “só” 33 mil euros de extras, mas até o macaco se paga… A lista é exaustiva, mas a tudo quando é luxo registe-se apenas o mais caro: estofos em couro (2 840 euros), faróis Matrix LED (1 755), câmaras de 360 graus (1 390), jantes em liga de 21 polegadas (2 235), head-up-display (1 680), áudio Bang&Olufsen (1 390), tejadilho de abrir elétrico (1 800). O resto é o que se espera de um automóvel deste nível.

Compromisso diferente entre os elétricos, grande SUV luxuoso e espaçoso, este E-tron é uma montra da capacidade e da tecnologia Audi. Potente mas também pesado, pede “cuidados especiais” para se aproximar da prometida autonomia de 417 quilómetros.

A garantia é de quatro anos ou 80 mil quilómetros.

Um Audi das Arábias…

FICHA TÉCNICA

Audi E-tron Advanced 55 quattro

Motor: um por eixo, elétricos, síncronos

Potência: 360/480 cv (boost)

Binário: 561/664 Nm(boost)

Transmissão: integral, automática

Aceleração 0-100: 5,7 s

Velocidade máxima: 200 km/h (limitada)

Consumo: 26,2 kHh/100 km

Autonomia: 417 km

Bagageira: 600+60 litros

Preço: versão ensaiada – 120 323 euros; versão base – 87 298 euros