Será controverso no estilo, sem dúvida, mas não é preciso fechar os olhos para reconhecer qualidades ao Mitsubishi Eclipse Cross. O mais recente SUV da marca japonesa, mesmo limitado, por enquanto, à motorização 1.5 a gasolina, quatro cilindros e 163 cv, tem qualidades que lhe dão peso mesmo naquele segmento sujeito a competição muito apertada. Nem tudo é perfeito, mas merece boa nota.
É o carro que aqui está em causa e não o momento da Mitsubishi e o seu futuro numa aliança que lhe abre outras portas a par com Renault e Nissan. Só podia, claro. E na linha de um ASX bem sucedido, o Eclipse, em valor intrínseco, defende bem o emblema. É convincente em matéria de espaço, sobretudo na habitabilidade, oferece um nível de conforto satisfatório, revela um salto qualitativo interessante nos materiais do interior, mexe-se muito bem e, em matéria de consumos, a vulgaridade não o penaliza especialmente face aos pares que têm motores a gasolina. Há números que só a gasóleo ou com um ovo sob o acelerador…
Vamos esquecer a traseira, e o que ela representa também em matéria de menos boa visibilidade. Bem proporcionado (4,405 metros de comprimento; 1,805 de largura e 1,685 de altura), próximos dos chamados coupés do seu estilo, bem assente em jantes de 18 polegadas, é um daqueles SUV a que nos vamos habituando e “entendendo”. Talvez por o interior ser bem mais conseguido e empático no estilo. Resulta de uma combinação interessante de materiais, os plásticos almofadados onde devem estar, acabamentos piano black, frisos cinza, superfícies a imitar a fibra de carbono, pele sintética. Espaços generosos para arrumação e uma interessante solução no porta luvas, com prática prateleira. É do melhor na marca.
Em termos de motor, não sendo dado a explosões, o novo SUV tem o condão de mostrar-se tão despachado quanto autoriza a caixa CVT, pelo que as coisas podem passar-se depressinha. Convence e, para mim, está ao nível dos melhores, quando se lembra a concorrência a gasolina
Pena que a ergonomia não acompanhe este salto. A dispersão dos comandos é um exercício difícil de entender. Há interruptores à esquerda do condutor, em baixo, o computador de bordo tem três teclas no painel de instrumentos, o botão do Eco Mode está na consola, onde, naturalmente, temos a climatização, e junto ao seletor o travão de mão com auto-hold.… Não era possível concentrar e simplicar? O “touchpad” parece solução a que vamos ter de nos habituar, mas, por enquanto, afigura-se-me pouco prático.
São precisas umas horas de dedicação para dominar a tecnologia ao serviço da informação e do infoentretenimento disponibilizado no Eclipse Cross e que, fundamentalmente, corre no ecrã central tátil de sete polegadas tipo tablet flutuante, acessível também através do “touchpad”, no que respeita ao rádio e ao Apple Car Play. Talvez questão de prática e entendimento diferente das coisas quando se oferece praticamente tudo e se remete a navegação para o telemóvel. Não é caso único.
Seja como for, verdade é que nos sentimos bem a bordo, naquela posição elevada habitual que proporciona condução agradável.
Espaço razoável, boa modularidade
Atrás, o espaço é razoável, sem surpresa, quatro viajam melhor do que cinco, mesmo que o túnel não seja muito alto e a consola nem interfira com o espaço. Talvez por não conduzir o ar-condicionado para trás – pelo menos disponibiliza uma ficha de 12V, logo a possibilidade de usar um adaptador para uma ficha USB… À frente existem portas para outras duas.
O melhor é a modularidade, desenvolvida a partir da versatilidade do banco traseiro. Rebate 60X40, o recosto assume duas inclinações (a mais vertical incómoda) e há um movimento transversal dos dois blocos, muitas soluções para potenciar a relação entre o espaço e a habitabilidade. A altura do plano de carga não compromete, nunca se consegue um fundo horizontal com o rebatimento do banco, a mala está longe de ser um assombro (331/448 litros) e se pensam que por haver roda de recurso, esqueçam, em vez dela há um kit anti-furo sob a tampa, com mais algum espaço. Num SUV, continuo a pensar que dá pouco jeito.
E a condução? Bem, guiei a versão com a caixa CVT “desdobrada” em oito velocidades, indiscutivelmente cómoda, sempre sonora, mas, também é verdade, a deixar uma ideia de menos arrasto do que outras transmissões da mesma origem. Não é daquelas que se baralham muito com a pressão no acelerador e pode ser comandada, em modo sport, através das patilhas no volante, solução que também não assegura grande rapidez mas pode dar a ideia de ajudar numa condução mais exigente.
A suspensão do Eclipse, seca e menos brilhante nos maus pisos (as jantes de 18 fazem-se sentir), não precisa de “viver” de ideias. Este Mitsubishi curva bem, é muito ágil nas zonas sinuosas, resiste bem às transferências de massas e, nas curvas longas e rápidas revela “valentia” assinalável, fazendo jus aos 163 cv do motor. Verdade que a luz amarela do controlo de estabilidade pisca algumas vezes, quando se força o andamento, mas nunca o carro perde a compostura – e nós a confiança.
Consumos vulgares, preço honesto
Em termos de motor, não sendo dado a explosões o novo SUV tem o condão de mostrar-se tão despachado quanto autoriza a caixa CVT, pelo que as coisas podem passar-se depressinha. Convence e, para mim, está ao nível dos melhores, quando se lembra a concorrência a gasolina.
Menos brilhantes foram os consumos. Consegui registar 6,2 litros aos 100 no computador de bordo, num percurso suburbano em andamento comedido, mas, na autoestrada, com o cruise control dos 120, o melhor foram 8,1. Esperava menos, com duas pessoas a bordo, mas sempre são mais 1455 kg…
A versão que guiei foi a Intense que no caso da oferta com caixa CVT tem um pacote de equipamento interessante: sistema sem chave, luzes diurnas em LED, máximos automáticos, faróis de nevoeiro, sensores de luz e chuva, câmara traseira e sensores de estacionamento, ar condicionado bizona, volante multifunções, travão de mão elétrico com auto-hold, head-up display, ecrã de tátil de 7 polegadas, computador de bordo a cores LCD.
Um compromisso a considerar para quem quer um SUV médio a gasolina, com as virtudes e defeitos de uma caixa automática CVT, suspensão seca, mas confortável, boa habitabilidade e modularidade que compensa uma mala vulgar, eficaz a curvar, motor interessante nas prestações e menos brilhante nos consumos. Preço honesto e razoável nível de equipamento.
FICHA TÉCNICA
Mitsubishi Eclipse Cross 1.5 CVT
Motor: 1499 cc, turbocompressor, injeção direta, start/stop
Potência: 163 cv/5500 rpm
Binário máximo: 250 Nm/1800-4500 rpm
Transmissão: caixa automática de variação contínua “desdobrada” em oito velocidades
Aceleração 0-100: 9,3 segundos
Velocidade máxima: 200 km/h
Consumos: média – 6,7, suburbano – 6; urbano – 8
Emisssões CO2: 154 g/km
Bagageira: 331/448 litros
Preço: 29 400 euros (campanha); 33 200 euros; versão base – 26 700 euros