Já imaginou o que é circular numa autoestrada a 432,7 km/h? Qualquer coisa como voar baixinho, mesmo com o trânsito cortado… Foi o que conseguiu Rudolf Caracciola ao volante de um Mercedes, vai agora fazer 80 anos! E a marca só foi superada em Novembro passado…

A febre dos recordes de velocidade está ligada aos anos de ouro do automóvel e, na Alemanha, motivou competição acesa entre a Mercedes e a Auto Union (precursora da Audi). Havia até, nos anos 30, a Semana dos Recordes!

Rudolf Caracciola era o piloto dos grandes desafios de velocidade na Mercedes, Bernd Rosemeyer a figura da Auto Union. Ambos competiam no circuito de Grandes Prémios que levou à Fórmula 1.

Em 28 de Janeiro de 1938, o Mercedes-Benz W 125 de 12 cilindros, na versão chamada “record car”, estava pronto para o desafio. Era o desenvolvimento de um protótipo de aerodinâmica muito apurada  (Cd 0.157) que já estabelecera vários máximos de velocidade. O motor tinha 5.5 litros e debitava 736 cv a 5800 rpm. Entre as curiosidades, pode referir-se que o arrefecimento era garantido por gelo seco, uma vez que as duas entradas de ar dianteiras tinham de ser muito pequenas.

Palco do desafio, a autoestrada Franfurt-Darsmstadt, naturalmente fechada ao trânsito. Caracciola conseguiu atingir uns incríveis 432,7 km/h! Rosemeyer tentou fazer melhor, ainda no mesmo dia, apesar de as condições atmosféricas, marcadas por muito vento, não o recomendarem. Despistou-se e morreu.

Esta marca, a crer nos registos, nem todos fiáveis, só foi superada, no ano passado, por um Koenigsess Agera RS. Com o sueco Niklas Lilja ao volante, numa estrada fechada no deserto do Nevada, nos Estados Unidos, conseguiu  457,5 km/h, ajudado pelo vento e também ligeira inclinação – resultado ainda sujeito a homologação.

A diferença é que este Koenigsess Agera RS, equipado com um V8 biturbo de 5.0 litros e 1360 cv de potência, figura, 80 anos depois, na lista dos carros de série. A Buggati, ainfa hoje senhora de outras máquinas fantásticas, já prometeu melhor e anunciou para breve 498 km/h. Aguardemos.

O Mercedes-Benz T 80 Record Car, que deveria atingir os 600 km/h e tornar-se o automóvel mais rápido do mundo, nunca provou se era capaz disso. Tinha um V12 com 44,522 cc (!) que debitava 3000 cv a 3200 rpm

Um ano após o recorde de Caracciola, essa febre da velocidade que tem envolvido marcas, nomes para a história, custou muitas vidas (Donald Campbell e John Cobb, entre outros)  e, regra geral, aparece relacionada com o célebre Salt Lake, em Bonneville, nos Estados Unidos, agitava a Mercedes e, especialmente, o piloto Hans Stuck, outro dos apaixonados que tinha o sonho de tornar-se o homem mais rápido sobre a terra. Para isso, tinha concretizado o plano de contratar Ferdinand Porsche, que já fora engenheiro-chefe na Mercedes, nos anos 20.

Estávamos em 1938, e o plano, bem gizado, passava por, com o apoio do ministro da aviação do III Reich (houve carros com a cruz suástica pintada), que forneceria dois motores de avião produzidos pela Mercedes, desenvolver um protótipo capaz de bater o recorde mundial de velocidade. A preparação sofreu um revés quando os americanos George Eyston e John Cobb, em acesa competição, conseguiram, no famoso lago salgado, marcas que furavam as contas de Ferdinand Porsche…

Os alemães não desistiram, recorreram a um novo motor de avião, ainda mais potente (DB 603,) e tinham tudo preparado para atacar o recorde no início de 1940. Antes disso, veio a guerra… e o fim do sonho de Hans Stuck.

O Mercedes-Benz T 80 Record Car, que deveria atingir os 600 km/h e tornar-se o automóvel mais rápido do mundo nunca provou se era capaz disso. Tinha um V12 com 44,522 cc (!) que debitava 3000 cv a 3200 rpm.

Estes dois rapidíssimos Mercedes estão no museu de Estugarda, ao lado de outros protótipos que estabeleceram máximos diversos, designadamente no campo dos consumos.

A título de curiosidade, registe-se que a velocidade máxima em terra foi alcançada pelo Thrust 2, veiculo alimentado por dias turbinas a jacto da Rolls Royce (110 000 cv), que, tripulado pelo britânico Andy Green (piloto da Royal Air Force), atingiu os 1227,985 km/h, no deserto do Nevada, em Outubro de 1997. Mais parecido com um foguetão do que com um automóvel, mede 16,5 metros e pesa mais de 10,6 toneladas.

(Fonte: Legend & Collection/Mercedes-Benz Museum)