Uma relação preço, qualidade, autonomia que o coloca em patamar elevado da oferta faz com o Kia e-Niro deva ser tido em atenção pelos adeptos dos automóveis elétricos, especialmente se gostarem de crossovers  com espaço, boa mala e um nível de conforto apreciável. Um compromisso equilibrado também em termos dinâmicos e prestacionais.

Como todos os elétricos, o e-Niro é agradável de guiar, o silêncio de marcha, que até foi alvo de atenção especial, para que não ganhassem relevo outros ruídos, dá o tom, mas a manobrabilidade de um automóvel que até pesa cerca de 1800 quilos impressiona, com ajuda de uma direção bem “afinada” para este tipo de proposta.

A bateria de 64 kWh, com cerca de 450 quilos, é um dos argumentos de peso do elétrico sul-coreano já que promete uma autonomia de 455 quilómetros (WLTP). Acresce que o motor elétrico debita 204 cv, os quais, associados ao binário imediato de 395 Nm permitem prestações de respeito, sobretudo ao nível da aceleração, 7,8 segundos de 0 a 100, mais importantes do que os 167 km/h em velocidade de ponta, aspeto cada vez menos relevante.

Os sul-coreanos já não precisam de lições para fazer automóveis e no domínio dos elétricos jogam forte. O Kia e-Niro com a bateria de 64 Kwh é prova disso. Faz jus aos 204 cv de potência e consegue  consumos que permitem boa autonomia. E não faltam espaço e conforto

Para explorar esta capacidade existem quatro modos de condução que atuam sobre o próprio binário: Eco, Eco+, Normal e Sport. Em termos de regeneração, em vez da função Break, há patilhas no volante que nos permitem dosear a energia dirigida para a bateria pela desaceleração ou travagem. Curioso que, através das patilhas, podemos mesmo travar o carro (ao estilo do pedal único). A posição intermédia da regulação faz a gestão automática.

Autonomia sempre interessante

Na prática, o que significa tudo isto em termos de consumo? Com algum cuidado e duas pessoas a bordo, consegui uma média de 14,3 kWh num percurso misto (o que vale 447 km de autonomia), consumo que subiu para 17,6 num troço sinuoso e 43 quilómetros de autoestrada a 120 (363 km de autonomia). Números bem interessantes, alcançados em modo Eco+. O modo Sport, é claro, dará cabo de todas as contas. Numa condução despreocupada, registei 18,3 kWh no computador de bordo, o que aponta para cerca de 350 quilómetros de autonomia, número que me parece o mais realista.

No que respeita ao comportamento, a colocação das baterias no pavimento com o respetivo abaixamento do centro de gravidade, permite ao e-Niro resposta interessante. Mas se usarmos o Modo Sport em zona sinuosa e aproveitarmos a capacidade de aceleração respeitável, o ESP vai intervir algumas vezes. Se o piso não for o melhor, vamos dar conta de alguma secura da suspensão, a qual até foi aligeirada face às versões térmicas. Se a segurança nunca está em causa na primeiro situação, na segunda o conforto, apesar de tudo, não é posto em causa, até por o compromisso encontrado conter a inclinação da carroçaria nas transferências de massas mais exigentes. Equilibrado.

A colocação das baterias no piso, se, como escrevemos, favorece o comportamento, por outro, rouba uns milímetros importantes na altura do habitáculo. E, por isso, mesmo que não falte espaço para as pernas, os joelhos acabam por ficar em posição mais elevada, o que significa uma postura menos natural para o passageiro.

Quase igual aos outros e mala maior

Pormenor curioso ainda relacionado com a bateria é o facto de ser a versão elétrica a proporcionar a bagageira mais espaçosa: 451 litros (+24), uma vez que é libertado o espaço do túnel da transmissão e do escape. Com os bancos rebatidos (40×60) a capacidade chega aos 1405 litros.

Com mais 2 cm de comprimento (4,375 m) e 2,5 de altura (1,570 m), distingue-se dos outros Niro pela superfície plástica no lugar da grelha, que mantém o estilo nariz de tigre e contempla a porta da tomada de carregamento, para-choques específicos, alguns frisos azuis – a cor de identificação para os elétricos – e LED diurnos nas entradas de ar laterais, com efeito de ponta de flecha. As jantes são de 17 polegadas em de liga e apresentam desenho específico para reduzir a resistência ao rolamento.

No interior, destaca-se a consola redesenhada, numa solução original, rematada por apêndice suspenso que comporta o seletor de marcha com um grande botão rotativo, que tem ao meio  a posição de Parque e no topo as funções R/N/D. Sistema prático e intuitivo, encaixado entre uma série de comandos, como o seletor do modo de condução e o travão de parque elétrico.

O resto é a natural invasão dos instrumentos digitais, painel frontal (7″) e ecrã central (8″), este integrado numa moldura a meio do tablier. É uma solução conservadora, que passa por um painel decorativo num plástico aveludado em frente do passageiro, toque de jovialidade que quebra um ambiente marcado por plásticos negros a pedirem outra qualidade – frios e pouco dúcteis, ao contrário do revestimento almofadado da parte superior do tablier.

Muito equipamento e boa garantia

Não foi esquecido o sistema de som virtual para dar conta da presença de um automóvel elétrico aos peões mais distraídos e quase nada falta neste e-Niro, designadamente no que respeita à segurança: cruise-control inteligente com stop&go associado a um sistema de condução autónoma de nível 2 (os habituais 15  segundos sem tocar no volante), travagem automática em cidade com aviso de risco de colisão frontal e reconhecimento de peões, radar de ângulo morto, detetor de tráfego cruzado, máximos automáticos com faróis em LED, câmara de marcha atrás, sistema áudio JBL, carregamento de telemóvel por indução. Além de um sistema de infoentretenimento à altura das necessidades de um automóvel elétrico.

Os tempos de carga anunciados são de 5 horas e 50 minutos quando se usa uma wallbox de 11 kw, ou 9 horas no caso da opção de 7,2 kW. Os 80% da capacidade conseguem-se em 54 minutos num carregador rápido (100 kw). Numa tomada normal, o “pleno” exige 29 horas.

Os sul-coreanos já não precisam de lições para fazer automóveis e no domínio dos elétricos jogam forte. O Kia e-Niro com a bateria de 64 Kwh é prova disso mesmo. Faz jus aos 204 cv de potência e consegue resultados de consumo impressivos a permitir boa autonomia. E não faltam espaço e conforto.

A garantia continua a ser de sete anos e abrange a bateria e o motor elétrico.

FICHA TÉCNICA

Kia e-Niro 64 kWh*

Motor: síncrono de ímanes permanentes

Potência: 204 cv/3800-8000 rpm

Binário máximo: 395 Nm/0-3600 rpm)

Bateria: polímero de iões de lítio; 64 kWh (energia); 170 kw (potência); 180 Ah (corrente)

Carregador de bordo: 7,2 KWh

Transmissão: automática, velocidade única

Aceleração 0-100: 7,8 segundos

Velocidade máxima: 167 km/h

Consumo: média – 15,9 kWh/ 100 km

Emissões CO2: 0

Autonomia: 455 km (WLTP)

Dimensões: (C/L/A) – 4 375/1 585/1 560 mm

Bagageira: 451/1405 litros

Peso:  1 791 Kg

Preço: desde 44 500€

*Candidato a Elétrico do Ano nas categorias do Volante de Cristal