A operação foi invulgar e controversa para alguns. Na prática, o Cactus da nova geração, retocado para ser visto como berlina em vez de SUV, ganha conforto com a suspensão de duplos batentes, mantém a agilidade e, no caso da versão com o diesel 1.5 BlueHDI de 120 cv e caixa automática, mexe-se bem, é comedido no consumo e tem preço concorrencial.

É um automóvel interessante a segunda geração do Citroën que nasceu marcado por mais uma das originalidades marca, os perdidos Airbumps – as grande almofadas protetoras nas portas – e, à revelia da opinião da gente da casa, foi visto e entendido como a interpretação low-cost do emblema do double Chevron, para o que contribuíram algumas soluções que se mantêm, como os vidros traseiros de abertura em compasso, e outras que desapareceram, caso do antiquado banco traseiro com recosto inteiriço.

Imagem mais convencional, – também, se foram as barras no tejadilho – e associada ao  novo rosto da marca, na linha da dianteira do C3 que tem feito escola, o Cactus continua, ainda assim, a ser original nas formas e, claro, no interior, casamento interessante de modernismo com curiosa inspiração rétro, aquele porta-luvas a lembrar a velha mala de pioneses e os puxadores das portas como a pega da pasta… Os materiais, e sobretudo os plásticos, transportam-nos para a realidade do segmento e explicam onde pode ir buscar-se um preço sempre mais competitivo.

Compromisso honesto, este C4 Cactus 1.5 BlueHDI com caixa automática, agora confortável berlina convencional, habitabilidade razoável e qualidade adequada. Ágil, despachadinho e com um comportamento eficaz, mostrou-se económico e tem preço concorrencial

Se tudo isto ajudou a construir uma imagem, agora o que pontifica é a elevação de outro lado do produto. O relevo tem de ser dado, primeiro, ao lançamento de uma suspensão que vai sendo replicada na gama e à melhoria sensível na insonorização – vidros mais espessos, reforços de materiais absorventes ao nível de tablier, piso e proteção do motor –  ainda mais importante num Diesel, dois aspetos que trazem outro nível de conforto ao C4. Que é também potenciado, na versão que ensaiamos, pelos bancos Advanced Confort, construídos com espuma de elevada densidade e costas mais largas; único senão, o pouco apoio lateral.

Habitabilidade razoável e mala mediana

Mantêm-se, claro, as questões de habitabilidade, algum acanhamento à frente ao nível dos cotovelos (ainda assim beneficiado), mas sem motivos para grande reparo por parte de quem viajar atrás, desde que sejam apenas dois, que não têm direito a apoio de braços central.

A bagageira fica-se pelo mesmo 358 litros, capacidade mediana, e ajuda pouco a altura do plano de carga e o desnível para o fundo. O banco traseiro rebate na proporção 60×40 e a chapeleira, rígida, está ligada ao portão. Vulgar.

Guiar este redescoberto Cactus é encontrar-lhe virtudes. O já conhecido motor 1.5 BlueHDI de 120 Cv do grupo PSA  e a caixa automática de seis velocidades, com um escalonamento equilibrado, proporcionam o despacho bastante uma condução muito agradável, num carro que ainda por cima perdeu peso (cerca de 150 Kg). A suspensão de duplos batentes hidráulicos progressivos faz o resto, adicionando ao conforto uma significativa eficácia em curva. Verdade que poderá sentir-se algum balanceamento da carroçaria. Mas sempre muito suavizado e sem influência no comportamento, mesmo quando se força o andamento em zonas sinuosas e, com surpresa, nem se regista a intervenção do ESP. Convincente!

A suspensão de duplos batentes hidráulicos assente num sistema é simples: o amortecedor está no meio de dois batentes, um de alívio e outro de compressão. Daí, e de acordo com o momento, mola e amortecedor controlam em conjunto os movimentos verticais sem a intervenção dos batentes, quando a suspensão não é chamada a grande esforço. Em situações de compressão e alívio mais significativas, mola e amortecedor trabalham com os batentes superior e inferior de compressão hidráulica. Retarda-se assim o movimento de forma progressiva, dado que o batente hidráulico a absorve e dissipa uma parte da energia. Não há, por isso, as bruscas pancadas nos limites do curso do amortecedor.

Consumos interessantes

Outro aspeto positivo da utilização deste C4 Cactus 1.5 BlueHDI são os consumos registados. Com quatro pessoas a bordo, em via rápida e estrada, às velocidades legais, consegui 5,2 litros aos 100. No passeio domingueiro em percurso suburbano, o computador de bordo registou 4,9. A média geral, incluindo alguns exageros, ficou-se pelos 5,3. Simpático!

A versão que guiei foi a topo de gama designada Shine que acrescenta ao equipamento de série ar condicionado automático, tejadilho panorâmico, travagem de emergência ativa, câmara traseira, navegação e jantes de 17 polegadas. Não faltam cruise control com limitador, volante multifunções, ajuda ao arranque em subida, sensores de luz e estacionamento e ecrã tátil mirror screeen, controlo da pressão dos pneus.

Compromisso honesto, este C4 Cactus 1.5 BlueHDI com caixa automática, agora confortável berlina convencional, habitabilidade razoável e qualidade adequada. Ágil, despachadinho e com um comportamento eficaz, mostrou-se económico e tem preço concorrencial.

Como um SUV se transformou em berlina…

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FICHA TÉCNICA

C4 Cactus 1.5 BlueHDI 120 S&S EAT6 Shine*

Motor: 1499 cc, turbodiesel, injeção direta, start/stop

Potência: 120 cv/3750 rpm

Binário máximo: 300 Nm/1750 rpm

Transmissão: caixa automática de seis velocidades

Aceleração 0-100: 9,7 segundos

Velocidade máxima: 201 km/h

Consumos (WLTP): misto – 5 litros/100; alta velocidade – 5,9; velocidade média – 4,8; baixa velocidade – 4,3

Emissões (WLTP): 131 g/km

Bagageira: 538 litros

Preço: desde 27 890 euros

*Concorrente ao Essilor Carro do Ano/Troféu Volante de Cristal 2019 (Categoria Familiar do Ano)