É um aristocrata da família dos grandes cabrios. E merece uma vénia quando o vemos passar. Vistoso como poucos e requintado na mesma proporção, V6 com 3.0 litros, tração integral, caixa automática G Tronic de 9 velocidades, 258 cv e 620 Nm de binário, custa mais de 100 mil euros este Classe E quase igual aos bastantes que por aí vemos. Alguma surpresa?
Sobra pouco para dizer quando se guia um carro assim mesmo se não formos, como é o meu caso, adeptos confessos de descapotáveis. Este Classe E 350d 4Matic integra aquela lista de produtos que consomem adjetivos. Está tudo a um nível superior àquele que o cidadão comum até já superlativa. A construção, os acabamentos, os materiais, o equipamento, o conforto, a condução. Um premium, é verdade, mas este, ainda por cima, ao nível do topo dessa oferta – que por acaso ainda vai mais além.
O peso não impede este 350d 4Matic de acelerar de 0 a 100 em 6,1 segundos e um “senhor” binário de 620 Nm garante uma capacidade de resposta impressiva, que nos empurra com ajuda da caixa de nove velocidades, a qual funciona tão bem que até passa despercebida
Fechado, o E Cabrio parece o coupé da família e mantém a elegância, também aqui reforçada pela duas portas, cintura ainda mais vincada, rebatimento suave da curvatura do tejadilho, o contraste vistoso da tela com a chapa, num bitom que pode ser sóbrio ou sofisticado – no meu caso a combinação era entre o cinza rato e o castanho chocolate. Reparei que muita gente reparava…
Aberto, o descapotável da Mercedes é de uma harmonia notável, sobretudo quando nos lembramos que são 4,86 metros de automóvel para um brilhante exercício no equilíbrio das proporções, sempre mais difícil no maior. Podem não estar de acordo, mas deve ser difícil fazer melhor. Ajuda o facto de o cabrio ser mais baixo 15 mm, pormenor que acentua a imagem desportiva e a pose agressiva e poderosa. As duas finas barras de luz das óticas traseiras asseguram uma assinatura muito especial e dão uma ajuda nesse retrato majestoso.
Outro emblema da Mercedes
O interior, já marcado pela filosofia da informação digitalizada no grande painel que hoje constitui outro emblema da Mercedes, é um quadro conseguido na combinação da imagem high-tech com uma interpretação modernista do requinte. Neste caso, pele, alumínio polido, madeira, uns convincentes bancos desportivos, conforto e espaço. Cuidado no pormenor, incluindo a conceção dos poucos comandos que sobram na consola, dominada pelo típico sistema command.
Bem, falava do condutor e do passageiro do lado. Lá atrás, apesar de se assumirem os dois lugares, as costas do banco são demasiado verticais. Será o defeito maior, a par com o espaço para a cabeça. De qualquer modo, não me pareceu claustrofóbico, pois o espaço é aceitável. O acesso, facilitado pelo avanço (e recuo) elétrico do banco dianteira, está longe de ser brilhante. São problemas comuns neste tipo de automóveis, nos quais há sempre uma pontinha de egoísmo do condutor…
O E Cabrio transforma-se em 20 segundos, bastando usar a tecla no extremo dianteiro do apoio de braços central. Arquitetura conhecida, a capota, de construção evoluída e cuidado tratamento acústico, pode ser acionada com o carro em movimento, até uma velocidade de 50 km/h, recolhe na mala sob uma elegante plataforma que parece prolongar o habitáculo, projetando os dois lugares traseiros, e alinha com o portão. Obviamente, reduz ainda mais o espaço para bagagens que, com o carro aberto, baixa dos 385 para os 310 litros de capacidade… menos do que um Classe A! São os custos de um gosto!
E tudo isto enquanto máquina? Ora bem, o que se espera? O peso não impede este 350d 4Matic de acelerar de 0 a 100 em 6,1 segundos e um “senhor” binário de 620 Nm garante uma capacidade de resposta impressiva, que nos empurra com facilidade e ajuda da caixa de nove velocidades, a qual funciona tão bem que até passa despercebida. Um mimo, reforçado pelas patilhas no volante, estas que tanto podem servir para uma condução mais desportiva, como para “subir” a relação antes do tempo e admitir a poupança de uns pingos de gasóleo – como se isso importasse a quem faz esta escolha.
Ao dispor temos cinco modos de condução – Eco, Comfort, Sport, Sport + e o Individual que permite afinar à medida direção e suspensão. Normal num automóvel deste estatuto.
Estradista de eleição
Haverá gostos – e momentos – para tudo, mas o Comfort é o suficiente, enquanto a opção Eco explica que não há milagres a este nível… Sem exageros, em ritmo de passeio, com estrada e autoestrada, o melhor que consegui, com três pessoas a bordo, foram 8,8 litros aos 100.
Naturalmente, o Classe E Cabrio curva à medida das necessidades e, mesmo não sendo pequeno, revela uma agilidade que inspira confiança, até porque a direção ajuda e os travões correspondem às expetativas. Mas, atenção, uma máquina não é necessariamente um “carro de corridas”. Este é um estradista de eleição.
O carro que guiei, em hora de adeus porque ainda aí vem o 400d antes dos híbridos diesel anunciados pela Mercedes, contava com suspensão pneumática (1910 euros), recebia os Packs Premium Plus (4349 euros) e Tecnológico (2733 euros), era linha AMG (2157 euros) e tinha outro equipamento que a marcada estrela de três pontas continua a fazer pagar como extras.
Daí, com mais uns pequenos “nadas” a fazer subir aos 15 487 euros o custo das opções para reforçar a diferença, o preço final de 110 486 euros, valor a tornar ainda mais exclusivo um descapotável de eleição destinado a lote reduzido de automobilistas com poder para comprar aquilo de que gostam… Claro, não ficam mal servidos, porque aquilo de que gostam, afinal, convence, é bom!
FICHA TÉCNICA
Mercedes E 350d 4 MATIC Cabrio
Motor: 2987 cc, V6, turbodiesel, injeção direta, start/stop
Potência: 258 cv/3400 rpm
Binário: 620 Nm/1600-2400 rpm
Transmissão: tração 4 Matic, integral permanente (45/55), transmissão automática G-Tronic de nove velocidades
Aceleração 0-100: 6,1 segundos
Velocidade máxima: 250 km/h
Consumos: média – 6,5 litros/100; estrada – 6,8; urbano – 8,5
Emissões CO2: 179 g/km
Mala: 385/310 litros com a capota recolhida
Preço: 110 486 euros
