Há marcas que perderam expressão em Portugal sem que isso corresponda a um continuado ciclo de produto desadequado. É o que se passa com a Ford e, como exemplo, podemos referir o Fiesta, em 2016 o 7º modelo mais vendido na Europa e, entre nós, 9º no seu segmento e 34º entre os 50 mais vendidos. Nem sequer é o líder de vendas da marca, papel que cabe ao Focus.
Razões de política comercial da marca e um mercado em que, como é sabido, pontificam e “mandam” as frotas (70% das vendas!), explicam a penalização, do meu ponto de vista imerecida do Ford Fiesta.
Este juízo tem por base o contacto com um Fiesta motorizado pelo premiadíssimo 1.0 Ecoboost, três cilindros a gasolina e, no caso, a versão de 125 cv, emparelhamento equilibrado ao ponto de a confiança que inspira ser a recordação prevalecente.
Eu sei que o motor se faz ouvir no habitáculo – e mais quando se acelera –, os consumos deste tipo de motores continuam alvo de crítica por serem menos económicos do que se espera, mas a verdade é que foi divertido e agradável guiar este Fiesta. Direção precisa e equilibrada, um “mimo” de caixa para gerir as seis velocidades e, depois, vivacidade e também uma capacidade que, às vezes, até surpreende.
Vivacidade pela forma como se despacha (primeira curta, segundo que nos leva aos 100 num ápice) e capacidade que se revela quando, por exemplo, a terceira “baixa” às 1500 rpm, o Fiesta aguenta sem queixume e, depois, mostra alma para recuperar com naturalidade quase desconcertante só a custa de acelerador. Não é por acaso que o Ecoboost coleciona distinções.
Na estrada, em andamento comum, este Fiesta gastou 6,8 litros aos 100 e só quando a estrada empinou outra verdade sobressaiu. Afinal, não é só a potência que conta (…)
Na cidade, também pelas dimensões – dos poucos que fica pelos quatro metros (4065 mm) –, é o que pode chamar-se um carro prazenteiro, ágil, “vivo”; na estrada, bem sentados, posição envolvente, volante “à medida” mostra-se muito honesto e revela uma generosidade que convida a ritmos mais vivos. E, sob uma chuvada tremenda e numa estrada a exigir atenção e “trabalho”, respondeu de forma convincente a um tratamento que poucos lhe exigirão, fez disparar os consumos, mas também tirar o chapéu à eficácia da suspensão (nesta versão é desportiva), ao equilíbrio que levou à tal imagem de confiança. Curva bem e “aguenta” a frente com determinação.
E com quatro pessoas a bordo? Pois bem, na estrada, em andamento comum, este Fiesta gastou 6,8 litros aos 100 (subiu para 7,2, juntando a cidade) e só quando a estrada empinou outra verdade sobressaiu. Afinal, não é só a potência que conta, e o peso faz-se sentir havendo intenção de não perder ritmo – e, então, caixa ou paciência! Outros, até com mais cilindrada, também não brilham particularmente nesta situação…
E com quatro pessoas a bordo também se confirma que aqueles carros a que noutros tempos chamávamos superminis, há muito deixaram de o ser. Ninguém se queixou do conforto, ainda que o espaço, designadamente para as pernas, não impressione por aí além. Há melhor. De todo o modo, acrescente-se que o acesso é fácil e o habitáculo tem altura suficiente, mesmo para gente com estatura acima da média.
E o resto? De dentro para fora, a realidade de um nível de qualidade que pede meças. Muito plástico, óbvio, mas um acabamento que convence, num conjunto que agrada à vista, pelo design e “distribuição” dos instrumentos e do ecrã tátil central. Ajuda, como é natural, o ambiente desportivo da versão ST-Line, enriquecida com os frisos a imitar a fibra de carbono, que amenizam o negro apenas “cortado” pelas molduras prateada do seletor de velocidades e o encastre no volante.
Espaços suficientes para arrumações, bolsas nas costas dos bancos sem necessidade de qualquer fundo rígido, entradas USB e AUX na consola, caixa para os óculos no tejadilho completam a oferta do interior, à qual alguns juntariam, talvez, o apoio de braços que eu dispenso.
A bagageira é pequena (292/1093 litros), não há fundo falso, o plano de carga é elevado e fica “distante” do piso. Os bancos rebatem na proporção 60X40 e não permitem uma plataforma plana. Definitivamente, um dos aspetos menos conseguidos.
Por fora? Com quanto há sempre de subjetivo na análise, um carro que se olha com prazer, que os mais jovens dirão ser “giro”. Perfil desportivo acentuado pela ligeira curvatura do tejadilho (na verdade, começa na base do pilar do pára-brisas), a imagem forte da grande grelha, muito “racé” a dominar a dianteira familiar e o portão bem rematado. Ao volante, fui reparando que os Fiesta se distinguiam no trânsito, até parecem mais e, quase sempre, tinham uma senhora ao volante.
A versão ST-Line inclui jantes em liga de 17 polegadas e suspensão desportiva, faróis automáticos, retrovisores exteriores recolhíveis, volante multifunções, ecrã tátil de 6,5 polegadas, ar condicionado manual, pedaleira em alumínio, bancos desportivos com apoio lombar, botão de ignição, sistema Ford Keyfree e limitador de velocidade. No capítulo das ajudas à condução, assistentes e arranque em subida e de manutenção em faixa. O carro que guiei acrescentava, designadamente, navegação e ecrã de 8 polegadas (966 euros), luzes diurnas em LED (305 euros), proteção das portas (127 euros) e câmara de visão traseira com guias (457 euros)
Sem contar com tudo isto, menos apelativo é o preço, 19 608 euros, ainda que a Ford tenha em vigor, até ao fim do ano, uma campanha que dá 1600 euros de desconto e acrescente 800 euros em equipamento e mais 750 no apoio à retoma. O financiamento também é premiado com 1550 euros.
FICHA TÉCNICA
Ford Fiesta 1.0 Ecoboost 125 cv ST-Line
Motor: 998 cc, três cilindros, turbo, injeção direta, start/stop
Potência: 125 cv/6000 rpm
Binário máximo: 170 Nm/1400-4500 rpm
Transmissão: caixa manual de seis velocidades
Aceleração 0-100: 9,9 segundos
Velocidade máxima: 195 km/h
Consumos: média – 4,3 litros/100; estrada – 3,6; urbano – 5,4
Emissões CO2: 98 g/km
Bagageira: 290/1093 litros
Preço: 19 608 euros (entrada de gama – 16 942 euros)