As novas tecnologias trazem a oportunidade de fazer coisas novas no design do automóvel. E não surpreenderá que os elétricos possam ser diferentes. Quem o diz é Gregory Guillaume, um dos homens que mudou a imagem da Kia e lembra que tudo está a passar-se muito depressa…

É difícil não ver em Gregory Guillaume, o desenhador chefe do Centro Europeu de Design da Kia, um dos homens do momento. A marca sul-coreana sob a sua batuta e a direção de Peter Schreier, tem trilhado um caminho de afirmação elogiado por todos e a recente escolha do Stinger para finalista do Carro do Ano internacional, depois de ter integrado também nas últimas escolhas para o prémio norte-americano, acabou por ser visto como reconhecimento de um trabalho de mérito desenvolvido ao longo dos últimos 12 anos.

Francês, 48 anos, formado no reputado ArtCenter College of Design, com uma carreira que inclui, por exemplo, o desenho do Golf IV – começou na Audi e prosseguiu a carreira na Volkswagen -, Gregory Guillaume é um dos interlocutores privilegiados para uma conversa sobre o design e as novas tecnologias, designadamente o automóvel elétrico, o qual, seja qual for o caminho, ninguém retira da listagem dos produtos obrigatórios nos próximos tempos.

“No momento em que produzirmos veículos unicamente para a energia elétrica (…)  serão outras as possibilidades, em função das plataformas, das dimensões e da própria arqutitetura. Nessa altura, estou convencido de que os automóveis poderão ter um estilo diferente”

Encontrámo-nos em Genève, falámos de dúvidas e inevitabilidades e fiquei com a certeza de que todos nesta indústria têm muito poucas certezas por mais determinação que ponham na afirmação das suas convicções…

Seja como for, será que as novas tecnologias vão trazer muitas alterações no design do automóvel? Vai ser preciso mudar?

Pois bem, Gregory Guillaume não está certo disso, mas entende que se abre a oportunidade de “fazer alguma coisa diferente”.

“Durante muito tempo”, afirma, “pus-me a questão de saber se os automóveis com outras tecnologias deviam ter um estilo diferente. Não estava seguro, ainda não estou e falta-me encontrar uma explicação para estas dúvidas.”

Exemplo do Prius

Para o designer da Kia, no princípio tudo foi simples. E recorre ao Toyota Prius para o exemplo que justifica o seu ponto de vista.

“Se o consumidor quer assumir a diferença, marcar uma posição, que é o que me parece que se passou com o primeiro Prius – as pessoas queriam mostrar através do automóvel as suas preocupações ambientais –, então o automóvel tinha de ser diferente para ser reconhecido. Mas era o mesmo em todo o mundo e para toda a gente…”

Ora, até por isso, o mesmo em todo o mundo e para toda a gente, Gregory Guillaume interroga-se sobre a necessidade de um estilo diferente para outra tecnologia.

“Hoje vejo isso como uma oportunidade de fazer coisas que não eram possíveis com as velhas plataformas e os antigos motores de combustão!”

A Kia, de qualquer modo, integra um grupo, e na casa mãe há, pelo menos, um exemplo de que um certo estilo vanguardista parece “colado” à imagem do elétrico e do híbrido pensados de raiz, o Hyundai Ionic.

Será esse também o caminho na Kia?

“Os automóveis como o nosso Niro são ainda concebidos como veículos tradicionais enquanto híbridos, um motor a combustão mais a eletrificação. No momento em que produzirmos veículos unicamente para a energia elétrica enfrentaremos outros desafios, porque serão outras as possibilidades, em função das plataformas, das dimensões e da própria arqutitetura. Nessa altura, estou convencido de que os automóveis poderão ter um estilo diferente.”

Quanto à proximidade desse futuro, o designer responde-me com encolher de ombros, sorri e dispara aquilo que todos sentimos….

“… Bem, as coisas estão a andar muito depressa!”

Interior estilo smartphone?

Percebido que não surpreenderá a diferença na imagem dos elétricos, para lá das jantes mais fechadas e das grelhas plásticas na procura de melhor aerodinâmica, como será o interior? Vingará aquela teoria da Mercedes, os grandes ecrãs que levaram à ideia do automóvel smartphone? Vamos conviver com automóveis que nos oferecem um ambiente ao estilo do jogo de vídeo?

“Cada marca tem a sua estratégia e a sua filosofia”, responde Gregory Guillame para me dizer que na Kia há um caminho definido:

“Privilegiamos a ergonomia e procuramos ambientes baseados em soluções fáceis de entender. O objetivo é encontrar a matriz de um ambiente em que nos sintamos bem – e seguros!”

E continua:

“Com as tecnologias futuras é preciso ter em atenção que o mais importante será sempre seguir o caminho certo e não apenas aquele que parece bem… Temos necessidade de nos interrogarmos sobre se aquilo que estamos a fazer passa por transpor para a prática tecnologia verdadeiramente prática e útil”.

Questão fundamental para o responsável da Kia é que as tecnologias devem servir de ajuda ao condutor e não de motivo capaz de levar à desconcentração ao volante. Por isso, adverte, “tem de haver muito cuidado com as tecnologias que trazemos para o automóvel”.

“Não sei se iremos tão longe quanto esses grandes ecrãs utilizados por marcas como a Mercedes, que vemos também na maioria dos concept-cars e alguns apontam como soluções de futuro.”

De todo o modo, na Kia (e as imagens que publicamos comprovam-no), tem havido ensaios em vários sentidos.

Resta-nos esperar para ver, na certeza de que tudo se passa, de facto, muito depressa. Algumas coisas até tão depressa que a marcha-atrás começa a ser muito usada…