Feito para poupar, sem dúvida: 5,8 litros aos 100, quatro pessoas a bordo, cerca de 250 quilómetros percorridos e mais 540 de autonomia, convenhamos, não é mau para um  crossover com 4,35 metros e espaço para uma família. É a imagem que sobressai do Kia Niro HEV, ainda por cima preço razoável (desde 26 370 euros) e garantias sem igual (sete anos).

Reconheço que o Niro, sendo fotogénico, não é dos crossovers mais vistosos, tão pouco um dos Kia mais conseguidos numa geração de produtos que, esteticamente, faz inveja a muita concorrência. Mas isso é gosto pessoal, discutível, que não invalida a virtude da sobriedade e as proporções certas para um estilo com muitos adeptos. De todo o modo, um híbrido que podia ser um vulgar modelo de combustão, sem aquelas modernices para identificarem outras tecnologias e a opção especial do condutor.

Uma opção a considerar por quem quer um familiar espaçoso e económico por preço muito competitivo e que não tem grandes preocupações prestacionais. Mas num híbrido, afinal, importante mesmo é a economia, num automóvel a gasolina ambientalmente mais correto

A isto acresce o espaço, habitabilidade em bom plano, um daqueles carros em que arriscamos o transporte de cinco pessoas com mais naturalidade, ainda que quem for ao meio, atrás, não conte com um recosto cómodo, por via da dureza da superfície que serve o apoio de braços. Para isso, contribui o facto de a consola nem ser muito intrusiva e o túnel central quase passar despercebido de tão baixa ser a altura e pouca a largura.

Bagageira pequena

No que respeita a bagageira, continua a haver um preço a pagar: 347 litros de capacidade é pouco num automóvel destas dimensões e estilo. Ainda por cima o plano de carga é elevado e  grande o desnível para o fundo, que esconde um pneu sobressalente. O rebatimento do banco faz-se na proporção 60×40 e esta modularidade permite minimizar alguns problemas de transporte de carga que pode chegar aos 1425 litros. Os preços da solução híbrida e da presença da bateria, neste caso colocada sob os bancos traseiros.

O ambiente a bordo passa por simpático, sem surpreender, alinha com a solução mais cinzenta da Kia, design do tipo conservador, muito limpo, é verdade.  Os plástico podiam ser mais dúcteis (existem na casa), mas a escolha de materiais é criteriosa – elementos em pele sintética pespontada, superfícies em piano black, elementos em cinzento mate – e resulta numa imagem de qualidade percebida razoável. Sobretudo quando se atende ao preço e à tecnologia que estamos a pagar.

Em termos de ergonomia, pouco a dizer, além da minha embirração com o pedal do travão de estacionamento – o travão de mão no pé… Sei que os americanos gostam, que é a solução dos campeões do segmento, mas um travão elétrico fazia todo o sentido.

Aquilo que mais conta, no entanto, é a solução híbrida, a mesma já usada no Óptima com base no motor 1.6 e num propulsor elétrico síncrono permanente, alimentado por uma bateria de iões de lítio, que asseguram a potência combinada de 140 cv e o binário de 265 Nm. Ponto forte da receita, a caixa automática de dupla embraiagem com seis velocidades, bastante mais agradável do que as CVT habitualmente utilizadas nestas soluções. Mais agradável porque nos poupa os ouvidos e aquela sensação de arrasto na aceleração e eficaz q.b. para um desempenho que não compromete. Esqueça, porém, a utilização em modo manual. A resposta é vulgar e depressa vai esquecer a opção que tem pouca serventia! A filosofia do Niro, aliás, nem puxa para isso!  E quando se lhe pede aquilo para que não foi pensado, os consumos disparam e a resposta não passa da vulgaridade.

Máquina vulgar

Enquanto máquina, a receita, na verdade, resulta em nada que surpreenda, vulgar, vulgar mesmo. Aliás, as prestações falam por si: 11,5 segundos de 0 a 100 e 162 km/h em velocidade de ponta. São 1900 quilos de peso bruto… Será o automóvel suficiente para quem já perdeu a mania de lutar pelo “pole” nos semáforos e se deixa embalar por uma condução muito diferente, a que este Kia convida e à qual nos habituamos, para a qual somos mesmo quase empurrados pelo desafio de gastar menos. Mas recupera com honestidade e a caixa, neste particular, nem se sente…

Como todos os híbridos, o arranque faz-se em modo elétrico, que também propulsiona o Niro nas acelerações suaves. Neste caso, não existe o botão para “forçar” o modo elétrico. É o sistema que gere todo o funcionamento, que podemos acompanhar através de informação muito simples no ecrã central e no painel de instrumentos, no qual falta o conta-rotações. O grafismo é também ele discreto, simples. Aliás, a informação podia ser mais completa, no que respeita a médias e utilização em modo elétrico…

… De qualquer modo, é assim que, calmamente, cruise-control ligado e afinado para as velocidades regulamentares damos connosco a fazer consumos, com toda a naturalidade, na casa dos 5,5/5,7 em autoestrada. E isto com um nível de conforto considerável, em resultado de um compromisso de suspensão que não penaliza a eficácia em curva nem torna especialmente sensíveis as transferências de massa naquelas zonas mais sinuosas ou nas longas curvas em apoio feitas mais depressa. Quem viaja atrás, pelo menos, não se queixa…

A direção ajuda, muito equilibrada na assistência, informativa q.b.para este tipo de automóvel e os travões, mesmo progressivos, contribuem para a empatia que se estabelece com a condução, bem sentados, em posição elevada, claro, volante multifunções de dimensões e pega ajustados.

Nesta experiência guiei a versão TX, a mais bem equipada do Niro, que disponibiliza pacote invejável de equipamento. A saber, designadamente: travagem de emergência, sistema de manutenção na faixa de rodagem, assistência ao arranque em subida, volante multifunções em pele, cruise-control, ar condicionado automático com ventilação traseira, bancos em tecido e pele (o condutor com regulações elétricas), câmara de marcha atrás e sensores de estacionamento, sensores de luz, chuva e pressão dos pneus, sistema de chave inteligente  e botão start, ecrã tátil de sete polegadas com navegação, rádio e Bluetooth, luzes diurnas em LED, ligação USB e Aux, barras no tejadilho, antena barbatana de tubarão, vidros escurecidos, jantes de 18 polegadas.

Enfim, uma opção a considerar por quem quer um familiar espaçoso e económico por preço muito competitivo e que não tem grandes preocupações prestacionais. Mas num híbrido, afinal, importante mesmo é a economia num automóvel a gasolina e ambientalmente mais correto. E nesse aspecto, como noutros, o Niro cumpre!

FICHA TÉCNICA

Kia Niro HEV TX*

Motor: 1580 cc,  injeção direta, start/stop

Potência: 105 cv/5700 rpm

Binário máximo: 147 Nm/4000 rpm

Motor elétrico: síncrono, permanente

Potência: 44 cv/1798-2500 rpm

Binário máximo: 170 Nm/0-1798 rpm

Bateria: polímeros de iões de lítio

Voltagem: 240 V

Capacidade: 1,56 kWh

Performance combinada

Potência: 141 cv/6000 rpm

Binário máximo: 265 Nm/2330 rpm

Transmissão: caixa automática de seis velocidades com dupla embraiagem

Aceleração 0-100: 11,5 segundos

Velocidade máxima: 162 km/h  (120 km/ em modo elétrico)

Consumos: média – 4,4 L/100 km; estrada – 4,5; urbano – 4,4

Emissões CO2: 100 g/km (jantes 18”)

Bagageira: 357/1425 litros

Preço: 28 370 euros; desde 26 370 (valores com campanha promocional de 4400 euros)

*Este Kia Niro HEV TX é concorrente aos Global Mobi Awards