O presidente do Grupo PSA, Carlos Tavares, está preocupado com o futuro dos automóveis elétricos

Carlos Tavares, o português que preside ao Grupo PSA, é uma voz avisada no concerto da indústria automóvel. Defenderá interesses próprios, com certeza, a exemplo do que fazem os seus parceiros. E os outros que, estando à margem, influenciam e pretendem redirecionar o futuro de um dos mais importantes setores da economia mundial. Mas poucos podem ficar insensíveis às suas declarações, na entrevista concedida a Florence Lagarde, publicada em Autoactu.com, e na qual, a propósito da corrida aos automóveis elétricos, diz que “o mundo está louco”.
O patrão daquele que se tornou no maior grupo automóvel francês (Peugeot, Citroën, DS e agora também Opel), sustenta que, na sequência do chamado “Dieselgate”, os governos assumiram posições cada vez mais radicais que vieram revolucionar a regulamentação do setor.
“Estamos próximos de evoluir para um mundo onde nos apontam a direção do veículo elétrico”, e essa situação, diz Carlos Tavares, acabará por se virar contra os próprios cidadãos.

“Toda esta agitação, todo este caos vai virar-se contra nós, porque, levados pela emoção, vamos tomar más decisões, pouco refletidas e sem possibilidades de recuo”

O ponto de vista é sustentado em evidências que têm passado à margem das grandes discussões quando a tudo se sobrepõe a condenação das motorizações térmicas…
“Toda esta agitação, todo este caos vai virar-se contra nós, porque, levados pela emoção, vamos tomar más decisões, pouco refletidas e sem possibilidades de recuo”, diz ele na entrevista, aqui citada com a devida vénia.
Carlos Tavares afirma que a Peugeot tem o seu caminho traçado: metade da gama terá motorização elétrica em 2020 e a relação subirá para os 80 por cento em 2023. E acrescenta não estar preocupado enquanto dirigente do setor, mas “inquieto enquanto cidadão”.
E vêm então as perguntas sem resposta e o aviso que ninguém ouve:
“Quem trata a questão da mobilidade de modo global? Como vamos produzir mais energia elétrica limpa? Como fazer para que a pegada de carbono derivada da fabricação de baterias para os automóveis não se torne num desastre ecológico? Como proceder para que a reciclagem destas baterias não seja também um desastre ecológico? Onde vamos buscar as matérias primas raras para produzir as células e apurar a química de baterias mais duradouras? Quem está em condições de levantar a questão de uma forma globalizada do ponto de vista societal para atender ao conjunto destes parâmetros? Qual a resposta do grupo PSA? Não a posso dar, pois enquanto construtor auitomóvel não sou um ator credível!”
O homem forte do Grupo PSA lembra que haverá outras consequências sanitárias ainda nem tidas em conta e sublinha que a abolição dos veículos térmicos terá consequências na economia europeia.
E aquilo que prevê é simples: depois de um século a correrem atrás da tecnologia do motor de combustão e a pagarem ao Ocidente, os chineses estão a assumir a liderança nos veículos elétricos e a preparem-se para inverter a situação…
Carlos Tavares não está sozinho na defesa destas ideias. E quem o acompanha nem são necessariamente apenas os seus parceiros. Mas esse lóbi noutros tempos poderosíssimo está a perder importância para grupos de bem falantes, porventura novos lóbis, que, na defesa de ideais com certeza muito nobres, esquecem-se de contar a história toda.
É preciso fazer alguma coisa para travar a situação atual, estamos todos de acordo, mas a corrida desenfreada ao automóvel elétrico não pode impedir que continuem a procurar-se alternativas e, muito menos, que se faça uma discussão muito séria sobre esta matéria nos grandes areópagos internacionais.
O problema é que hoje há muita gente a saber de tudo e o mimetismo tornou-se endémico de tanto nos venderam a melhor ideia, o princípio certo ou politicamente correto… O mundo, de facto, está louco, como diz Carlos Tavares.