Os desafios da velocidade têm alimentado loucuras. E na era do romantismo automóvel algumas realizações impensáveis. Entre elas, não deve esquecer-se o foguete com rodas e asas da Opel que, em 1928, surpreendeu o mundo. Ora imagine-se um automóvel alimentado por 120 quilos de explosivos!

Fritz von Opel, neto do fundador da marca, Adam Opel, era um desses “sportsman” apaixonados pela competição, a tecnologia e… novos tipos de propulsão capazes de levar a alimentar a ideia de ver um avião a atravessar o Atlântico em poucas horas. E tinha ainda a vantagem do apelido e o que ele já representava em termos empresariais.

Estávamos em 1927 quando Max Valier, astrónomo e piloto de testes e já autor de um trabalho com o título sugestivo “The Advance into Space” (“O Progresso no Espaço”), procurou Fritz von Opel e cativou-o com o potencial da tecnologia dos foguetes. E a Opel abriu as portas da fábrica de Rüesselsheim a esse novo mundo.

Para tornar tudo mais fácil, entra então na estória Friedrich Sander, engenheiro que produzia foguetes em Bremerhavem e trouxe à equipa o acesso ao que era na altura a mais evoluída expressão de um foguete alimentado por combustível sólido.

O RAK 2 (…) com  espetaculares asas laterais, propulsionado por 24 foguetes alimentados por combustível sólido, o equivalente a 120 quilos de explosivos na bagagem, era o suficiente para derrubar um quarteirão se qualquer coisa corresse mal…

Na primavera de 1928, a Opel anunciou o desenvolvimento de um carro propulsionado por foguetes, designado RAK 1. E mostrou esse bólide rudimentar, com uma “bateria” de oito foguetes na traseira, a fazer oito segundos dos 0 aos 100 na pista da Opel, anel de velocidade que foi o primeira circuito permanente da Alemanha. O resultado, impressionante na época, andou nas bocas do mundo e sustentou a fantasia dos voos rápidos para a América e mesmo do desenvolvimento das naves espaciais – afinal, Júlio Verne tinha morrido há pouco mais de 20 anos…

Ficava provado que a tecnologia funcionava, parecia viável o desenvolvimento e impunha-se nova prova que fosse além do arranque. Estava fora de causa a pista da Opel, já com ligeiro “relevé”, que não permitia velocidades superiores a 140 km/h. Vai daí, “espetáculo” marcado para a célebre AVUS de Berlim, em 23 de Maio de 1928.

Três mil convidados

O acontecimento foi rodeado do todo o aparato possível na época: três mil convidados, a nata da sociedade, figuras da cultura, da arte e das ciências, as estrelas de cinema e dois protagonistas, o RAK 2 e Fritz von Opel que era o piloto. Com Sander e Valier tinha desenvolvido um autêntico “charuto”, este evolução mais elaborada no aspeto face ao RAK 1 e, sobretudo, muito melhorada do ponto de vista da aerodinâmica, com espetaculares asas laterais, propulsionado por 24 foguetes alimentados por combustível sólido, o equivalente a 120 quilos de explosivos na bagagem – o suficiente para derrubar um quarteirão se qualquer coisa corresse mal…

O princípio era simples, quando von Opel pressionava o acelerador ativado eletricamente  íam “disparando” dois foguetes de cada vez. Era assim como sucessivas “explosões”… as quais íam gerando as seis toneladas de força que permitiriam “empurrar” o RAK 2 para a velocidade da ordem dos os 200 km/h contemplada como possível nas “contas” do projeto. E foi um assombro aquilo que o carro conseguiu e levou ao máximo a adrenalina do piloto.

“Deixei de pensar. Agia por instinto, estava sozinho contra as forças incontroláveis que me impeliam como o vento de uma tempestade”, disse, emocionado, quando terminou a exibição,  o herdeiro Opel, então com 29 anos. Trajava um blusão de aviador e usava uns proeminentes óculos protetores para minimizar o efeito da deslocação do ar.

Para gáudio da pequena multidão, Fritz von Opel, cabelos ao vento, tinha conseguido atingir 238 km/h, mas  nem todos sabiam era que tinha sido mais a perícia do piloto do que a eficiência das asas a manter o RAK 2 na pista e a permitir a marca alcançada, validada como recorde. O ângulo das asas esteve longe de ser o mais correto, faltava “down force” e a catástrofe podia ter acontecido…

“Herói” manteve o sonho

“Rocket Fritz”, como ,logo o apelidaram, assinou autógrafos, andou em ombros, tornou-se uma espécie de herói pronto para novos desafios e, um mês depois, conseguia novo recorde, agora com o RAK 3 sobre carris, numa linha férrea especialmente fechada para o efeito, nos arredores de Celle-Burgwedel.

É claro que um dia as coisas tinham de correr mal e o mais desenvolvido RAK 4 ficou destruído numa explosão, quando estes homens dos foguetes já pensavam aplicar a tecnologia numa moto, projeto que as autoridades proibiram por considerarem objetivo demasiado perigoso.

Convirá recordar que os alemães continuaram muito ligados à tecnologia dos foguetes, que teve expressão nas famigeradas V2 da II Guerra Mundial. E, já agora, permitiu à NASA recrutar nomes como Max von Braun, figura proeminente do projeto espacial norte-americano. Entretanto naturalizado estado-unidense liderou, designadamente, o desenvolvimento do Saturno V que  levou à primeira viagem à Lua em 1969.

O projeto aeronáutico, entretanto, ficou-se por pouco mais de um sonho. Fritz von Opel, sem o auxílio de catapultas e depois de um primeiro falhanço, em 30 de Setembro de 1929, no aeroporto de Rebstock, em Frankfurt, voou 80 segundos a 25 metros de altitude e a 150 km/h. No entanto, foi  forçado a uma aterragem de emergência, o avião ficou destruído mas o piloto escapou ileso.

Manteve-se, porém, o sonho e o The New York Times de 24 de Dezembro de 1929, escrevia que, ao chegar aos EUA, o líder da Opel Car Motor Company continuava a acreditar que o homem atravessaria o Atântico num avião-foguete…

Fritz von Opel morreu em 1971, na Suiça, e teve oportunidade de confirmar que o seu sonho nem era assim tão utópico.

Fonte: Opel Automobile