A carrinha Mazda 6 é um daqueles automóveis de que se gosta mas já não apaixona. Turbodiesel 2.2 de 175 cv é agradável de guiar, tem boas prestações, inspira confiança, oferece espaço e boa modularidade. Não é muito poupada e, em Portugal, a cilindrada penaliza o preço e rouba-lhe capacidade concorrencial. Talvez daí o amargo de boca para um carro bem pensado e bem construído. Em fase de adeus…

O Mazda 6 nunca parou de evoluir e é um dos símbolos da tecnologia Skyactiv, conceito de construção que, sem dúvida, dá aos automóveis do construtor japonês qualquer coisa de diferente.

No caso desta carrinha, com caixa manual de seis velocidades, faz dela um estradista de bom nível. O apuro do chassis é uma realidade e a estreia do G-Vectoring empresta-lhe grandes qualidades a curvar. Trata-se de um sistema que ajusta o funcionamento do motor em função do movimento do volante, gera assim desaceleração na entrada em curva e transfere a carga para as rodas dianteiras; recupera quando o ângulo do volante é constante, reforçando então a estabilidade pela passagem da massa para as rodas traseiras. Nos encadeados de curvas, o comportamento convence, mais ainda por se tratar de uma carrinha – mesmo que esta  seja mais curta do que a berlina da gama…

Um bom produto mas que não esconde as lacunas próprias do modelo em fim de vida. Vamos ver no Salão de Genève, em Março, a nova Mazda 6 que ainda este ano poderá chegar a Portugal

As coisas acabam por passar-se mais depressa do que julgamos e só há consciência disso quando se olha o velocímetro. E a surpresa tem até a ver com o facto de os 175 cv e o binário considerável, 420 Nm, nem serem sinónimo de uma carrinha de feição desportiva, pesem embora as prestações interessantes – 7,9 segundos de 0 a 100 e 223 km/h em velocidade de ponta. Apesar disto, se o arranque é vivo, a recuperação está longe de impressionar. Digamos que a Mazda 6 cumpre sem se revelar explosiva, não obstante contar com um apurado sistema de sobrealimentação que passa por um turbo para as baixas rotações e outro maior quando é pedido mais ao motor. Terá mais coração do que alma.

O motor também se revela algo sonoro, sobretudo a baixas rotações, mantendo depois uma audibilidade que nos diz, inequivocamente, estramos a guiar um diesel. Que, em matéria de consumos, ultrapassa muito as promessas. Consegui 6,5 litros aos 100 numa viagem de 275 quilómetros, metade dos quais em autoestrada ao ritmo do cruise control adaptativo, programado para velocidade normal. Num percurso suburbano o computador registou 7,2 litros. No final de 412 quilómetros, com alguma condução em cidade e uma fase para os indispensáveis “exageros”, a contabilidade ficou pelos 7 litros de média. Números vulgares, mas importa atender à capacidade e à potência do motor.

Filosofia de estilo muito especial

No que respeita ao estilo da Mazda 6 é conhecido, evolução de uma filosofia transversal à marca, formas vincadas, proporções equilibradas e com rosto marcante. Diferente, personalizado, moderno q.b. O interior destaca-se pela categoria da construção e dos materiais, no caso desta versão Excellence com a pele usada em profusão, no tablier, nos forros, consola incluída, o que cria um ambiente de conforto e nível superior. A simplicidade do design é um reforço da nota de sobriedade que pontifica no habitáculo espaçoso – desafogo à frente e atrás – e com um nível de conforto à altura.

A posição de condução é cómoda e fácil e “afinar”, o volante multifunções tem as medidas certas, a ergonomia dispensa comentários, até porque são poucos os interruptores e as teclas e não falta o comando para as cinco funções do ecrã – Aplicações, Entretenimento, Telefone, Navegação, Definições – no grande botão rotativo integrado na consola. Já não faz sentido é num carro destes um ecrã de apenas 7 polegadas.

A bagageira tem capacidade razoável, 522 litros. Vai até aos 1648 e a modularidade é valorizada pelo prático sistema de puxadores embutidos nas paredes da mala que permite operar facilmente o rebatimento dos bancos traseiros (60×40) e obter uma plataforma praticamente plana. O plano de carga é acessível e está alinhado com o fundo. A chapeleira funciona também agregada ao portão, o que poupa, pelo menos, ter de a puxar… Até às costas do dos bancos dianteiros há 1,87 metros, o que permite transportar objetos bem compridos.

A versão que guiei, topo de gama, não poupa no equipamento e estava ainda enriquecida por vários extras, que atiravam o preço para a casa dos 47 143 euros. LED diurnos e as luzes automáticas na mesma tecnologia, active driving display por projeção em lâmina retrátil, detetor de ângulo morto, ecrã de 7 polegadas, câmara traseira são de série, mas há coisas a pagar como os bancos em pele e com comando elétrico à frente, radar cruise control, navegação e teto de abrir elétrico. Esta versão contava ainda com o i-Eloop, sistema de regeneração  da energia das travagens, que melhora o consumo em cidade, sistema áudio Bose e jantes de 19 polegadas. Não é pouco e acrescenta mais de 10 000 euros ao preço de uma versão base!

Enfim, um bom produto mas que não esconde as lacunas próprias do modelo em fim de vida. Vamos ver no Salão de Genève, em Março, a nova Mazda 6 que ainda este ano poderá chegar ao mercado português.

FICHA TÉCNICA

Mazda 6 Wagon Excellence 175 cv

Motor: 2191 cc, turbodiesel, injeção direta, intercooler, i-stop

Potência: 175 cv/4500 rpm

Binário máximo: 420 Nm/2000 rpm

Transmissão: caixa manual de 6 velocidades

Aceleração 0-100: 7,9 s

Velocidade máxima: 223 km/h

Consumos: média – 4,5 litros/100; estrada – 3,9; urbano – 5,5

Emissões CO2: 119 g/km

Bagageira: 522/1648 litros

Preço: versão ensaiada – 47 143 euros; desde 36 850 euros