A ideia parece ser simples, e, sem surpresa, numa linha habitual: forte e bom. Este será o retrato mais simples do Skoda Karoq, talvez sem cores vibrantes, mas imagem de boa definição e rigor. Guiei a versão 1.6 TSI de 116 cv do SUV checo, equipada com caixa DSG de sete velocidades. Vulgar nas prestações, suspensão firme, revela enorme diferença nos consumos quando se escolhe o modo ECO. Tem preço competitivo e paga Classe 1.

Na linha alargada de SUV do Grupo VW, o Skoda Karok parece ser um dos mais formais, no fundo como sucede com o seu irmão maior, o Kodiac. Tem pouco de todos (plataforma é partilhada com Tiguan e Ateca, motor é o que se sabe) e nada do original Yeti que substitui. Mas não sobram dúvidas de que só podia ostentar o emblema checo pela sobriedade do estilo, um rigor nas formas muito próprio da Europa mais a leste. E não constitui novidade que deva ser visto numa linha em que os aspetos práticos superam a feição desportiva. É a frieza da utilidade, leitura objetiva da função do automóvel de acordo com as caraterísticas. Judicioso!

O interior espelha este princípio. A primeira ideia leva-nos para a imagem do espartano, porque há uma escola que trabalha sobre a simplicidade. Mas não falta equipamento, ainda que esteja tudo “camuflado” no grande ecrã central tátil com menu subdividido em 11 campos! “Modernaço”, intuitivo q.b., mas a pedir estudo prévio tão alargadas são as funções; contrasta com o rigor da instrumentação analógica com ecrã digital a meio – um bom computador de bordo –, que temos à frente dos olhos (para mais tarde a versão digital do grupo). O resto é a climatização, um volante multifunções limitado ao essencial  e 18 botões. Simples e fácil.

Vamos encontrar aquele motor que nunca foi referência prestacional, não é preguiçoso mas está longe de ser nervoso. E, neste caso, a caixa DSG de sete velocidades, sempre uma comodidade, acompanha a mediania por falta de prontidão na resposta

Quanto a qualidade, bom nível, construção formalmente correta, acabamentos cuidados. Nada de deslumbrante, porém. Plásticos dúcteis onde é preciso, dois frisos rígidos em cinza para amenizar o “peso” do negro do tablier, alguma vulgaridade, austeridade mesmo, ambiente frio ainda que os estofos em pele (opção) sejam elemento valorizador.

Como sempre, muitos e bons espaços para arrumação – consola e forros das portas –, uma das faces do Simply Clever da Skoda, que nos traz invariavelmente soluções interessantes, ainda que, desta vez, nada de realmente novo. De qualquer modo, um elástico na bolsa da porta dá mais jeito do que parece…

Modularidade em bom plano

O espaço é razoável, tanto à frente como atrás, aqui num banco alto, valorizado pelas mesas (opção e pouco práticas de abrir) nas costas dos bancos dianteiros. O túnel é alto e pouco intrusiva a consola que traz o ar condicionado para trás e uma ficha de 12V. Ainda assim, os cinco lugares válidos, penalizam quem vai ao meio. As costas do banco tripartido podem assumir duas posições, para potenciar a bagageira, mas a mais vertical fica a dever à comodidade que se ressente da dureza de recosto e assento. O acesso não põe problemas, beneficiando da pequena inclinação do tejadilho.

A modularidade está em bom plano e os bancos Varioflex (opção), sistema que permite remover ou reposicionar os lugares traseiros, são ajuda importante, até por também lhes darem movimento transversal, de forma a ajustar o espaço às necessidades. Permitem até optar por um verdadeiro quatro lugares, retirando o banco central. De todo o modo, esta variedade de soluções não deixa criar um fundo plano. Um reparo a juntar ao facto de a chapeleira em rede estar apenas recolhida ou funcionar agregada ao portão traseiro. Parece-me pormenor a corrigir.

A bagageira dispensa críticas, está entre as maiores do segmento com os seus 521 litros de capacidade extensíveis até aos 1630, permitindo, neste caso, transportar objetos com 1,85 m. O plano de carga nem é muito alto e não alinha com o fundo, que oculta o pneu sobresselente de pequenas dimensões. A iluminação é assegurada pela lanterna portátil.

Do ponto de vista dinâmico, um carro agradável de guiar. Bem sentados ao volante, vamos encontrar aquele motor que nunca foi referência prestacional, não é preguiçoso mas está longe de ser nervoso. E, neste caso, a caixa DSG de sete velocidades, ainda que sempre uma comodidade, acompanha a mediania por falta de prontidão na resposta. Continua a garantir melhores consumos e emissões.

Comportamento com maneiras

Alto como a maioria dos SUV e com 17,2 cm de distância ao solo, este Skoda acusa algum balanceamento nas transferências de massas, mas não é por isso que deixa de convencer em curva, seja nas estradas sinuosas ou nas longas curvas que podem fazer-se em andamento rápido. E não demos por entradas forçadas do ESP a corrigir qualquer desequílibrio por exagero. Comporta-se com maneiras!

Os quatro modos de condução disponíveis – Eco, Comfort, Normal e Sport – ajudam a encontrar o compromisso adequada a cada um, num carro com uma direção que cumpre no posicionamento do eixo dianteiro, o qual respeita as ordens naqueles andamentos vulgares e mesmo um pouco acima disso. A travagem não é muito mordaz mas fica ao nível de “dominar” as prestações.

Quanto a consumos, há duas medidas. Usando o modo Eco consegui um mínimo de 5,4 litros aos 100 em autoestrada e 5,3 sujeito ao ritmo do trânsito em estrada secundária muito concorrida. Numa viagem da ordem dos 300 quilómetros, com quatro pessoas a bordo, o computador de bordo registou 6,5, resultado para a média final de mais de 2100 quilómetros com muitos condutores e diferentes utilizações.

O preço da diferença no equipamento

Em termos de equipamento, fator sempre influenciável em qualquer juízo, este Karoq carregava 6 515 euros (!) em extras, o que elevava o preço para cerca de 42 500 euros. Os estofos em pele são o mais caro (1 430 euros), o resto era o bluetooth com WLAN, SAP e LTE com carregador por indução (470 euros), front assist e cruise control adaptativo até aos 160 km/h (260 euros), jantes em liga de 18” (415 euros), assistente de manutenção em faixa e detetor de ângulo morto (360 euros), mesas reclináveis nas costas dos bancos dianteiros (90 euros), Pack LED interior (290 euros), pintura metalizada (415 euros), sinal de rádio digital (100 euros), infoentretenimento com navegação Columbus (1 045 euros), tejadilho panorâmico (990 euros+160 da cortina), reconhecimento de sinais de trânsito (65 euros), bancos Varioflex (405 euros).

Na versão Style há transmissão DSG, faróis Full LED também de nevoeiro e função “corner”, ar condicionado automático, sensores de luz e chuva, câmara traseira e sensores de estacionamento, cruise control, detetor de ângulo motor e Bluetooth com WLAN, assistência ao arranque em subida, comandos por voz, navegação Amundsen, retrovisores exteriores antiencadeamento, aquecidos e rebatíveis, jantes de 17”.

Uma proposta honesta para um SUV vulgar nas prestações, bem comportado na estrada, suspensão firme, espaçoso e versátil, com interessantes resultados de consumo e um preço competitivo na base Style e mesmo quando equipado à medida dos gostos de cada um. A filosofia do forte e bom, a ponto de ser um valor na hora de trocar.

FICHA TÉCNICA

Skoda Karoq 1.6 TDI 116cv Style DSG

Motor: 1598 cc, turbodiesel, injeção direta, intercooler

Potência: 116cv/3250-4000 rpm

Binário máximo: 250 Nm/1500-3200 rpm

Transmissão: caixa automática de dupla embraiagem com sete velocidades

Consumos: média – 4,4 litros/100; estrada – 4,3; urbano – 4,6

Aceleração 0-100 km/h: 10,9 s

Velocidade máxima: 188 km/h

Emissões CO2: 117 g/km

Dimensões: comprimento – 4,38 m; largura – 1,84 m; altura – 1,60

Bagageira: 521/1630 litros

Preço: unidade ensaiada – 42 496 euros; versão Style desde 35 981 euros