O inesperado padrão de conforto é a surpresa no novo Mégane RS. Talvez uma resposta à novidade das cinco portas que lhe abrem outras perspetivas de utilização. Tudo isto leva a que possa falar-se de um desportivo mais civilizado. Sem dúvida! Mas a este nível o que conta é a alma – e essa, este Renault tem de sobra. Por isso, ao volante, um desassossego – ele gosta é de andar e… depressa.

O “downgrading”  do motor não penalizou o Mégane RS. A Renault continua a fazer muito bem este género de propostas e, no caso, era uma referência que estava em causa. Bloco 1.8 (com origem na coreana Samsung) em vez dos 2.0 litros, agora 280 cv para 390 Nm de binário, mais peso (acréscimo de 27 quilos e outros 23 para a caixa automática) e as quatro rodas direcionais, travões dignos do nome (maxilas Brembo e discos maiores), e aí está um automóvel que proporciona enriquecedora experiência de condução e uma envolvência viciante. Difícil não gostar!

Claro que não é discreto, desde logo visto de traseira com o impressionante defletor (projetado para aumentar a “downforce”) que encaixa o escape, mas também pelo dinamismo da frente, na qual pontificam, orgulhoso, um enorme losango a identificar a marca (nem era preciso…), e a expressão dos faróis, completados pelos três cubos (até sugerem movimento) nas falsas entradas de ar. Vias mais largas, suspensão rebaixada 5 mm face ao GT, jantes de 18 polegadas (podem ser de 19”), é um carro com uma postura em estrada adequada à sua natureza e espelho de capacidade. Parece agarrado à estrada.

Um desportivo bem feito e bem vestido, muito capaz, prestações e comportamento convincentes e que até oferece um nível de conforto muito acima do esperado. Além disso, mais versátil com cinco portas, bagageira honesta e um preço que pode obrigar muita gente a fazer contas…

Os bancos desportivos fazem a diferença para o GT, os revestimentos em alcantara e um curioso acabamento em tecido nas portas a simular a fibra de carbono dão outro toque na qualidade e compõem um ambiente, no mínimo, adequado ao desportivo, ao qual nem falta a prevalência do vermelho, na instrumentação e noutros detalhes, desde o pesponto dos acabamentos à luz ambiente nas portas. Simpático, ainda por cima porque quem se senta atrás, partindo do princípio de que serão, no máximo, duas pessoas, vai falar de um nível de conforto além do esperado. A adoção de amortecedores com quatro batentes hidraúlicos e uma afinação mais suave da suspensão contribui, seguramente, para este comportamento.

Receção com batida cardíaca

Tudo isto se esquece quando abrimos a porta e somos recebidos pelo som de duas batidas cardíacas, acompanhadas pelo despertar do ecrã central. Sorri, mas a graça tem a ver com tudo quanto nos espera uma vez o motor a trabalhar, momento que se anuncia com aquele som cavo, trabalhado com sintetizador (desligável), associado às máquinas.

O Megane RS que guiei, bem sentado, contava com a caixa EDC, o mesmo que dizer transmissão automática de dupla embraiagem com seis velocidades e patilhas fixas atrás do volante, solução aparentemente menos prática, mas cujo uso me pareceu ser de fácil habituação. Para compor a proposta, contempla o Multi-Sense a permitir escolher entre cinco modos de condução:  Comfort e Normal, para um quotidiano descansado; Sport ou Race, este incluindo o Launch Control, para outro empenhamento e mais adrenalina. Não falta a escolha Perso, para adequar todos os parâmetros à medida.

Como é natural, é nos modos Sport e Race que o desportivo da Renault gosta mais de se exprimir. E se pensa que a caixa é para colocar na posição manual, digo-lhe que poupei trabalho sem perder eficácia mantendo o D engrenado. Ao som de uma música em crescendo, impressionante coral de baixos, o RS embala, naturalmente, para números no velocímetro que nos fazem imaginar polícias e radares a cada metro. E quando chega a altura de curvar, depois de a travagem revelar uma mordacidade exemplar, o resto é uma resposta muito impressiva e convincente, balanço para a dúvida sobre se até nem íamos devagar…

Uma festa ao volante

No modo Race, sem ajudas eletrónicas, com um acelerador mais sensível e direção ainda mais direta, e até a possibilidade de recorrer ao Launch-Control, para um arranque radical, beneficiamos ainda do Multi-Change Donw, através do qual, mantendo premida a patilha que reduz as velocidades da caixa, e sem qualquer risco de sobre-regime do motor, o sistema assume a relação ideal. E assim se aborda a curva seguinte de forma confiante e em segurança. Interessante e eficaz!

Nesta festa em que nem  faltam os “rateres”, para ajudar a outros níveis de adrenalina,  o Megane RS deixa-se inscrever facilmente em curva, a frente respeita as ordens e a potência fica no chão. E quando, nas situações de maior exigência a traseira se solta mais, o desportivo francês não perde a compostura e revela uma capacidade assinalável. Para isso, o 4Control dá uma ajuda, reduzindo em dez por cento o adornamento da carroçaria. O sistema vira as quatro rodas traseiras (2,7 graus) no sentido inverso das dianteiras, até aos 60 km/h, e depois o movimento é no mesmo sentido (variação de apenas 1 grau). No modo Race o limite são os 100 km/h.

A confiança é grande, mas a capacidade do RS, quando se eleva a parada, não deixa de impor respeito, porque a sensação é de que os limites se encontram a níveis para os quais  o condutor deve assumir a pilotagem. Daí, a opção Race não ser, digo eu (…) para todos os dias. No modo Sport, este Renault já oferece o suficiente para uma condução empenhada e usar o RS Monitor (250 euros), o sistema de monitorização de dados (opcional) que leva ao ecrã central uma série de informações sobre aceleração, travagem e até do sistema 4Control. Corre tudo a par com sistema R-Link 2, o qual, para mim, continua a não ser especialmente intuitivo.

Em “modo de passeio” 9,7 aos 100

Nos modos civilizados, quatro pessoas a bordo e ritmo de passeio para o tal simples desportivo de cinco portas que este Megane também pode ser, consegui uma média de 9,7 litros aos 100 e, para um andamento mais vivo, sem exageros, entrei na casa dos dois dígitos: 10,6. Números que, com certeza, pouco ou nada dirão a quem se decidir comprar um Mégane RS. É contrassenso ter um carro destes se não houver a possibilidade de, pelo menos de quando em vez, lhe explorar o rendimento. Ele foi feito para acelerar e até convida a andar depressa tal a naturalidade com que devora rotações, trava e põe a potência no chão.

Um desportivo bem feito e bem vestido, muito capaz, prestações e comportamento convincentes e que até oferece um nível de conforto muito acima do esperado. Além disso, mais versátil com cinco portas, bagageira honesta e um preço que pode obrigar muita gente a fazer contas…

Em termos de equipamento devem registar-se os faróis Full-LED, bancos desportivos com apoio de cabeça integrado, ar condicionado automático bizona, sensores de chuva e luz, alertas de excesso de velocidade e de transposição de faixa, travão de estacionamento elétrico, head-up display, cruise-control e limitador de velocidade, ecrã tátil de 8,7 polegadas com navegação e ligação à internet.

No final do ano chegam as versões CUP, com suspensão mais rígida e autoblocante, e o Trophy, a debitar 300 cv.

FICHA TÉCNICA

Megane RS 280 EDC

Motor: 1798 cc, turbo,  stop/start, recuperação e energia na travagem

Potência: 280cv/6000 rpm

Binário máximo: 390 Nm/2400-4800 rpm

Transmissão: caixa automática de dupla embraiagem com eis velocidades

Aceleração 0-100: 5,8 segundos

Velocidade máxima: 250 km/h (limitada)

Consumos: média – 6,8 litros/100; estrada – 6; urbano –8,4

Emissões CO2: 155 g/km

Bagageira: 384/1247 litros

Preço: 40 480 euros (versão ensaiada); desde 38 780 euros