Na imponente parada de desportivos da “parabólica” do Museu da Mercedes, em Estugarda, é impossível não fazer uma paragem prolongada em frente ao W 25 que abre a saga dos Flechas de Prata. Aquele Fórmula 1 ainda é impressionante e pensar que se pilotavam automóveis assim a 280 Km/h, em 1934, até arrepia.
A magia dos Flechas de Prata faz parte da história do desporto automóvel, nasceu em meados de 1930, com von Brauchtisch, Caracciola, Fagioli, Lang e, depois da II Guerra, continuou a fazer brilhar a estrela da Mercedes, envolvendo pilotos como o supercampeão argentino Juan Manual Fangio e o famoso eterno segundo que foi (sir) Stirling Moss.
E para começar logo uma estória daquelas que parecem saídas de um conto. A designação Flechas de Prata resulta daquilo que em português se chama um desenrrascanço. Estávamos em 1934 e apareciam as primeiras regulamentações na Fórmula 1 que, desde logo, impunham um peso máximo de 750 quilos para o carro em vazio e sem pneus. O Mercedes-Benz já tinha falhado, devido a problemas técnicos, a primeira corrida do campeonato, em Berlim, e a estreia ficou adiada para o mítico Nürburgring. E na véspera, o rigor alemão ía por água abaixo: o carro acusava mais um quilo na balança!
Alfred Neubaur, o homem do chapéu e da gabardina, fato e gravata nas boxes, mítico chefe da equipa, terá dito, segundo reza a história, que a situação merecia medidas extraordinárias. E daí, vai de decapar o carro que, numa noite, perdeu o branco tradicional dos carros de competição da Mercedes para surgir na cor baça da chapa e chegar à balança com o peso exato!

O W 25 de 1934, que Fagioli pilotou, é um regalo para a vista, na parabólica do museu de Estugarda – ainda impressiona!

Para tudo ser ainda mais à medida do alimentar da lenda, Manfred von Brauchitsch levou a plateia alemã ao rubro, no dia seguinte, em Nürburgring, e saiu vitorioso na corrida ADAC Eifel. Era uma entrada em cena apoteótica e logo naquele que continua a ser considerado um dos mais exigentes circuitos do mundo – e ainda é aproveitado por muitas marcas quando querem mostrar resultados sonantes com novos modelos.

Um dos exemplares mais fantásticos surgiu em 1937, designava-se Mercedes-Benz W 25 Avus Stremlined Racing Car e foi produzido para uma corrida “sem limites” na Avus Track de Berlim (…),  debitava 570 cv a 5800 rpm e chegava aos 370 km/h!

O Mercedes Benz W 25 que foi o primeiro Flecha de Prata tinha um motor de oito cilindros, com 3364 cc, debitava 354 cv a 5800 rpm e atingia os 280 km/h em velocidade de ponta. Era o suficiente para, no ano de estreia, a estrela das três pontas ficar associada a mais vitórias, designadamente noutro circuito famoso, Monza, e a uma “dobradinha” em S. Sebastian, no Grande Prémio de Espanha.
No ano seguinte, outro W 25, com motor mais potente, venceu nove das 11 corridas do campeonato, Rudolf Caracciola recebeu seis vezes a coroa de louros e tornou-se campeão da Europa, aquilo que hoje seria Campeão Mundial de Condutores.
O W 25 não conheceu sempre sucessos tão esmagadores, mas não parou de evoluir até à Guerra. Em 1937, por exemplo, usava um motor de oito cilindros de 5663 cc com a potência de 592 cv e capaz de chegar aos 320 km/h. Nas motorizações, que acompanharam sempre desenvolvimentos na carroçaria, para melhorar aerodinâmica e refrigeração, deve incluir-se também, em 1938, um V12 com 2962 cc, 453 cv a 8000 rpm, que fazia 285 km/h em velocidade de ponta.
Um dos exemplares mais fantásticos da família surgiu, no entanto, em 1937, designava-se Mercedes-Benz W 25 Avus Stremlined Racing Car. Tratava-se de um protótipo e não de um Fórmula 1, e foi produzido propositadamente para uma corrida “sem limites” na Avus Track de Berlim, circuito que integrava uma parabólica com 43 graus de inclinação e mais de 13 metros de largura. O motor era um V12 com 557 cc, debitava 570 cv a 5800 rpm e chegava aos 370 km/h! Nessa corrida, Hermann Lang conseguiu para a Mercedes um recorde que durou até 1958, a média de 261.5 km/h …
Entre as diferentes configurações apresentadas, logo em 1934 chegou mesmo a haver uma versão cabinada, que Caracciola pilotou para bater vários recordes e à qual chamava o seu sedan de corrida… Excluindo esta variação, o W25 nunca deixou de ser imponente. Fica provado quando se admira o modelo que está no museu de Estugarda, unidade de 1934 conduzida por Luigi Fagioli ao 2º lugar em Nürburgring – é um regalo para a vista!

No vídeo que aqui pode ver, Caracciola é a vedeta numa sequência de imagens que dá conta dos “impossíveis” que os pilotos dos anos 30 realizavam ao volante dos Flechas de Prata e dos outros.

(Fonte: Legend&Collection – Mercedes-Benz Museum)