Faz toda a diferença uma bateria de 64 kWh num automóvel elétrico. Torna o Hyundai Kauai numa oferta de outra dimensão com os seus 482 quilómetros de autonomia, mesmo que o preço se ressinta dessa capacidade: 44 350 euros não é pouco – sem ser muito. Seja como for, para mim, a surpresa foi descobrir um senhor elétrico! Já agora, registe, são 204 cv e 7,6 segundos de 0 a 100…

Continuo a considerar que a opção automóvel elétrico ainda não é para todos, dadas as limitações conhecidas, mas nem vou pelo caminho de alimentar essa discussão para falar do Hyundai Kauai Eletric, o qual consegue mitigar algumas dessas questões, com o recurso a uma bateria até aqui exclusivo de produtos de outro segmento e para um público que ainda pode pagar mais.

Importante, afinal, foi estar ao volante de automóvel capaz não apenas de fazer sentir-me menos stressado quando olhava para os indicadores da carga da bateria e da autonomia e perceber que, sem necessidade de andar a “pisar ovos”, continuava descansado. Sentir-me  num automóvel elétrico capaz de transmitir outra perspetiva sobre esta solução para que nos sentimos empurrados, a maioria ainda sem muita convicção, mesmo havendo a convicção de uma  evolução rápida – e muitos dizem que andará tão depressa quantos estes automóveis conseguem facilmente… Sentir, enfim, a conduzir um produto evoluído a provar aquilo que já sabíamos: a indústria automóvel coreana é mesmo um caso sério.

A Hyundai já nos tinha brindado com uma série de produtos impressivos em matéria de novas soluções de mobilidade – as três versões do Ionic e o Nexo a hidrogénio, depois do pioneiro ix35 Fuel Cell – agora inova com um carro de moda, um SUV que se afirma na solução elétrica também como um produto de nível superior a exemplo das ofertas a gasolina e gasóleo.

Uma bela surpresa este Hyundai Kauai Eletric, antes de mais pela autonomia, que me pareceu longe de ser fantasia, mas também pelas prestações e pelo comportamento. A tecnologia convence e o pacote de equipamento até torna o preço mais atrativo

O Kauai Eletric, ligeiramente maior (1cm) e mais alto (1,5 cm), ainda segue a teoria da imagem para a diferença “tecnológica”: não tem a grelha tradicional (substituída por uma superfície perfurada que integra a porta da tomada de carregamento), solução que permitiu alterar a conceção dos faróis e chegar a uma dianteira bem diferente. É original e não peca pelos excessos futuristas. Recorre ainda a jantes de 17 polegadas mais “fechadas” e tem um para-choques traseiro ondulado que encaixa na moldura das óticas, outra alteração vistosa.

As mudanças, e o rosto é a mais marcante, não descaraterizam o Kauai que mantém os traços de família e a personalidade. Uma imagem bem composta para a opção de considerar que ainda é preciso fazer a diferença na “ostentação” do elétrico.

O interior traz a novidade de uma consola suspensa e com ela um sistema de teclas para operar a transmissão. Passa por um conjunto de quatro interruptores (P/R/N/D/), solução que, a princípio, não se mostra muito prática e requer habituação. A tecnologia é shift-by-wyre, logo a eletrónica a mandar e mais espaço, no caso, sob a consola. Junto fica o travão de parque elétrico.

O resto, além do que conhecemos, é a instrumentação, toda digital, um painel de sete polegadas de alta resolução para mostrar a velocidade, nível da bateria, fluxo de energia e o modo de condução; em função deste (Eco, Comfort ou Sport) a cor do fundo e a informação são adaptadas. No ecrã central tátil de oito polegadas, passa a informação restante, designadamente no que respeita a tudo quanto tem a ver com o sistema elétrico, fluxos de energia, consumos, carga e regeneração da bateria. Obviamente, não falta o resto, desde o bluetooth à navegação, passando pele compatibilidade com os sistemas Android e Apple Car Play .

Construído sobre a mesma plataforma das versões a combustão, com 2,6 metros de distância entre eixos, baterias sobre o piso, o Kauai Eletric continua a proporcionar habitabilidade razoável, mas a bagageira fica-se pelos 322 litros, o mesmo da versão 4×4 mas menos 29 litros do que o 4×2. Ainda é um preço normal a pagar nas soluções elétricas.

Guiei a versão de 204 cv  com a bateria de 64 kWh (existe a opção de 136 cv com bateria de 39,2 Kwh). Em termos dinâmicos, com o centro de gravidade mais baixo e o aumento do peso (1753 quilos) por via das baterias, nem tudo é igual face aos modelos de motor de combustão. Mas a verdade é que os 395 Nm de binário sempre disponíveis e a capacidade de aceleração notável, expressada nos 7,6 segundos de 0 a 100, compensam o mais e provam que este Kauai, com retoques na suspensão, continua a ser muito ágil e revela grande eficácia em curva, respondendo sem dificuldade às ordens de uma direção informativa e direta q.b. Bem agradável e guiar!

Mas quem aposta num carro assim não vai seguramente à procura da máquina, mesmo que possa ter surpresas… Bom rolador, confortável e com aquele pormenor extra do silêncio de marcha, este elétrico faz mais sentido no modo Eco e foi capaz de um consumo de 14,5 kWh num passeio por autoestrada e percursos suburbanos, às velocidades regulamentares. O acumulado de 2572,5 quilómetros e muitas experiências  registava, no computador de bordo, um consumo de 15,7 kWh.

Usei muitas vezes as patilhas do volante que gerem os três graus de regeneração e fiquei convencido de que a prática, sem grandes “sacrifícios”, rentabiliza o sistema e torna mesmo possível uma autonomia próxima da anunciada pela Hyundai, esses notáveis 482 quilómetros (WLTP), autonomia sem paralelo a este nível.

Em termos de equipamento, um pacote invejável: cruise-contriol  inteligente com stop&go, travagem autónoma de emergência com deteção de peões; sistema de acompanhamento da faixa de rodagem, detetor de ângulo morto, alerta de tráfego à retaguarda, sistema de informação de velocidade máxima e máximos automáticos. Além de volante multifunções, ar condicionado automático, head-up display, navegação 3D, câmara de marcha atrás, sistema de som premium Krell, carregador por indução para telemóvel, bancos ventilados e aquecidos à frente.

Uma bela surpresa este Kauai Eletric, antes de mais pela autonomia, que me pareceu longe de ser fantasia, mas também pelas prestações e pelo comportamento. A tecnologia convence e o pacote de equipamento até torna o preço mais atrativo.

O Kawai Eletric é vendido com uma wallbox que permite um carregamento completo em nove horas e meia. Numa tomada doméstica, serão necessárias mais de 17 horas. Num carregador rápido de corrente direta, a Hyundai promete 80 por cento da carga em 54 minutos.

A garantia geral da Hyundai é de cinco anos sem limite de quilómetros e de oito anos ou 200 mil quilómetros para as baterias.

O Kauai Eletric tal qual a Hyundai o promove

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FICHA TÉCNICA

Hyundai Kauai Eletric 64 kWh *

Motor: síncrono de íman permanente

Potência: 204 cv

Binário máximo: 395 Nm

Bateria: polímero de iões de lítio;64 kWh

Transmissão: automática, velocidade única

Aceleração 0-100: 7,6 segundos

Velocidade máxima: 167 km/h

Consumo: média – 14,3 KWh/100 km

Emissões CO2: 0

Autonomia: 482 km (WLTP)

Bagageira: 322/1114 litros

Preço: 44 350 euros

*Candidato ao Essilor Carro do Ano/Troféu Volante de Cristal (Categoria Ecológico do Ano)