Alfa ganha “pilhas” com Junior Elettrica

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Grande suavidade de rolamento, potência quanto baste, equilibrado de suspensão e mordaz a curvar, o Alfa Romeo Junior Elletrica é uma boa entrada da marca italiana na realidade dos 100% elétricos, mesmo que a autonomia fique aquém do prometido. A estética continua a ser argumento num compacto que arranca nos €40 500.

Contra a corrente, a Alfa Romeo esqueceu um B-SUV e optou pelo compromisso mais clássico do dois volumes. Rodas bem puxadas aos extremos, relativamente baixo, muito bem proporcionado para os seus 4,17 metros de comprimento, imagem desportiva com aquele toque de agressividade e elegância muitos próprios do design italiano e da tradição da marca. É difícil ficar indiferente.

O Scudetto tem novo tratamento e neste caso apresenta a solução Progresso que ganha corpo numa cobertura plástica original. Os faróis 3+3 em LED Matrix e os rasgos para as cortinas traçam um rosto agressivo e bem parecido.

Cintura alta, fecho das portas traseiras oculto na moldura da janele que liga ao curto pilar C, superfície vidrada encurtada, cavas das rodas musculadas, grandes jantes marcam a silhueta limpa e fluida do novo Alfa Romeo.

A traseira, chamada pelos designers de truncada, é o remate ajustado para um automóvel original e com boa presença. O grande para-choques transmite robustez e é curiosa a solução do bloco luminoso funcionar quase com um segundo defletor.

Estética apelativa, ambiente a condizer, o Alfa Romeo Junior Elettrica é um automóvel equilibrado e honesto, com uma dinâmica à altura da tradição, prestações de acordo com os 156 cv de potência, condução agradável mas ficou aquém das expetativas no que respeita a consumos e autonomia

O interior defende a escola italiana e os “princípios” Alfa com o painel de instrumentos (10,25”) a manter os dois grandes círculos com pequenos para-sol. Por isso, o painel central é unidade individualizada, nesta caso colocado em posição baixa, semi encaixado no tablier, do qual se destaca ligeiramente para ficar inclinado para o condutor. Alguma originalidade, menos eficácia porque importa baixar os olhos para ler a informação.

O sistema de infoentretenimento (10,25” também) é, aliás, um dos aspetos menos conseguido, pouco intuitivo, botões de atalho perdidos ao alto e, isso sim positivo, um teclado para a climatização na base do monitor.

Bem arrumada é a consola, botão de start/stop elevado, mas o mais “estilo” Stellantis: o seletor de marcha com o grande “interruptor”, teclas pequenas para as posições “P” e “E”, o mesmo comando para os modos de condução (o DNA Alfa que merecia o botão tradicional) e o travão de mão elétrico. Espaço é que não falta: compartimento para o telemóvel com duas portas USB-c, porta copos ou garrafas e um uma caixa sob o pequeno apoio de braços.

Muito plástico, decoração interessante, boa construção

O ambiente é muito plastificado – é preciso ter em conta que estamos num Segmento B. Temos um forro maioritariamente rugoso de bom tacto, algum piano black, uma decoração a sugerir madeira e também pele sintética na base do tablier e na consola, o que até é pouco habitual.

A construção e montagem são cuidadas, o ambiente é desportivo, os bancos garantem bom apoio, ainda que não sejam muito receptivos. De todo o modo, boa posição de condução e um volante multifunções com teclas físicas, dimensões médias e boa pega.

Em termos de espaço, normal à frente, vulgar atrás, com uma consola intrusiva e túnel alto a penalizar um quinto passageiro. A altura do banco também ajuda pouco a posição dos joelhos (vale que os pés passam sob os bancos dianteiros) e falta um apoio de braços central.

Quanto à mala, ao nível do segmento (400 litros) com um fundo que pode assumir três posições e dar ajuda na arrumação. À frente foi criado um pequeno frunk com tampa destinado ao transporte do cabo de carregamento, devidamente enrolado. Original.

Construído sobre a plataforma multi energias da Stellantis e usando motor do grupo, este Alfa Romeo Junior Elettrica, tração dianteira, debita 156 cv e o binário de 270 Nm. Acelera dos 0 aos 100 em 9 segundos e atinge os 150 km/h em velocidade de ponta.

São tudo números que não surpreendem e contrariam a escalada de potências e prestações tornada norma durante muito tempo e, agora, parece a conhecer algum abrandamento.

E a verdade é que o primeiro Alfa elétrico cumpre com as necessidades. Começa por revelar-se um rolador muito suave, talvez pelo facto de as jantes de 18 polegadas terem pneus com o perfil adequado a um familiar. Essa escolha nem o penaliza face à firmeza da suspensão, um compromisso que não penaliza o conforto e lhe garante um comportamento mordaz em curva.

Sobrevirador bem mandado, travões pouco progressivos

Comporta-se como um tração à frente, naturalmente sobrevirador, mas muito bem mandado. A direção, direta q.b. queria um pouco mais de peso e os travões pedem habituação, porque o tato do pedal é leve, falta progressividade, e a resposta resulta muito pronta e até brusca. No entanto, temos o afinco necessário quando se usa o modo d (Dynamic) para pedir ao Junior que mostre o seu temperamento Alfa. Nas estradas sinuosas, à agilidade da máquina junta-se então essa capacidade para travar forte e reduzir a velocidade. São situações em que este Alfa se mostra divertido, faz honras ao emblema, mesmo que a entrega do binário, muito “redonda”, não signifique a brusquidão própria daqueles elétricos mais nervosos. É o bastante para a receita!

O Alfa Elletrica assume por defeito o modo n (natural), os outros dois (d e a – Advanced Efficiency) são escolha do condutor. Este facto privilegia o equilíbrio na utilização do automóvel, mas, em busca de melhores consumos, é natural recorrer ao modo de eficiência. Foi o que fiz numa primeira experiência num percurso que teve um pouco de tudo, mas principalmente estradas suburbanas. Não tive cuidados especiais e não prescindi do ar condicionado e o computador de bordo indicou um consumo de 16,9 kWh/100 km. O valor foi penalizado por uma experiência exigente em modo dinâmico o que chegou a ievar o consumo para os 22,3. Daí, acreditar ser possível um valor mais próximo dos 15/15,5 prometidos pela marca, também acrescentando alguns cuidados e explorando o máximo da regeneração através do modo b, que garante suficiente desaceleração, ou simplesmente a inércia.

Em autoestrada, com muito vento e via quase sempre desimpedida, cruise-control nos 120 km/h o consumo superou as minhas expectativas: 22,6 kWh/100, o que significa uma autonomia de 221 quilómetros. Deve ser possível fazer melhor.

A média final, para 180 quilómetros foi de 18,2 kWh, sobravam 35% por cento de carga na bateria e o computador de bordo prometia mais 110 quilómetros de autonomia. Portanto, 290 contra os 410 quilómetros prometidos pela Alfa Romeo no ciclo combinado.

Com um carregador embarcado de 11 kW o Elettrica aceita carga a 100 kW e pode levar a bateria dos 20 aos 80% em 27 minutos. A 11 kWh “atestar”  leva 5 horas e 45 e a 7 kW 8 horas e 15.

A versão Speciale que conduzi tem razoável nível de equipamento. A saber: iluminação full LED, entrada e arranque sem chave, cruise control adaptativo, condução autónoma de nível 2, monitorização do ângulo morto, banco do condutor elétrico, ar condicionado automático, CarPlay e Android Auto sem fios, navegação, câmara traseira de 180 graus, portão elétrico, vidros escurecidos, jantes de 18 polegadas.

Estética apelativa, ambiente a condizer, o Alfa Romeo Junior Elettrica é um automóvel equilibrado e honesto, com uma dinâmica à altura da tradição, prestações de acordo com os 156 cv de potência, condução agradável mas ficou aquém das expetativas no que respeita a consumos e autonomia.

FICHA TÉCNICA

Alfa Romeo Junior Elettrica Speciale

Motor: elétrico

Potência: 156 cv

Binário máximo: 270 Nm

Transmissão: automática, velocidade única

Aceleração 0-100: 9 s

Velocidade máxima: 150 km/h

Bateria: iões de lítio, 54 kwh (50 úteis)

Consumo: 15/15,5 kWh/100 km

Peso: 1 620 kg

Dimensões: c/l/a – 4,17/1,78/1,50 metros

Bagageira: 400 litros

Preço: versão ensaiada, €44 303; desde €40 500