Os salões do automóvel nunca mais serão iguais. Adivinhava-se! A mudança no automóvel é inevitável. Já sabíamos! Há dúvidas quanto à melhor solução de futuro. Era um dado adquirido! Agora que nesta hora não houvesse um requiem pelos diesel é que muitos não esperavam. A morte anunciada do gasóleo está adiada. Ficou garantido em Genève. Venha o árbitro…
Nesta hora de mudança para o automóvel, vai haver ainda mais transformações. Estas grandes mostras da indústria pôs o mundo sobre rodas, confirmei no salão suiço, nunca mais serão a festa de opulência a que estávamos habituados. Parece claro um novo rumo quando são cada vez menos as novidades e mais importantes as intervenções dos líderes. E nesse discurso de futuro, de onde apenas sai como certa a mudança, não há espaço para exuberâncias desnecessárias…
Três desistências
Depois de algumas ausências notadas primeiro em Frankfurt e depois em Paris, chegou a vez de Genéve marcar três faltas. Que não compareça a DS, no fundo emblema de nicho, é compreensível. Que também a Mini tenha desistido faz mais confusão. E, enfim, a ausência da Opel dá que pensar…
Nos bastidores, entre dentes, ouço de alguns responsáveis de grandes marcas, que não estão surpreendidos; mais, que também nas suas casas se questiona a necessidade dos investimentos de peso, disparatados para alguns, no circuito dos três grandes salões: Genève, Paris, Frankfurt. E vão mais longe, corroborando aquilo que há muito se tem tornado óbvio: os salões de bandeira, serão cada vez mais isso mesmo e nem todos estão dispostos a gastar dinheiro na festa dos outros… Um grande grupo francês até admitiu não se mostrar em Paris se isso não fosse rentável.
Os elétricos andam aí, mas de forma mais discreta do que seria de esperar. Há quem diga que por ter chegado a hora de desacelerar e haver outros caminhos a explorar nesta corrida para reduzir as emissões… que, afinal, passa pelos diesel
Claro que nem tudo é tão simples assim, a dimensão e importância do mercado alemão “atormentam” todos, mas, apesar disso, parece haver mais interesse em canalizar este tipo de investimento para os grandes mercados emergentes e, na Europa, para a Rússia e países da esfera da antiga União Soviética. Vejam-se os números, importantes para as marcas premium, mais ainda para os outros que aí aumentam os volumes.
Neste exercício especulativo, Genéve promete continuar a ser o grande salão em solo europeu, aquele que menos construtores dispensarão. Afinal, como sempre foi – o mais profissional até pela periodicidade. É um novo rumo à vista!
Afinal, os elétricos
Enquanto grande mostra da atualidade da indústria, a grande surpresa de Genève, para mim, foi não encontrar um elétrico a cada esquina… Sabendo da “pressão”, como mais ou menos lhe chamou Carlos Tavares, o português que preside ao grupo PSA, no sentido de empurrar a indústria para a solução elétrica, esperava maior afirmação prática das marcas nesta tecnologia. É claro que existem modelos elétricos no salão, até entre as novidades, com destaque para o pequeno Hyundai Kauai, e o impressivo Jaguar I-Pace EV3400 e o impressionante concept Aston Martin Lagonda. Mas o resto, fundamentalmente, é o desfile conhecido em que Renault, Nissan e BMW têm papel de relevo e a VW não falta. Juntou-se-lhes a Smart apenas e só com modelos elétricos, até o Brabus, mas antecipando a gama em 2020. Concepts, há muitos, com destaque para a mesma VW, “baterias carregadas”, apostada em apagar o dieselgate, segundo uns e também protagonista de inesperada reviravolta… Mas lá iremos, pois antes há que falar dos japoneses, uma promessa da Honda em dois modelos de caraterísticas urbanas, bem, ao seu estilo, e que parecem recuperar os “velhos” N-360 e N-600 e o desportivo S-800. É para fazer, diz-se, não necessariamente igual aos dois concepts dignos de um videogame…
A Porsche também entra no jogo, por enquanto apenas com uma promessa, o Mission E, proposta interessante para um CUV, reinventado sobre o Panamera ST e, diz-se. que para produzir em 2020/21. As formas, originais sob as linhas inconfundíveis, podem não andar muitos distantes da realidade mas uma das curiosidades deste elétrico é a possibilidade de o carregamento poder ser feito por indução.
Depois eram os pequenos construtores com algumas “eletrificações” curiosas, como do “velho” Mini Moke, rebaptizado E-Moke, ou um engraçadíssima réplica do “ovo” da BMW. Brinquedos! E alguns supercarros, como o chinês Venera da Lvchi, marca de Xangai que apresenta um desportivo com dedo italiano e emblema até inspirado no escudo da Lamborghini: quatro motores elétricos, 2,5 segundos de 0 a 100 e 286 km/h em velocidade de ponta. Lembrem-se, uma vez mais, do que disse Carlos Tavares…
Enfim, os elétricos andam aí, mas de forma mais discreta do que seria de esperar. Há quem diga que por ter chegado a hora de desacelerar e haver outros caminhos a explorar nesta corrida para reduzir as emissões… que, afinal, passa pelos diesel.
Híbridos, Plug-in e… diesel
E os híbridos? Bom, presença mais discreta e natural, num jogo em que ainda nem todos participam mais em que todos vão ter de entrar, na peugada dos japoneses, a quem por exemplo, não de forma inocente, a Renault se alia apostando na entrada no capital da Mitsubishi, dententora de interessante solução no campo dos Plug-in… É um caminho seguro, solução que até começa a ter as atenções do grande público. Mas, neste domínio, o brilho estava com a versão roadster do BMW i8 e, claro, nos campeões desta tecnologia, a Lexus com o VX, um grande SUV naquele estilo habitual da marca e que também vai ter uma versão de sete lugares. Ao lado, era o “parque” da Toyota com mais uma geração Auris, tudo novo, com o híbrido em destaque e a garantia de que já não haverá diesel (e, imagine-se, representava 50 por cento das vendas). E porque há outra aposta, clara, lá estava o Mirai a defender o hidrogénio, também combustível do Clarity da Honda, um e outro com feições modernaças e igualmente ainda datadas.. E o Nexo da Hyundai, grupo que se juntou ao poderoso lóbi em favor dos “fuel cells”.
Entretanto, numa espécie de contraciclo, a Mercedes anunciou para o verão os Plug-in Diesel. É uma decisão que, no mínimo, surpreende… Mas mais ainda aquilo que disse o CEO da Volkswagen, para quem os diesel ainda têm um papel a desempenhar e constituem a única forma das marcas conseguirem os resultados ambientais a que estão obrigadas em matéria de CO2, as célebres 95 gramas!
Alguém se entende? Venha um árbitro!
Vamos ter de esperar alguns salões até percebermos bem o que vai passar-se.
E… a sério
Este “cheirinho” a gasóleo, pelos vistos, vai acompanhar-nos durante mais tempo do que se pensava. E até a Porsche não deixa dúvidas sobre a manutenção daquelas motorizações que eram quase sacrílegas para um desportivo. E diesel era o que não faltava em Genéve, exceção feita à Toyota, decidida no seu caminho.
Entre os automóveis que o público continua a comprar, com motores de combustão, nada havia nunca visto. Era o que faltava neste mundo. Eleito Carro do Ano no primeiro dia do Salão, o XC-40, para mim, até foi menos vedeta do que o Polestar, o belo coupé que abre uma nova marca de luxo da Volvo – um milagre tanta coisa só com duas plataformas e um bloco!!!
Sensação para o terra-a-terra do quotidiano é o Peugeot 508, tão bem conseguido como tinha prometido a fotogenia das primeiras imagens. Aí está um carro com tudo para fazer boa carreira. Surpreende pelas linhas e pelo desenvolvimento do interior que a Peugeot apurou no desenvolvimento do seu emblemático i-cockpit.
Ainda no domínio daquilo que é para mais pessoas, a carrinha Kia Ceed mostrou as formas para alargar a gama. E, talvez para não precipitar as coisas, não foi ainda em Genéve que se viu a shooting brake prometida.
O novo Audi A6 também é bom de ver. A marca dos anéis, necessitada de uma “lavagem” estética inova e apura sem mudar o estilo. O resto é a imagem de qualidade apanágio da casa e da escola alemã e carregadinha de tecnologia.
Na BMW, mais do mesmo. Agora é o X-4 a alargar a família dos SUV que há pouco recebeu o X-2 e tem um X-7 na linha de protótipos. E é capaz de ser mais do que para o mundo ver…
A Mercedes andou por outro mundo e sem tirar gás ao novo Classe A, mostrou o facelift do Classe C mais o AMG, GT 53, um daqueles coupés de que custa tirar os olhos.
Os sonhos e o resto
E para ver com êxtase, passe o exagero, aquele desfile sempre impressionante dos supercarros que por aqui até se vendem. Tome nota: Bugatti, Koenigsegg, Pagani, Zenvo, Rebellion e mais, muito mais.
Aliás, tanto que neste mundo de exceção nem faltaram os automóveis que voam, como o drone realizado pela ItalDesign em colaboração com a Airbus e assente sobre um microcarro com emblema Audi; e o Pal-V, espécie de helicóptero de bolso que se fecha como um insecto quando recolhe as asas e fica parecido com um automóvel. A própria Rinspeed também alinha nesta solução de mobilidade com um drone de grandes dimensões, mas este ainda por concretizar.
Outros campos da mobilidade em que também divagou a Renault, mas com rodas no chão, através do EZ-GO.
Sonhos? Cada vez menos, ainda que nem o futuro do automóvel esteja decidido… Alguém ficou com dúvidas?
Haverá mais para as cenas dos próximos capítulos. Mesmo neste contexto, fica sempre qualquer coisa por dizer…