Entendo que o Kauai é uma referência para a Hyundai e um daqueles pequenos SUV que merece ser visto com atenção. O 1.0 de três cilindros a gasolina de 120 cv, como é normal nestas escolhas, não brilha nos consumos, mas deixa marcas em quem o guia. Despachado, honesto, generoso capaz para a “guerra” – na primeira linha! Um daqueles automóveis que gostamos de “viver”.

Mantenho a ideia: o Hyundai Kauai teve o toque de Midas… Confesso a minha admiração pelo trabalho que teve o dedo de Peter Schreyer, um estilo conseguido – sejam gostos o que forem, este é o meu! Depois porque a imagem externa tem excelente reflexo no interior.

Verdade que entramos num mundo de plástico, mas, para um produto deste segmento, considero que o nível está acima do que é comum num generalista e talvez do inesperado para quem ainda alimenta preconceitos em relação aos automóveis sul-coreanos. O cuidado posto na escolha e combinação dos materiais merece nota alta e o próprio ambiente conquista, “vive-se” bem. E nem é preciso ser jovem para gostar, ainda que todo aquele tratamento transmita irreverência, frescura. Bem feito!

É uma surpresa descobrir que um “carrinho” destes possa ser tão divertido e tão generoso no comportamento; e generoso, antes de ser boa vontade é mesmo feitio!

Em termos de espaço um compromisso aceitável para um SUV do segmento B, valorizado atrás pela configuração do banco dianteiro, que permite lugar de sobra para os pés e aumenta assim a possibilidade de mexer as pernas com à-vontade. Os lugares são cinco, mas já se sabe, é outro o conforto para quatro. Que também não vão experimentar aquela sensação claustrofóbica do tejadilho baixo e do pescoço dobrado. A linha de curvatura do tejadilho é menor do que parece e não cria problemas a ninguém que afine por uma estatura normal.

A bagageira não é um deslumbramento (341 litros), o plano de carga está a altura aceitável e o rebatimento do banco traseiro (60×40 e operável nos ombros do recosto) oferece a modularidade suficiente para resolver aqueles problemas postos pelo transporte de objetos especiais ou o suplemento de carga da viagem de férias de uma família pequena. Está ao nível do que pode esperar-se de um SUV assim.

Um SUV que convence

E a andar?

Pois bem, a minha escolha foi para o 1.0 três cilindros a gasolina, uma opção que tem vindo a ganhar adeptos numa altura em que a dieselmania – atenção, continuo a gostar de guiar automóveis com motor diesel! – começa a perder face ao receio quanto ao futuro do gasóleo, especialmente enquanto combustível para pequenos automóveis.

Adiante…

É uma surpresa descobrir que um “carrinho” destes possa ser tão divertido e tão generoso no comportamento; e generoso, antes de ser boa vontade é mesmo feitio! A caixa de seis velocidades, com as primeiras relações curtas, ajuda ao prazer de condução e quando se trata de andar depressinha garante despacho considerável para um motor de 1.0 litros, é verdade que com 120 cv e binário interessante (172 Nm logo às 1500 rpm). E a direção, muito informativa e direta q.b. contribui para a festa, até por que a frente está muito bem ensinada e não tem propensão para a vontade própria…

A relação entre o conforto e a eficácia da suspensão é um trabalho digno de registo. Se dúvidas houvesse, fica provado que nesta matéria os sul-coreanos nada têm a aprender – aliás, até ganham ralis… O Kauai curva com desembaraço, e quando se lhe pede para mostrar habilidades, naqueles encadeados de curvas mais exigentes, revela notável rigidez e contraria os balanceamentos com naturalidade surpreendente. E nas curvas longas em apoio não treme, até pede mais… Confirmou a primeira impressão: convence!

Uma palavra para a posição de condução, ligeiramente elevada, claro, agradável e fácil de afinar com as regulações do banco, envolvente q.b. e do volante. Ergonomia e visibilidade em bom plano.

O motor é mais audível do que me lembrava, sobretudo nos baixos regimes e na condução citadina. Quando se liga a ignição, pois não há dúvidas, a música é outra, até se nota alguma “rouquidão”; já as vibrações são melhor camufladas. Na estrada habituamo-nos, admitimos que a insonorização podia ser outra, mas, afinal, importa descer à terra: é um carro do segmento B!

Os consumos, como de costume nestes três cilindros, são menos brilhantes do que a capacidade do motor. O melhor que consegui foram 6,2 litros aos 100 em autoestrada, cruise-control nos 120. No percurso de regresso, o inverso, com muito vento e mais subidas, os valores subiram bastante: 6,8. Não esperava a diferença.

No percurso suburbano, Lisboa e arredores em andamento normal, o computador de bordo andou sistematicamente entre os 6,5 e os 6,7. A média geral acumulada no computador de bordo para cerca de 1400 quilómetros e, com certeza, com muitos estilos de condução, era de 6,4 litros/100. Interessante, ainda assim.

Equipamento razoável

O carro que guiei era uma versão Premium, com um nível de equipamento aceitável e imagem marcada pelas jantes de 18 polegadas, grelha e portão traseiro com acabamentos em cromado, faróis de nevoeiro e luzes diurnas em LED. Nas ajudas e no conforto pontificam o ar condicionado automático, chave inteligente com botão de ignição, volante multifunções regulável em altura e profundidade, vidros traseiros escurecidos, ecrã flutuante de 7 polegadas, Bluetooth e reconhecimento de voz, entradas AUX e USB, câmara de auxílio ao estacionamento, sensores de luz e chuva, alerta de fadiga, sistema de manutenção na faixa de rodagem, indicador da pressão dos pneus. Navegação, head-up display e estofos em pele integram a lista de opcionais.

Em termos globais, um SUV agradável de viver, capaz de assegurar prazer na condução, espaçoso e confortável na medida do segmento, convincente em termos de qualidade percebida, menos económico do que se poderia imaginar. De todo o modo, uma referência na capacidade da Hyundai que continua a marcar muitos pontos e, pelos vistos sem problemas, a dar cinco anos de garantia.

FICHA TÉCNICA

Hyundai Kauai 1.0 T-GDI Premium

Motor: 3 cilindros, 998 cc, turbo, injeção

Potência: 120 cv/6000 rpm

Binário máximo: 172 Nm/1500-4000 rpm

Transmissão: manual de 6 velocidades

Aceleração 0-100: 12 s

Velocidade máxima: 185 km/h

Consumos: média – 5,3 L/100

Emissões CO2: 125 g/km

Bagageira: 341/1443 L

Preço: 21 477 euros* (campanha: 149 euros/mês); desde 21 127 euros

*Estofos em pele e pintura metalizada