Uma grande surpresa pela positiva, o Toyota C-HR, o SUV híbrido de estética ousada, linhas bem vincadas e agrestes, a “embrulhar” aquela imagem de carro-quase-brinquedo, afinal bem maior do que parece (4,36 metros de comprimento). Meia dúzia de dias ao volante entre a cidade e a estrada revelaram um automóvel que se tornou para mim num produto ao nível daquela imagem da Coca-Cola eternizada por Pessoa: primeiro estranha-se, depois entranha-se…
Ora, fazia parte do lote de jornalistas que achou o C-HR demasiado futurista, mas depressa lhe descobri uma forte personalidade e motivos bastantes para justificar inesperada empatia. E como não aconteceu só comigo, vejo aqui uma primeira razão para o facto de eles serem cada vez mais comuns na paisagem portuguesa. E com gente de diferentes idades aos comandos…
A segunda revelação resulta do afinamento da solução híbrida que acompanha o C-HR. A verdade é que temos aqui um automóvel realmente económico, mesmo se a utilização estiver distante do que parece recomendado para quem faz uma escolha deste tipo.
Economia
Consegui médias entre os 4,7 litros aos 100, em ritmo de passeio de fim-de-semana, até aos 6,2 numa condução mais rápida em estradas secundárias. Na autoestrada, cruise-control “cravado” na margem do respeitinho pelos limites, o computador de bordo gravou 5,3 ou 5,7 quando passei a rolar dentro daqueles números que temos todos ainda por legalmente toleráveis… No final, com mais de 300 quilómetros andados e autonomia para quase outros tantos (o depósito tem 50 litros de capacidade), a média cifrou-se em 5,6. Nada mau – e com a certeza que custa pouco baixar este resultado.
Terceira nota positiva vai para a agradabilidade de condução, na cidade com aquela graça de se conseguir andar algumas vezes e poucos quilómetros em modo elétrico; na estrada, gozando um nível de conforto apreciável, impressivo pela convincente resposta em curva, mesmo sem recorrer a uma afinação mais radical através dos modos de condução – alteram a resposta do motor e a assistência da direção – e optar pelo modo Sport (ou outros são normal e Eco).
O modo elétrico pode ativar-se num botão na consola, junto ao seletor. Não permite grandes feitos em termos de distância, talvez 2/3 quilómetros e a certeza de que vai ser o motor a combustão a repor a carga nas baterias… É o politicamente correto para o efeito que poderá resumir-se naquela frase da sabedoria popular que diz: “do mal, o menos”. Adiante.
Aspeto menos brilhante é a caixa de variação contínua (…), aquele zumbido e a sensação de arrasto quase constante
Prestações vulgares
Face a tudo isto, importa dizer que o C-HR está longe de ser um carro explosivo a fazer jus à imagem desportiva: as prestações são vulgares e as retomadas de aceleração idem. A distância ao solo também aconselha a que não se veja nele um SUV para grandes aventuras, se é que alguém pensaria nisso. Mas é sempre suficientemente ágil, muito ágil, e transmite aquela sensação de segurança que nos traz confiança uma vez ao volante. Nota mais!
O aspeto menos brilhante, para mim, é, definitivamente, a caixa automática de variação continua (CVT). Os sucessivos desenvolvimentos, tornaram-na mais silenciosa, é facto, ainda assim, aquele zumbido e a sensação de arrasto quase constante são desnecessárias como há hoje quem comprove, por exemplo através de transmissões de dupla embraiagem. Mas o problema deve ser meu: Toyota e Lexus híbridos são milhões, um êxito mundo fora e principalmente nos EUA, vendem-se todos os dias e, pelos vistos, ninguém se queixa da CVT.
Então passemos à outra vivência e aos aspetos práticos. Antes de entrar, registo para a posição muito elevada dos (originais!) puxadores das portas traseiras e para o acesso que estas facultam, longe de ser brilhante. O habitáculo simpático, simples, modernaço e bem resolvido, dá destaque ao grande ecrã tátil. Os materiais fazem jus à melhor escola japonesa, com plásticos dúcteis, agradáveis ao toque. Ao volante sentimo-nos bem, os bancos desportivos ajudam, a ergonomia dispensa reparos, tudo à mão. O ecrã digital coloca os problemas do costume: um comando rotativo dava jeito e facilitava as coisas; mas a maioria das marcas não entende assim. Atrás, o espaço é bom para quatro, normal; mais complicada a sensação de clausura causada pelo efeito da cintura alta conjugado com as janelas pequenas. Vá lá que estas abrem. Foi a solução estética a condicionar outro conforto a bordo… Quanto à bagageira, 377 litros não é muito nem pouco, anda no meio da concorrência, satisfaz sem surpreender. o Banco traseiro é rebatível assimetricamente
Equipamento rico
Para variar, conduzimos uma versão Exclusive enriquecida com o chamado Pack Luxury – topo de gama, a diferença do costume e outro preço. Falta quase nada, claro, e para fazer a diferença: wi-fi, reconhecimento de voz, Toyota Touch e sistema de navegação Go com ecrã de 8 polegadas, alerta de ângulo morto, deteção traseira de aproximação de veículos, faróis em LED (incluindo luzes de nevoeiro) com nivelamento automático. Isto a juntar a um pacote riquíssimo, em que se destaca o cruise-control adaptativo, máximos automáticos, travão de parque elétrico, câmara traseira, aviso de saída de faixa, controlo de arranque em subida, reconhecimento de sinais de trânsito, ajuda ao estacionamento – um verdadeiro catálogo de “gadgets” e sistemas de ajuda à condução.
Um carro interessante, uma proposta com sentido!
FICHA TÉCNICA
Toyota C-HR Hybrid Exclusive
Motor: quatro cilindros, gasolina, 1798 cc, injeção eletrónica + motor síncrono de magneto permanente; bateria de hidretos metálicos de níquel
Potência: 122 cv; motor elétrico 53 Kw
Binário máximo: 142 Nm/3600 rpm; motor elétrico 163 Nm)
Transmissão: caixa de variação contínua com controlo eletrónico
Aceleração 0-100: 11 s
Velocidade máxima: 170 km/h
Consumos: média – 3,9 l/100; estrada – 3,5; jurbano: 4,1
Emissões CO2: 87 g/km
Mala: 377 litros
Preço: 34 084 euros (com despesas)